ONu alerta que 7 mil bebés podem morrer durante o parto em Moçambique

ONu alerta que 7 mil bebés podem morrer durante o parto em Moçambique

As Nações Unidas estimaram ontem, Quinta-feira, 28, que 75 mil grávidas tenham sido afectadas pelo furacão Idai em Moçambique e que 7 mil dos 45 mil partos previstos para os próximos meses possam registar complicações potencialmente fatais. “Estimamos que mais de 75 mil mulheres grávidas foram afectadas pelo ciclone, com mais de 45 mil partos previstos para os próximos seis meses, 7 mil dos quais poderão registar complicações potencialmente fatais”, alertou Andrea Wojnar, representante, em Moçambique, do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, na sigla em inglês). O alerta surge depois de a responsável do UNFPA ter feito uma visita a várias infra-estruturas e comunidades no distrito de Dondo, na província de Sofala.

“Vi jovens raparigas em trabalho de parto em enfermarias com buracos enormes no tecto, enfermeiras das maternidades e as suas famílias a viveram em tendas no meio da lama próximo de clínicas que fi caram destruídas”, descreveu. “Com pelo menos 35 estruturas de saúde completa ou parcialmente destruídas e com os profissionais de saúde eles próprios desalojados ou atingidos, estamos a trabalhar sem parar com o Governo e com os outros parceiros para restaurar os cuidados neo-natais e maternos básicos”, acrescentou. A representante do UNFPA em Moçambique sublinhou a urgência na resposta às grávidas, mas também à generalidade das mulheres e raparigas que enfrentam riscos agravados de doenças sexualmente transmissíveis, violação e violência de género.

Por isso, o UNFPA estimou em mais de 9 milhões de dólares os fundos necessários para fornecer serviços de saúde reprodutiva, prevenção e tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, contraceptivos e ‘kits’ para recolha de provas em caso de violação. “Estamos preocupados e é uma corrida contra o tempo. O risco de exploração e violência sexual aumenta quando as mulheres e raparigas são deslocadas das suas comunidades e quando o habitual sistema de apoio e protecção colapsa”, adiantou Andrea Wojnar. “Muitas não têm sítios seguros para dormir ou para ir à latrina. Quando lhes falta comida e não conseguem satisfazer necessidades básicas, as mulheres e raparigas podem facilmente ser alvo de predadores e oportunistas”, alertou.

Como resposta ao aumento do risco de violência, o UNFPA está a criar espaços seguros onde mulheres e raparigas possam procurar informação, apoio psicológico e serem encaminhadas para serviços médicos ou jurídicos. “Estamos também a distribuir ‘kits de dignidade’ que contêm pensos higiénicos, roupa interior, tecidos, sabão, escova e pasta de dentes e um apito de segurança. São artigos muito básicos, mas que promovem a dignidade das mulheres através da higiene e segurança”, disse. Na Quarta-feira, a organização moçambicana Fórum Mulher tinha já alertado para a especial vulnerabilidade das mulheres e raparigas em situações de catástrofe, apelando para respostas específicas para este grupo da população.

OMS lança campanha de vacinação contra a cólera no centro

A organização Mundial da Saúde (oMS) vai promover uma campanha de vacinação contra a cólera no centro de Moçambique, destruída pelo ciclone e onde as autoridades já detectaram cerca de 2.500 casos de diarreias. o primeiro objectivo é evitar a propagação da cólera, que já tem cinco casos confi rmados”, anunciou esta quinta-feira em conferência de imprensa David Wichtwick, líder da equipa da oMS na cidade da Beira. a campanha arranca na Segunda-feira e vai ser feita em nove centros de vacinação contra a cólera, cinco dos quais na cidade da Beira, dois no Dondo, outro em Búzi e outro ainda em Nhamatanda, distritos mais afectados pelas cheias da província de Sofala.“Nós temos 900 mil vacinas a chegar ao país [no Sábado] e isso vai fazer com que tenhamos, pelo menos, três doses para cada pessoa, mas é muito provável que nos próximos meses tenhamos de reforçar essas doses para evitar a propagação”, afirmou.

o líder da equipa da OMS admite que existam ainda muitas comunidades que precisam de assistência, considerando que é preciso tempo para chegar a todas as áreas afectadas pelo ciclone idai. “Não estamos satisfeitos com o que foi possível fazer até agora, estamos conscientes de que precisamos de fazer mais e acreditamos que é possível chegar a mais lugares onde as pessoas precisam de ser assistidas”, declarou. a passagem do ciclone idai em Moçambique, no Zimbabwe e no Malawi fez pelo menos 786 mortos e afectou 2,9 milhões de pessoas, segundo dados das agências das Nações unidas. Moçambique foi o país mais afectado, registando até ao momento 468 mortos e 1.522 feridos, segundo as autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 135 mil pessoas a viverem actualmente em centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira.