Associação quer matéria sobre o albinismo nos manuais escolares para combater discriminação

Associação quer matéria sobre o albinismo nos manuais escolares para combater discriminação

Ontem, 21 de Março, assinalou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Por ocasião deste dia, a Associação de Apoio aos Albinos de Angola (4A’s) garantiu a este jornal que tem em carteira várias acções que visam eliminar a discriminação contra as pessoas albinas, uma situação que infelizmente ainda se regista no nosso país, também por conta dos mitos e da falta de informação. O presidente da 4 A’s, Manuel Vapor, concorda que há ainda muitos mitos em torno do albinismo e pouca explicação científica, pelo que a associação, por estar preocupada com esta situação, procura melhorar o quadro.

Assim, e porque a falta de informação tem contribuído para o aumento dos mitos e discriminação contra as pessoas albinas, Manuel Vapor fez saber que querem que seja incluído nos manuais do Ensino Geral e do Superior matérias que falam sobre o albinismo. “É importante que as crianças em idade escolar comecem a saber o que é o albinismo, para que não olhem o albino como um fantasma ou um ser doutro mundo. Devemos introduzir esta informação desde o ensino primário até ao ensino superior”, defende o responsável, sugerindo para cada fase o tipo de disciplina a ser enquadrada. Acredita que por meio da educação pode-se mudar o comportamento das pessoas e influenciar significativamente numa melhor coabitação com as pessoas albinas.

Para tal, Vapor considera importante a existência de uma parceria com o Ministério da Educação. Não há matéria sobre o albinismo nos manuais angolanos, de acordo com o presidente das 4A’s e não tem sido fácil sentar com o Ministério da Educação, bem como o Ministério do Ensino Superior. Independentemente disto continuarão a bater na mesma tecla até que o quadro mude. Para além do Ministério da Educação, Manuel Vapor acha ser oportuno também o estabelecimento de uma parceria com os ministérios da Saúde e da Reinserção Social. O Ministério da Saúde é chamado nesta luta porque alguns produtos cosméticos, específicos para as pessoas com albinismo, são caros. Um protector solar chega a custar 15 mil Kwanzas e muitos albinos não têm condições de comprar.

Plafond para produtos cosméticos e farmacêuticos

“Gostaríamos que o ministério em causa criasse um plafond onde pudéssemos adquirir estes produtos a um preço mais baixo, bem como os produtos farmacêuticos. Queremos também que os dermatologistas não ficassem apenas nos hospitais centrais e fossem às aldeias. Muitos dos nossos irmãos são obrigados a virem a Luanda porque não têm dermatologistas nas aldeias, e quando cá chegam a doença da pele já está em estado avançado, por exemplo”. As pessoas que estão mal informadas pensam que os albinos têm sido negligentes, quanto aos cuidados que devem ter com a pele, mas não. Segundo ele, tem havido falta de oportunidade de contacto com um especialista na matéria que lhes possa explicar sobre os cuidados a ter e os produtos a usar, e como os conseguir.

Quanto ao Ministério da Reinserção Social, Vapor disse que a parceira iria se processar no sentido de ajudar as pessoas com albinismo que perdem o pais e ficam abandonados à sua sorte, por serem rejeitados pelos parentes próximos, por conta dos mitos. “Que se criasse um subsídio para apoiar estas pessoas na sua subsistência”, disse. “Temos encontrado várias barreiras na nossa sociedade”, realçou. Muitos têm sido postos de parte, por serem albinos, quando se candidatam a uma vaga de emprego, por mais que tenha competência no cargo a que concorre. “Temos albinos formados, temos albinos doutorados, mas a sua pigmentação tem sido colocada em causa quando vão atrás de emprego. Uma pessoa albina não é uma pessoa inútil”, desabafou.

Mais valorização nos medias

Manuel Vapor aproveitou o nosso microfone para falar também que tem havido pouca informação na comunicação social sobre o albinismo, pelo que a sua associação gostaria que passassem a informação para que os pais de pessoas com albinismo pudessem saber quais os cuidados a ter com eles. Outrossim, elogiou o facto de hoje ter visto duas publicidades televisivas em que os publicitários usarem nelas pessoas albinas. Defende que se deva continuar com esta prática pois, parecendo que não, ajuda bastante na mudança de mentalidade e facilita no processo de socialização destas pessoas.

‘Há escolas que não aceitam alunos albinos’

A Associação de Apoio aos Albinos de Angola (4 A’s) registou cinco casos de albinos que tiveram dificuldades de estudar porque a escola não aceita pessoas com este tipo de pigmentação. A falta de informação, também por parte dos professores sobre o albinismo, tem propiciado este tipo de discriminação, o que tem obrigado a intervenção da 4 A’s. A associação luta para conseguir um espaço para as suas instalações e neste puderem construir uma farmácia, posto médico para acudir as pessoas com albinismo, auditório e salas de aulas. Este último compartimento é importante para acolher as pessoas albinas que não têm tido a oportunidade de se formar, uns por conta da cor e outros por falta de condições financeira. “Temos encontrado barreira nas escolas.

Há escolas que não aceitam que os albinos estudem nela, porque estes têm problema de enxergar e irão exigir uma atenção especial dos professores. A associação tem registados cinco casos e destes tivemos de mandar representantes para dirimir este tipo de conflito”, conta Manuel Vapor. Reconhece que existem professores que não estão bem informados sobre o albinismo e que também contribuem para o aumento da discriminação destas pessoas. Pensam que aquele aluno na sala de aula é um incómodo para si, por isso, é necessário que o Ministério da Educação também passasse a formá- los neste sentido.

Vapor defende que é importante que o professor saiba que o aluno albino não pode estar distante do quadro, que as letras dos enunciados ou manuais têm de ter tamanho maior, mas “de formas a evitar separatismo, convém que todos os enunciados daquela sala tenham tamanho maior para que o albino não se sinta manchado”. A associação tem cerca de 600 membros inscritos, entre albinos e não albinos. Neste total, 500 pessoas são albinas provenientes do Huambo, Huíla, Moxico, Uíge, Cuanza Sul e Luanda. Os problemas que as pessoas albinas nas outras províncias, com excepção de Luanda, apresentam é a falta de produtos cosméticos, indumentária, e locais para consultas médicas.