Makitu Daniel: “Angola merece de todo este mérito, uma vez que o Reino do Kongo foi uma das maiores civilizações de África”

Makitu Daniel: “Angola merece de todo este mérito, uma vez que o Reino do Kongo foi uma das maiores civilizações de África”

Pouco ou quase nada se tem comentado sobre o Reino e o Rei dos Kongos, excepto a elevação da cidade a Património da Humanidade. Este existe ou não?

Nunca deixou de existir. Por força maior, a nossa vontade, o colóquio foi tão forte e conseguiu transformar as nossas ideias em mitos e a nossa essência em apenas contos encontrados em alguns livros espalhados pelo mundo e escrito por quem não sabemos e, com histórias não tao verdadeiras e elaboradas. O último Rei do Kongo que detinha a Mbele Lulendo e outros itens do Trono do Reino do Kongo, o nosso avô Rei Ndombaxi Ntsei, foi ele o motivo pelo qual o trono deixou de ser exposto junto da comunidade enquanto autoridade que detinha o poder de coordenar a vida das pessoas. Entendeu ele sabiamente que, perante a ganância do colono, pelas mortes excessivas de membros da monarquia e mesmo alguns Reis que foram decapitados pelos soldados portugueses, não devia expor-se como detentor do poder, evitando assim que, morressem mais pessoas. Olhando para os últimos cem anos fase em que surge o Profeta . O nosso avô, ficou escondido no Nkusu Mpete, zona sagrada que dá origem a muitos réis que faleceram a 10 de Agosto de 1994.

Como funciona a corte do reino em Angola?

Actualmente, por ainda não haver autorização da República de Angola, meu país, a corte tem a sede em Kinshasa nos escritórios da União dos Chefes Tradicionais Africanos (UCTA), onde saem todas as orientações inerentes ao trabalho de todos os Reis em África e, sobretudo, dos Kongos. O nosso soberano de momento faz os despachados a partir de Luanda, por não haver meios e condições para ter que se deslocar regularmente e representar o Estado angolano nas inúmeras missões que sempre nos levaram para os países vizinhos. O rei tem o seu escritório para responder assuntos internos sobre o Trono Zombo Kongo Dia Ntotela, na Comuna da Sapu, município do Kilamba Kiaxi, em Luanda. A sua funcionalidade é sempre na base da execução dos objectivos da monarquia, lutar contra o mal, eliminar pragas, evitar mortes e acidentes, combater as práticas de feitiçaria e doutrinas enganosas.

Tais trabalhos não são tão relevantes ainda no nosso país, porque até ao momento não reunimos consenso e nunca houve uma união forte de todos os Reis de Angola, de modo que haja um trabalho guiado e orientado pelo Presidente da República em função dos males que perigam a moral angolana e que devem ser eliminados. Um grande trabalho a corte teve de fazer. Em Outubro de 2018, os monarcas do Kongo Kinshasa acompanhados de lideres religiosos, deslocaram-se a Mbanza Kongo, onde pediram ao soberano chefe, o Rei Nzolamesso Ntoni Binga que, chefiasse e coordenasse os trabalhos desejados que serviriam para promover um momento eleitoral na RDC (RDK) sem que houvesse conflitos armados, mortes e outro tipo de manifestação negativa. E assim, foi cumprido como constam nas imagens.

Quantos elementos compõem a corte?

A União dos Chefes Tradicionais Africanos (UCTA), posso traduzir isto como um número muito grande. Poderão existir mais de 10.000 pessoas na corte afectos aos mais de 400 Soberanos que, por norma, trabalham com a UCTA e as Igrejas, e, claro, milhões de fiéis dentro dos Kongos que apoiam os reis. Há aqui um dado importante a frisar, neste momento a Corte no geral está a depender da acção jurídica do Rei Nzolamesso. Sendo ele o detentor do Trono ou da Cadeira máxima, tem de ser ele a ditar as regras. Mas infelizmente o Rei enfrenta um processo desconhecido, porque o Ministério da Cultura até aos dias de hoje, não se pronunciou positivamente a tudo quanto para lá foi endereçado.

Então vamos trabalhar mais com e nos Kongos do que em solo Nacional e com os angolanos. Reitero o que disse: não é do mal que vivem os nossos réis. Logo temos uma série de trabalhos parados, por falta de vontade de pessoas que no meu ponto de vista cultural, não amam o que fazem e desconhecem o que realmente somos enquanto Bantus e Ntotelas. Por estas e outras razões, alguns ocidentalistas dizem que nós herdamos a cultura de não construir, de não amar os nossos, de destruir e de não progredir. Matamos quem faz bem e amamos quem é promíscuo.

Qual é a posição do Ministério da Cultura em relação a esta situação?

É de extrema importância eu sair em defesa do camarada Presidente da República, do camarada Vice- Presidente da República por ter sido ministro do MAT durante anos e defender a posição do Presidente da Assembleia Nacional, na qualidade de chefe máximo da casa das leis,permitam-me fundamentar que dos anos passados em que todos os membros do gabinete do Soberano, inclusive eu, imprimimos esforços para tornar possível uma comunicação eficaz com alguns membros do Executivo, exclusivamente falando, a ministra da Cultura e o ministro do MAT, houve sempre entraves nas direcções de bases e que, penduravam o Soberano junto das suas equipas de trabalhos em gabinetes onde os mesmos tomavam as suas decisões, e daí, nada avançava. Foi assim durante todos estes anos.

Em 2018 estivemos como ultima tentativa no MINCULT e não fomos recebidos como desejávamos e as pessoas com quem sentamos, ate hoje nada dizem. Quanto aos Governos do Uíge e Zaire, existem coisas que só o Soberano poderá dizer. Logo, não há como o Governo de Angola na pessoa do nosso Presidente da Republica tomar alguma postura positiva ou negativa, quando em sua mão nunca chegou nada relacionado a um cidadão angolano que nas vizinhas Repúblicas dos Kongos, é tratado com Honras Protocolares e Tradicionais e aqui não. Tenho dito que, a maior fonte dos grandes erros que existem nas nossas sociedades políticas africanas, são, em boa parte, os relatórios que os assessores colocam em cima das mesas dos líderes, dos que têm o poder de decisão. O que uma equipa que é mandatada a recolher informações sobre uma determinada localidade ou comunidade, cidades e etc, decidir escrever a seu bel prazer para a pessoa que os mandou, como resultado do trabalhado mandado, é o que ditará o futuro das pessoas daquela circunscrição. Mas é importante afirmar que o Rei tem o Trono aceite pelos regedores das Províncias do Uíge, Zaire e Cabinda e o Grupo de Anciãos de Mbanza Kongo. Isto sem querer falar dos Gurús nos Kongos.

O que significa Nzolamesso?

O nome Nzolamesso significa separadamente; Nzola – Amor e Messo – Olhos (Vistas), isto para dizer que, os verdadeiros Reis, possuem o poder do amor, do perdão, da paz, da concórdia e da união, apesar de que também punem o mal. Ele insiste em dizer que a verdade virá à tona e o Titular do Poder Executivo virá a saber de tudo.

Qual é o posicionamento dos Kongos, Kinshasa e Brazzaville em relação à situação?

Como disse antes, já realizou-se o acto de reunificação do Poder do Reino do Kongo, em que Sua Eminência Simão Kimbangu Kiangani, perante a Igreja toda, realizou a cerimónia do acordo entre os três Reis. Em 2017, fez-se um esforço e um trabalho bastante profundo a pedido dos Reis Africanos, e que, concentram-se mais de 400 Reis de toda a África em Nkamba e sob a orientação do Digno tribunal Constitucional actual do Reino do Kongo, a Igreja Kimbangu, reuniuse novamente em Nkamba para apresentarem o Rei do Kongo Angola, Sua Majestade Rei Nzolamesso António, que no ano seguinte viria a ser designado o Rei dos Kongos e Presidente da UCTA, tendo o seu primeiro Vice-presidente o Rei do Kongo-Kinshasa, Kisupa Mandeke e o segundo Vice-presidente, Rei do Kongo-Brazzaville, Makoko Mongo Louis Gambao Martins. Lidera e preside a UCTA Union Des Chefs Traditionnels Africains na República Democrática do Congo (Kongo) o rei Mweel Biwata Nswala Joachim – président E uma nota importante, os dois Kongos e outras repúblicas, digo representadas ao mais alto nível dos chefes das suas monarquias, estarem neste momento reunidos no mesmo número de 400 reis à espera de uma resposta da Presidência da República de Angola ao Rei Nzolamesso, para que possam vir ao nosso país e visitarem o Santuário e a Capital de todos eles (Mbanza Kongo), saudarem o Presidente da República, a quem desejam muito entregar uma bênção especial e pedirem ao Chefe de Estado Angolano a autorização para a realização da cerimónia de coroação do Rei Nzolamesso António a Rei dos Kongos, em solo angolano.