Guillaume Doane: “O sector petrolífero vai dominar a economia angolana por muito tempo”

Guillaume Doane: “O sector petrolífero vai dominar a economia angolana por muito tempo”

Qual é a sua análise da indústria de petróleo e gás no mundo neste momento?

A indústria de petróleo e gás transitou de um período de baixa rentabilidade do petróleo para um período de relativa estabilidade. Os preços actuais são suficientemente altos para justificar gastos de capital em novas explorações mas há uma incerteza contínua que está a prejudicar o investimento. Para produtores africanos como Angola, que estão comprometidos em reverter o declínio da produção, o actual ambiente de preços pressiona os países a reformar as suas indústrias e modificar os termos de investimento que os tornarão mais competitivos em comparação com outras jurisdições.

Qual é o papel que Angola pode desempenhar em termos de quota de produção de gás natural a nível mundial?

A indústria de gás de Angola tem um enorme potencial. O Angola LNG foi uma incursão crucial no sector do gás natural e os esforços do Governo para monetizar o gás natural irão catalisar um maior desenvolvimento.

Considera que a criação da Agência de Petróleo e Gás facilitará o processo de licenciamento e permitirá a entrada de novos agentes no negócio angolano de petróleo e gás?

Não podemos subestimar a importância da criação desta agência. O estabelecimento da agência e a liderança destacada que foi escolhida para geri-la envia uma forte mensagem de que Angola está seriamente empenhada em adaptar a sua indústria a um mundo energético em mudança. Através da nova agência, Angola poderá gerar muito interesse das empresas de exploração e produção que pretendam obter licenças no país. Isso resultará numa maior diversidade de operadores no país, algo de que o país realmente precisa. Além disso, a transferência de responsabilidades concessionárias da Sonangol para a agência permitirá que ela se concentre no trabalho principal de ser uma companhia petrolífera nacional e num programa vital de regeneração que fortalecerá consideravelmente a empresa.

O projecto Angola LNG foi criado para impulsionar o gás natural em Angola. Qual é a sua avaliação sobre o funcionamento deste projecto?

O Angola LNG proporcionou ao país uma base sólida para desenvolver ainda mais o sector do gás natural. A dependência do projecto em mercados à vista, em vez de contratos de vendas de longo prazo, é única no mundo do GNL. Isso apresenta ao sector um modelo de negócios alternativo, mas também os desafios de um mercado e ambiente de preços de gás incertos.

O sector petrolífero continua a ser o principal suporte da economia angolana. Você acha que essa “força” do petróleo nos países produtores continuará por muito tempo?

O sector petrolífero é a fonte dominante de rendimento para a economia de Angola e continuará assim por muito tempo. A mensagem que ouvimos da recente reunião da Organização dos Produtores Africanos de Petróleo, em Malabo, no início deste mês, é que, para o melhor ou pior, o petróleo continuará a ser a principal fonte de riqueza dos produtores africanos para o futuro e os países têm a responsabilidade de proteger as suas indústrias. Como disse o ministro de Minas e Hidrocarbonetos da Guiné Equatorial, os países não sobreviverão com “vento e tomate”.

Por causa dos cortes da OPEP, que começaram em Janeiro passado, e da situação política na Venezuela, o preço do barril de petróleo tende a subir. Você acha que este ano o barril pode chegar a 100 dólares?

Nós hesitamos em fazer previsões sobre os preços do petróleo, mas um barril de 100 dólares em 2019 é improvável. Os efeitos dos cortes na produção da OPEP parecem ter atingido os seus limites – com os preços do Brent a subirem acima de 70 dólares no início de Abril. A adesão entre os membros da OPEP às suas quotas de produção irá aumentar os preços, mas isso será compensado pelo contínuo aumento da produção de petróleo na América do Norte, especialmente o boom contínuo na Bacia do Permiano, cujo aumento é limitado apenas pela capacidade do sector expandir a capacidade do gasoduto. O mantra “America First” e o coro de críticas anti-OPEP nos EUA continuarão a desafiar a capacidade dos produtores de petróleo de manter a estabilidade do mercado.

E se o barril de petróleo atingir 100 dólares, pode ser bom ou mau para os países que precisam diversificar as suas economias?

É muito sedutor o petróleo estar a 100 dólares para os países produtores de petróleo, mas isso gera um comportamento de procura de renda e uma super-dependência das receitas do petróleo para alimentar o crescimento económico e encher os cofres do governo. Angola estava entre os países desafortunados que aprenderam mais uma dura lição sobre o que acontece quando os preços chegam ao limite mínimo. Uma economia diversificada e uma cadeia diversificada de fornecimento de petróleo e gás cria uma valiosa rede de segurança.

Dada a sua experiência no sector petrolífero, o que será transmitido em Junho aos angolanos na Conferência Internacional sobre Petróleo e Gás?

Queremos que o mundo veja que este é um momento inacreditável para ser angolano e trabalhar no sector de petróleo e gás de Angola. Angola foi num curto espaço de tempo o maior produtor de petróleo da África e pode sê-lo novamente através das reformas iniciadas pelo governo do Presidente João Lourenço. Acrescente facilidade de criação de uma empresa em Angola e a uma maior eficácia dos regulamentos de vistos tornaram o país mais aberto do que nunca. Esperamos que a conferência seja uma porta de entrada para novos participantes e um catalisador para novas actividades.