Liceu vieira dias e Ngola ritmos debatidos na Universidade Católica

Liceu vieira dias e Ngola ritmos debatidos na Universidade Católica

O Centro de Estudos da Universidade Católica de Angola realiza nos dias 2 e 3 de Maio próximo, em Luanda, a Conferência Internacional Sobre Liceu Viceu Vieira Dias e o Ngola Ritmos. O colóquio juntará investigadores, músicos, estudantes, jornalistas, políticos, entre outras individualidades, para celebrar o centenário do nascimento de Liceu Vieira Dias, fundador do Conjunto Ngola Ritmos e da música Moderna de Angola. A reverência ao célebre guitarrista e compositor é também uma forma de fixação de memória colectiva nacional de reforço da coesão social.

Um espaço de discussão sobre a música nacional e um contributo para o fortalecimento da acção dos actores nacionais que trabalham sobre a questão da Cultura Nacional e da luta de libertação nacional. Para a organização, a sua importância é tal, que foi evocado na poesia de Agostinho Neto, “O Içar da Bandeira”, como Herói da Independência, como a “Voz Consoladora dos Ritmos Quentes da Farra”, Harmonia Sagrada e Ancestral, Ressuscitada nos Aromas Sagrados do Ngola Ritmos.

Guitarrista e compositor

Exímio guitarrista e cantor, Carlos Aniceto Vieira Dias, também conhecido por Liceu Vieira Dias, é considerado o pai da Música Popular Angolana. Foi fundador do Conjunto N’gola Ritmos que, numa base de violas acústicas, introduziu a dikanza (reco – reco) e as ng’omas (tambores de conga) nas suas canções. O seu som tornou-se popular na década de 50, nas áreas urbanas, onde a audiência era favorável à sua mensagem politizada e aos primeiros pensamentos nacionalistas. Foi também um dos fundadores do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e esteve preso durante mais de uma década no campo de concentração de Tarrafal, em Cabo Verde.

Ngola Ritmos

O Conjunto Ngola Ritmos surgiu em 1947, por iniciativa do guitarrista Liceu Vieira Dias e Nino N’dongo, com o objectivo de preservar a Cultura Angolana e afirmar a Identidade Nacional numa tentativa de reacção à imposição colonialista que rejeitava todas as manifestações culturais indígenas. A formação cantava canções populares na sua maioria em kimbundu, com a intenção de elevar a Cultura dos seus antepassados e estabelecer uma relação entre o campo e a cidade, cujas diferenças eram bastante acentuadas. Devido às dificuldades que se impunham na transmissão da sua música, através da rádio ou televisão (meio de comunicação restrito, somente acessível aos colonos de boa posição), o conjunto actuava para amigos, em aniversários, em festas, de vez em quando em espectáculos, e no Bairro Operário (lugar de transição entre os musseques – zonas periféricas – e a urbanização), onde incitavam à luta pela independência.

Com a sensibilidade musical e conhecimentos mais avançados de Liceu Vieira Dias, a formação começou a crescer a partir de 1950. Surgiram novos elementos, como Amadeu Amorim, António Van-Dúnem, Zé Maria dos Santos e Euclides Fontes Pereira, e deram a primeira entrevista do agrupamento em 1952. Para ganharem mais audiência, apelaram à participação de outros artistas, como Sara Chaves, Fernanda Ferreirinha e Belita Palma, e começaram a apresentar canções portuguesas em melodias angolanas e ritmos mais tropicais. Surge, então, o “semba”, um novo género musical, que consiste numa mistura de vários ritmos, como o cidrália, o lisanda, o cabocomeu, o caixa corneta e o cabetula, permitindo ligar a música popular rural ao espaço urbano. Canções como “Muxima”, “Mbiri Mbiri”, “Kwaba Kuale”, entre outras, tornaram-se grandes sucessos e o grupo começou a fazer as primeiras gravações em fita nas emissoras.