Empresário acusado de perseguir pastor da igreja da sua mulher

Empresário acusado de perseguir pastor da igreja da sua mulher

Madalena Afonso e o pastor Benvindo Njime, acompanhados pelo advogado Lauriano Paulo, vieram à redacção do Jornal OPÁIS para tornar público um caso que, se os órgãos competentes não tomarem medidas, poderá resultar na morte da primeira e principal interveniente. Conta, Madalena, que tudo começou quando ficou doente, com a perna inflamada, e veio a conhecer a cura na Igreja Graça Divina Reino dos Vencedores, por influência de uma amiga.

Antes não rezava nesta igreja, pelo que depois de ter sido tirada da aflição passou a frequentar essa igreja, cujo pastor é Benvindo Njime. Com o empresário, Madalena Afonso tem 22 anos de vivência marital, dois rapazes e uma menina. Viveram juntos em França e na África do Sul. É uma relação antiga, repleta de ciúmes por parte dele, que inclusive preferiu construir uma boutique perto de casa para a mulher trabalhar, só para não ter de sair da zona.

A ida constante à igreja começou a incomodar o empresário que, mesmo ausente por causa dos assuntos que ia tratar numa de suas fazenda, era informado pela mulher sobre as suas saídas. A dada altura, o empresário, em Agosto de 2018, obrigou a mulher a deixar a referida igreja, tendolhe dito que iria escolher entre ele ou a igreja. Por ela ter escolhido a igreja, passou a desconfiar da esposa alegando que esta tinha um caso com o pastor.

Começaram as agressões físicas e ameaças de morte, na presença do filho mais velho do casal, de 18 anos e dos seguranças de casa. António Gurgel foi até à igreja, segundo a mulher, interrompeu o culto, ameaçou o pastor dizendolhe que “se a sua esposa voltasse a cultuar ali, seria morta, mataria o pastor e mais 15 féis”.

“Ninguém tem poder diante de mim. Tenho dinheiro, tenho influência e ando armado”, disse ao pastor que, depois daquelas palavras proferidas pelo empresário, perdeu muitas ovelhas. Para tentar resolver o problema com cordialidade o pastor orientou algumas irmãs para que fossem conversar com o empresário, para saber o que se passava de concreto, este recebeu-as mal e ofendeu-as descaradamente.

Madalena fez queixa à Polícia do Morro Bento, mas não adiantou nada. O senhor destratou a senhora perante a polícia e disse que ela não mais voltaria entrar em sua casa, por estar a namorar com o pastor.

Não tendo onde dormir, Madalena foi acolhida na esquadra, onde passou cinco noites, até ter tomado coragem de enfrentar sozinha o marido.

Transportados até Mbanza Congo

Foi novamente ameaçada de morte e escorraçada de casa. Madalena decide então voltar à igreja. Passado uma semana, o pastor foi surpreendido, numa manhã de Sábado, por dois agentes da Polícia de ordem pública e dois dos Serviços de Migração Estrangeiros (SME). Obrigaramno a dar o Bilhete de Identidade e a acompanhar os agentes. Apesar de ter dito e provado que é angolano, o pastor foi levado, juntamente com Madalena. Do Golf II, onde fica a igreja, foram transportados até ao Zango V. Foram interrogados, ficaram detidos e só saíram no dia seguinte.

Quando pensavam que iam para casa, foram transportados até Mbanza Congo, sem processo, pelo SME. “Quando chegamos ao controlo de Mbanza Congo, o chefe não aceitou assinar o documento proveniente de Luanda porque não estava carimbado. Receberam os nossos documentos, ficámos detidos durante 4 dias e levaram-nos ao Congo, como se estivéssemos a ser deportados”, conta Madalena.

O empresário é muito influente porque a sua empresa, que tem camiões, faz constantemente a rota Congo-Angola, via Mbanza Congo, pelo que muitos dos agentes conhecem-no. Os dois cidadãos angolanos foram deixados no Congo, onde ficaram quatro meses, sem documentos, sem nada. O pastor só conseguiu sair do Congo graças a um servo da sua igreja que o ajudou, mediante contacto com a Interpol. Da mesma forma procedeu Madalena.

De volta ao país, constituíram um advogado e este está a trabalhar, no sentido de levar o empresário a responder em tribunal. “Neste momento decorrem dois processos, no SIC: um que tem a ver com a actuação dos agentes do SME e outro que tem a ver com violência doméstica.

Estamos diante de um comportamento criminoso, a sociedade não pode caminhar assim, uma pessoa não pode usar a sua influência para maltratar os outros”, disse o advogado, Lauriano Paulo.

O jornal OPAÍS tentou entrar em contacto com o empresário António Pedro Gurgel, pelos terminais telefónicos fornecidos pela sua mulher, mas sem sucesso. Entretanto, tomamos conhecimento de fontes ligadas a este jornal que o mesmo já foi chamado para o primeiro interrogatório.