Rebita protegida da extinção pelo seu estatuto como Património Cultural Imaterial Nacional

Rebita protegida da extinção pelo seu estatuto como Património Cultural Imaterial Nacional

A Rebita é um género de música e dança de salão angolana que expressa a vaidade dos cavalheiros e o adereço das damas. Dançada em pares, a partir de coreografias coordenadas pelo chefe da roda, executam gestos de generosidades, gesticulando a leveza das suas damas, marcando o compasso do passo da massemba. O charme dos cavalheiros e a vaidade das damas são notórios. Enquanto a dança se vai desenvolvendo no salão, as trocas de olhares e os sorrisos entre o par são frequentes. É dançada em marcação de dois tempos, através da melodia da música e do ritmo dos instrumentos. Este género, que remonta à época colonial, nos dias de hoje já não se vê frequentemente. Por este facto, foi declarada como Património Cultural Imaterial Nacional. O documento público considera a Rebita como uma das mais importantes danças e cantares populares, hoje circunscrita à província de Luanda. De forma a evitar o seu desaparecimento e de promover medidas visando a sua valorização e preservação para as gerações futuras, foi-lhe atribuída o estatuto acima referido.

“Tem havido uma rejeição muito grande da nossa Cultura ”

De pés descalços e ao som da dicanza, dançavam os passistas. São maioritariamente de idade avançada. No enguedelho da roda, orientada por um chefe, vêem-se também jovens, que acompanham os mais velhos com destreza. Esse é o ambiente que paira no ar do Anazanga Rebita – Centro Cultural, onde ensaiam os Novatos da Ilha, o grupo de Rebita. O presidente do grupo, Horácio da Mesquita, diz que com esse estatuto aumentou os sentidos, de responsabilidade e patriótico, acima de tudo. Embora já estivesse à espera durante muito tempo, para ele a Rebita é o timbre que mais identifica o país, mas reconhece que não se pode atribuir a titularidade de um estilo a determinada província.

Horácio da Mesquita, que também é artista plástico, mostrou-se infeliz ao dizer que tem havido uma rejeição muito grande da Cultura angolana, naquilo que se refere ao género de dança e música Rebita. “Nós temos de ter respeito pela autenticidade das outras culturas, como as outras culturas devem ter respeito da nossa autenticidade que é a Massemba. Agora que a rebita foi declarada como Património Imaterial eu penso que essa rejeição venha a mudar”, afirmou, alegremente. De panos vermelhos, a passista ‘mamã’ Beatriz António, de 78 anos, que transmitia experiência às mais novas, contou como sentia- se feliz ao aprender a dançar a Rebita com os seus mais velhos. “Eu via como os mais velhos dançavam e fui aprendendo. Os jovens se estiverem interessados, basta que eles estejam inseridos ao meio para que consigam aprender”, disse.

Outrossim, o instrumentista Jaburu Napoleão, de 83 anos, que é ex-passista e um dos fundadores da Rebita dos Novatos da Ilha, conta que na altura em que deram vida ao grupo, em 1954, só se fazia performances em óbitos. Mas depois a Rebita foi-se popularizando e passaram a ser chamados para actuar igualmente em Centros Recreativos. Dispensando a superstição, a equipa de reportagem de OPAÍS teve sorte ao encontrar a jovem Eva José, de 30 anos, que há dois dias inscreveu-se no grupo. “O que me impulsionou é o facto de gostar da dança e a interação que tenho com os mais velhos. Com eles, sempre aprendemos muito. Fui bem recebida e estou a gostar de cá estar. Eu quero beber da água dos mais velhos para que possa transmitir aos mais novos. Os jovens não sabem o que perdem, a rebita é uma dança muito boa”, observou a jovem, satisfatoriamente.

Directora do INPC explica processo

A directora do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), Cecília Gourgel, conta que para declarar a Rebita como Património Cultural Imaterial beneficiaram do do apoio da UNESCO. De acordo com a responsável, foi necessário quase quatro anos para, como comunidade piloto, a Ilha de Luanda ser eleita a sede do grupo Novatos da Ilha, detentor das maiores performances. A Rebita, segundo a directora, só é vista em algumas performances feitas em carnavais, casamento e pela comunidade no exterior, maioritariamente composta de estudantes. E, tal como o Kuduro e o Semba, o Estado também pretende que a Rebita se popularize. Quanto a existência de dois nomes para designar o género, Cecília Gourgel esclarece que a primeira designação do género era Massemba.

“Nos nossos documentos registamos com Massemba. Quem designou por Rebita, foram os portugueses ao chegarem a Angola. Eles viram que a Massemba assemelhava- se a uma dança francesa denominada “Rebit”, enquadrada no português como “Rebita”, como nós chamamos ”, contou. A responsável deu a conhecer a existência de uma pressão, para que se estude a Kizomba, um processo que será baseado nos estudos na convenção da UNESCO, sobre a protecção do património Imaterial (2003). “Essa convenção obriga os países que a ratificaram a estudar ou a priorizar as danças que estão em vias de extinção”, disse. Depois da Rebita, Semba será o próximo Património Cultural Imaterial Nacional Cecília Gourgel avançou que o processo de declaração do género de dança e música Semba está num bom caminho.

Avançou que precisar-se-á, daqui pra frente, de uma equipa multidisciplinar que vai englobar etnógrafos, antropólogos, sociólogos, historiadores, etnomusicólogos, coreógrafo, para realizar estudos sobre o género. “Nós vamos estudar agora o Semba, porque há muita fusão entre o Semba, dança, e a Kizomba. Então pretendemos mostrar a diferenciação entre os dois géneros também. O estudo ainda visa designar o Semba como género de música e dança. Não se podem dissociar nos géneros musicais angolanos a música da dança. Uma leva à outra”, frisou. No que concerne a conclusão dos estudos, disse ser inadequado fazer uma previsão, pelo facto de os projectos do género requererem meios financeiros e recursos humanos. Segundo ela, atendendo ao quadro económico do país, os cálculos podem não dar certo. Cecília Gourgel aconselhou os estudantes, sobretudo, de cursos ligados às Ciências Sociais, a fazerem monografias com base nestas danças em via de desaparecimento, de forma a enriquecer a história do Património Imaterial no domínio da dança.