Na época colonial, no tempo do “contrato”, até onde me contaram, muitos homens do Sul de Angola iam trabalhar muito duramente nas minas da África do Sul ou da Rodésia e voltavam distintos no meio da pobreza geral. Eles sofriam, alguns não voltavam, sacrifi cavam a família com o abandono, mas no seu regresso ostentavam bens materiais que a maioria não tinha.
Visto de hoje, o fi lme pode parecer risível, mas naquela altura os padrões e as medidas eram outros. O contatado das minas voltava rico na sua mala tem gira-discos, numa bicicleta e numa máquina de costura. Estes bens faziam a diferença numa aldeia angolana e muitas vezes podiam ser motivo de choque com o chefe do posto, o representante do Estado colonial. Nos dias de hoje, um telemóvel, uma motorizada e um gerador são as novas divisas de quem volta para a aldeia depois de trabalho muitas vezes duro numa obra qualquer das que se fazem no país. Felizmente, por causa de um milagre asiático as motorizadas nos invadiram a vida no campo e nas cidades.
Quem anda pelo país e se cruza com milhares de motorizadas nas praças, nas aldeias, nas ruas da cidade percebe o quão vital é a motorizada para a maior parte dos angolanos. O Estado, certamente que não tem delas registo numérico, mas isso não importa, elas fazem a economia (começando pelo combustível consumido), salvam vidas e dão cidadania a milhões, ainda que guiadas sem licença de sem instrução.