Polícia confirma 49 mortos nos ataques a mesquitas em Christchurch

Polícia confirma 49 mortos nos ataques a mesquitas em Christchurch

Quarenta e nove pessoas morreram e pelo menos 48 ficaram feridas num ataque terrorista a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, ontem, Sextafeira, 15, havendo já quatro pessoas detidas, três homens e uma mulher. O momento dos disparos foi transmitido em directo no Facebook de um dos atiradores (conta que entretanto foi apagada). A primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern disse ontem, Sexta-feira, que este é “um dos dias mais negros da Nova Zelândia”.

Foi precisamente a líder neo-zelandesa a caracterizar o ataque como sendo um caso de terrorismo com motivações racistas e associado a movimentos de supremacia branca. “Um acto de violência sem precedentes que não tem lugar na Nova Zelândia”, segundo Arden. O jornal New Zeland Herald noticiou que um dos atiradores transmitiu em directo durante 17 minutos o momento em que disparou sobre as pessoas que se encontravam no interior de uma das mesquitas. Os episódios, com início às 13 Quatro suspeitos foram detidos: o que transmitiu o ataque em directo foi identificado como o supremacista branco australiano Brenton Tarrant, de 28 anos.

Na arma tinha mensagens racistas inscritas Polícia confirma 49 mortos nos ataques a mesquitas em Christchurch horas e 40 minutos, aconteceram nas mesquitas de Al Noor, em Hagley Park, e de Linwood Masjid, existindo informações de vários atiradores, noticiou o jornal New Zeland Herald, num momento em que as forças policiais citadas pelo jornal The Guardian informaram que há uma bomba num carro em Strickland Street, numa rua localizada a cerca de três quilómetros da mesquita de Al Noor. Segundo o comissário Mike Bush, “um homem foi acusado de homicídio” e vai ser presente a tribunal pelos ataques contra as mesquitas, situadas no centro da cidade de Christchurch. De acordo com o mesmo Bush, as autoridades desativaram uma série de engenhos explosivos improvisados encontrados num veículo após os disparos numa das mesquitas. Christchurch é a maior cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia e a terceira maior cidade do país com cerca de 376.700 habitantes, localizada na costa Leste da Ilha Sul ao Norte da Península de Banks. É a capital da região de Canterbury.

Os feridos e as condições em que se encontram “Os ferimentos variam de graves a leves”, disseram num comunicado as autoridades de saúde em Canterbury, a região onde a cidade de Christchurch está localizada. Cerca de dez feridos tiveram de ser operados de urgência no hospital depois do ataque. As mesmas fontes acrescentaram que outros pacientes foram encaminhados para outros centros da comunidade. As autoridades de saúde afirmaram que cerca de 200 pessoas estão no hospital à espera de notícias sobre os familiares. Um total de 41 vítimas foram mortas no tiroteio na mesquita de Al Noor, enquanto outras sete foram mortas na mesquita de Linwood e uma outra pessoa foi declarada morta no hospital.

Os primeiros testemunhos do ataque

Relatos de testemunhas já começam a surgir e uma delas, citado em anonimato pela CNN, dá conta do momento em que tudo começou. “Eu virei-me para abrir a porta da casa-de-banho e começaram a disparar. Eu só perguntei ‘o que se está a passar?’ e eles continuaram a disparar e disparar.” A mesma testemunha afirmou ainda que só conseguiu fugir porque partiu uma janela enquanto os disparos se sucediam. Outro relato, citado pela mesma cadeia noticiosa norte-americana, afirma ter “rezado” para que o atirador “ficasse sem balas”. “Só pensava que ele teria de ficar sem balas, eventualmente, por isso limitei-me a esperar e a rezar para que Deus esgotasse as munições”.

A mesma pessoa diz ter visto um dos atiradores a pedir a um homem para ficar sossegado antes de o ter baleado “em cheio no peito.” “Tudo isto simplesmente não parece real”, conta à mesma CNN uma mãe que ainda aguarda por notícias do seu filho, que estava numa das mesquitas atacadas. Rosemary Omar mantém-se à espera de saber o que é feito do seu filho de 24 anos, Tariq. Ela tinha acabado de o deixar à porta de uma dos locais de culto e estava a chegar ao parque de estacionamento do mesmo espaço quando ouviu vários tiros. Regressou imediatamente à porta principal da mesquita e viu logo “montes de corpos”. “O nosso filho não atende o telefone, estamos à espera de novidades dele há algum tempo”, afirmou Rosemary. A Policia já lhe terá dito para continuar a aguardar novidades mas, por enquanto, sente-se “completamente morta” e “dormente” por não saber se o filho está vivo ou não.

A equipa de críquete do Bangladesh que está em Christchurch para defrontar a Nova Zelândia estava a chegar à mesquita de Hagley Park para a oração diária quando o tiroteio começou, mas conseguiu abandonar o local sem que qualquer dos jogadores tenha sido atingido pelos disparos. Num relato à ESPN, o treinador da equipa do Bangladesh conta que só no autocarro da equipa iam 17 elementos da equipa e que estavam a menos de 50 metros da mesquita quando viram que algo não estava bem. “Podemos dizer que tivemos muita sorte. Se tivéssemos chegado três ou quatro minutos antes, provavelmente estaríamos na mesquita no momento do ataque (…). Conseguimos ver pessoas ensanguentadas a cambalear para fora da mesquita. E durante cerca de oito a 10 minutos ficámos dentro do autocarro, de cabeças baixas para o caso de alguém disparar contra nós.”

A identidade de um dos suspeitos e o manifesto de páginas

O atirador que transmitiu um dos ataques em directo já terá sido identificado como Brenton Tarrant, um australiano de 28 anos que, através das redes sociais, terá divulgado um extenso manifesto onde identifica as motivações por trás dos ataques de Christchurch — o documento não está assinado. Ao longo do dito manifesto são latentes fortes inclinações anti-imigração e anti-religião muçulmana. No explícito vídeo gravado por Tarrant é possível ver que o australiano usava uma farda de estilo militar, com insígnias alusivas ao imaginário supremacista branco, e empunhava armas completamente forradas de nomes e referências escritos a branco. Entre elas destacam-se nomes como o de Gaston IV, o visconde de Béarn (chamado de “O Cruzado” pela sua participação na primeira Cruzada), o de Charles Martel (governante francês que em Outubro de 723 venceu exércitos muçulmanos na batalha de Tours) o à batalha de Vienna, conflito armado que envolveu forças do Sacro Império Romano-Germano e teve o império Otomano como adversário.

O número “14” também aparece várias vezes assinalado no armamento do alegado atirador e essa será, talvez, a referência mais contemporânea aos ideais racistas da supremacia branca. As “fourteen words” [14 palavras] é como é conhecido o mantra criado pelo supremacista branco David Lane, líder do violento movimento The Order, e remete à frase “We must secure the existence of our people and a future for white children”— “Temos de assegurar a existência do nosso povo e o futuro das crianças brancas”, em português. Esta referência é muitas vezes usada por grupos de neonazis, supremacistas brancos e outros movimentos de extrema direita. Já foi utilizada por vários terroristas como os responsáveis pelo tiroteio num templo sikh em Wisconsin (EUA, 2012), o ataque na igreja de Charleston (EUA, 2015) omais recente tiroteio na sinagoga de Pittsburgh