Yuri Quixina:“Devo felicitar o ministro Adão, fez um discurso estrondoso e extraordinário”

Yuri Quixina:“Devo felicitar o ministro Adão, fez um discurso estrondoso e extraordinário”

POR: Mariano Quissola / Rádio Mais

Presidente João Lourenço na Rússia, para reforço da cooperação. A visita surge dias depois da suposta exigência dos americanos sobre Angola para afastar-se da China e da Rússia. Será isso uma resposta clara?

Primeiro, dizer que a América já desmentiu ter condicionado a relação com Angola ao seu afastamento da Rússia e da China. A embaixada americana fez sair uma nota que explica isso. Depois, é importante dizer que Angola deve aproveitar esta oportunidade do interesse dessas potências mundiais sobre o país. Os Estados Unidos, a Rússia e a China estão a utilizar Angola como campo de luta…

Luta diplomático-comercial, refira- se…

Luta política, comercial e do ponto de vista de parceria, certo. Angola estava capturada pelos não-alinhados (Rússia e China), e os Estados Unidos meteram-se na corrida. Cabe a nós desenvolvermos capacidades para maximizar o interesse dessas potências por Angola para, a médio e longo prazos, termos um outro país.

Quem dos três devia merecer prioridade nessa relação?

Esta pergunta já não se coloca. A China e a Rússia foram sempre amigos de Angola. A questão é: que resultados produziram essas relações? que impacto sobre a economia real trouxeram para o país? quantos angolanos foram formados na Rússia e qual o impacto da formação? Não podemos permanecer sempre com as mesmas políticas.

O FMI alerta para o perigo do excesso da dívida e está insatisfeito com a subvenção do combustível para a agricultura e pescas. Está em avaliação o primeiro trimestre do acordo.

Até agora não há qualquer novidade na avaliação que o FMI está a fazer, porque o programa Economia Real aborda essas questões com frequência. Aliás, julgo que da lista de programas radiofónicos que o FMI ouve, o Economia Real deverá ser um deles. Sempre defendemos que o endividamento não é o caminho para tirar o país da crise e o FMI vem acautelar os riscos da dívida, porque dívida é cavar buraco. O problema é que o pensamento económico que está a ser implementado para a reforma é keynesiano. É cavar buraco para tapar buraco. Endividar o país é criar outro tipo de crise: a crise da dívida. E a subvenção é o outro problema…E estamos a subvencionar os combustíveis com o dinheiro da dívida, estamos a aumentar os salários com o dinheiro da dívida.

Tirando isso, parece que todas as outras metas estão dentro dos parâmetros e a segunda tranche é capaz de vir.

Vamos esperar pela avaliação final, seguramente vem, mas com uma chamada de atenção dura.

O BNA mantém inalterada a taxa de referência de 15,75%. Que impacto isso tem sobre a economia real?

Teria um efeito interessante, mas o BNA não tem muito que fazer, porque a recuperação da economia depende do ajustamento económico, derivado da consolidação orçamental e reformas estruturais. Ou seja, depende das políticas para a economia real. O banco central pode aumentar ou diminuir as taxas de juros, não terá muito impacto, porque quem está no nosso sistema financeiro é o Estado.

O ministro da Administração do Território defendeu que o Estado deve reposicionar-se nas suas tarefas essenciais, na abertura da conferência sobre reforma do Estado, gostou?

Devo felicitar o ministro, fez um discurso estrondoso e extraordinário. Gostaria que o Presidente fizesse esse discurso. Calculo que tenha feito em linha com o Presidente da República. E se assim foi, só será possível mediante alguns pressupostos: primeiro, remodelar a equipa, porque o ministro está a defender o Estado mínimo, mais funcional, mais ágil e menos burocrático. Segundo, com o discurso feito no Comité Central, estão aqui indícios de que haverá remodelação depois do Congresso do MPLA. Nunca ouvi neste país um discurso dessa natureza.

Que resultados espera do Congresso do MPLA de 15 de Junho?

Espero que depois do Congresso se remodele o Governo e virem as direcções para aquilo que o ministro Adão de Almeida defendeu.