UNITA associa falta de “vontade política” à nova tragédia em Benguela

UNITA associa falta de “vontade política” à nova tragédia em Benguela

POR: Constantino Eduardo, em Benguela

O partido UNITA, pela voz do deputado Alberto Ngalanelã, secretário provincial, atribui a responsabilidade das mortes que ocorreram nas cidades do Lobito e Catumbela ao Governo Central, por este não ter dotado as administrações municipais de recursos financeiros para a limpeza das valas de drenagem. No dia em que o governador provincial, Rui Falcão, visitou as vítimas da chuva que se abateram sobre o litoral de Benguela a partir das 20 horas de Sábado, 16, o deputado Alberto Ngalanelã não poupou críticas ao Governo e considera inconcebível que ocorram sistematicamente mortes por causa de presumíveis falhas da administração pública.

O político refere que o grupo parlamentar do seu partido visitou recentemente as valas de drenagem no município do Lobito e foi informado de que a falta de limpeza se devia à falta de verbas. “O governo falhou. Se houvesse vontade política, o dinheiro haveria de aparecer. Não se pode atirar a culpa aos senhores administradores”, considera, para quem a descentralização de que o governo tanto fala “é apenas no papel”, porque do ponto de vista prático as coisas não se processam tal como se faz crer. Segundo sustenta, situações dessa natureza evitar-se-iam caso houvesse da parte do Executivo vontade de descentralização efectiva e não apenas formal: “Não se pode descentralizar, quando não se descentralizou as verbas”, considera Num país normal, ressalta Ngalanelã, os governantes, a começar por Rui Falcão, poriam o cargo à disposição, por causa daquilo a que se dá o nome de incapacidade de “gestão”, a julgar pela indisponibilidade de recursos financeiros para gerir a província e, por conseguinte, evitar-se problemas como estes que ocorreram nas mesmas cidades.

“Falta dinheiro”, diz governador

Rui Falcão, por sua vez, admite, pois, a falta de recursos financeiros suficientes para fazer um trabalho de fundo nas valas de drenagem, por isso estão em curso – mesmo antes das quedas pluviais de Sábado – trabalhos paliativos nos canais de escoamento de águas. “Fizemos alguma limpeza a montante. Ainda esta semana vamos ver se conseguimos dinheiro para um trabalho mais profundo. Os recursos não chegam”, revela, para quem os trabalhos, apesar de paliativos, evitaram males maiores, porque “se não houvesse a limpeza, a tragédia seria pior”, disse. Falando à imprensa no município do Lobito, depois de ter visitado as vítimas no hospital da Catumbela – município mais afectado com 12 dos 16 mortos – o governador provincial disse que o problema dos sinistrados de Março de 2015, no que respeita ao alojamento, fundamentalmente, não está ao todo resolvido, e promete continuar a trabalhar para melhorar as condições nos Cabrais, local para onde o Governo de Benguela os alojou.

O administrador da Catumbela, Julião Francisco de Almeida, informou que se está a prestar todo o apoio possível às famílias, com destaque para as que perderam seus entes queridos. Questionado sobre que medidas serão tomadas doravante, uma vez que a Catumbela é endémica neste sentido, o governante lembra que os sinistrados construíram em zonas descritas como sendo de risco e lembrou que, após a tragédia de Março de 2015 que a ceifou a vida a 72 pessoas, haviam sido advertidos para abandonarem as suas residências e abrigarem-se em zonas seguras, por isso foram-lhes atribuídos lotes de terrenos. “Vamos ainda deixar que façamos os funerais destes”, minimiza o administrador, evitando responder a uma questão colocada pelo jornal O PAÍS.

O histórico da FNLA e membro do Conselho das Comunidades de Benguela, Alberto Mavinga, numa curta conversa com OPAÍS defendeu a necessidade de se prestar maior atenção às valas no tempo seco, para acautelar situações desta natureza. Alberto Mavinga escusou-se a apontar o dedo a quem quer que seja, aguardando pela reunião do Conselho das Comunidades, e questiona se no orçamento das duas localidades afectadas se prevê ou não o desassoreamento das valas. Recorde-se que, em Dezembro de 2018, o antigo administrador do Lobito, Amaro Ricardo, responsabilizava o Governo pelas mortes de Março de 2015 e advertia para a necessidade de se proceder à limpeza nas valas de drenagens por, na altura, temer que situações de há 4 anos viessem a acontecer novamente. Três meses depois, as cidades do Lobito e Catumbela voltam a ser fustigadas por mais uma tragédia que ceifou a vida a 16 pessoas, fez 22 feridas, e há duas crianças desaparecidas, além do desabamento de residências.