Funcionários da África Têxtil reclamam o pagamento de mais de 900 milhões de Kwanzas

Funcionários da África Têxtil reclamam o pagamento de mais de 900 milhões de Kwanzas

POR: Constantino Eduardo, em Benguela

Os mais de 400 antigos funcionários da ex-África Têxtil em Benguela acusam os Ministérios da Indústria e das Finanças de não terem dado provimento ao estabelecido no Decreto Presidencial Nº 210/15, exarado pelo ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que orientava para, no prazo de dois anos, liquidarem-se as dívidas. Na África Têxtil, hoje transformada em Alassola, os seus antigos trabalhadores não entendem as razões de até agora não se lhes terem pago os mais de 900 milhões de kwanzas e desconfiam que o dinheiro tenha sido desviado, tendo em conta o tempo passado desde que foi exarado o Decreto Presidencial para a amortização da dívida.

A reivindicação decorre numa altura em que o Ministério da Indústria realiza o seu Conselho Consultivo Alargado em Benguela, cujo acto será aproveitado para questionar a ministra Bernarda Martins sobre o caso. O que se pretende, segundo o 1º secretário da comissão sindical dos antigos trabalhadores, Rogério Cabral, em declarações à imprensa, é obter da titular da indústria informações à volta do pagamento, cuja situação se afigura difícil, numa altura em que o país está a passar por crise económica e financeira.

Mão invisível

Segundo Rogério Cabral, à luz do Decreto Presidencial de 2015, os pagamentos deviam ser feitos até 2017, mas até esta data não obtiveram da parte dos departamentos ministeriais respostas plausíveis que visassem a resolução do problema. “Como nós sabemos que no nosso país houve sempre elementos com mãos pesadas nos dinheiros públicos, todo o mundo está nessa suspeita”, desabafou. Informou que em 2018, o actual Presidente da República, João Lourenço, exarou um outro decreto que só fala de negociações entre a exploradora (a Alassola) e os Ministérios da Indústria e das Finanças, mas não fala do passivo.

Os funcionários pretendem buscar de Bernarda Martins advocacia necessária para se solucionar o problema, pois os incumprimentos ocorreram no seu consulado. “São 435 trabalhadores. Já morreram 80. Morrem 5 trabalhadores por ano. A dívida é de 945 milhões de kwanzas”, revelou Cabral Rogério. Momentos antes da abertura do Conselho Consultivo, em declarações à imprensa, Bernarda Martins falou do processo de privatização da antiga África Têxtil. A governante, que não tocou na questão dos antigos funcionários, esclareceu que, por ser uma empresa pública, criou-se uma comissão, encabeçada pelo ministro das Finanças, que trabalha neste sentido, sem, no entanto, se referir ao passivo da empresa para com os antigos funcionários.