Sobado trava tentativas de desalojamento dos moradores do NGuengue

Sobado trava tentativas de desalojamento dos moradores do NGuengue

O soba do bairro NGuengue, na comuna de Calumbo, município de Viana em Luanda, José Anselmo, revelou, recentemente, a O PAÍS, que tem sido o escudo de aço dos dirigentes da sua municipalidade que tentam, periodicamente, engendrar um plano de desalojamento da sua população, sob pretexto de explorarem os recursos naturais que abundam nessa região ribeirinha da Capital. “Como aqui se pode tirar burgau, pedras e outras riquezas, até dizem que tem granito, mármore, carvão e ouro, que eu nunca vi, altos responsáveis do país com a anuência e presença de membros da administração comunal, vão tentando convencer- nos para irmos morar numa zona alta, que fica há mais de três quilómetros daqui”, divulgou o soba, que jurou, de pés juntos, não aceitar isso, a não ser que seja por cima do seu cadáver e da impacividade dos seus ancestrais, como fez questão de repetir, durante a entrevista.

O ancião de 77 anos, que disse ter nascido e vivido, até à data desta reportagem, no NGuengue, num curriculum que desconta apenas o tempo que dedicou ao serviço militar obrigatório, reforçou a sua narrativa, contando que ainda não era o soba do bairro, quando o director da escola junto com o administrador da comuna de Calumbo mais um engenheiro apareceram para dizer aos mais velhos da comunidade que o engenheiro tinha feito um estudo, próximo da igreja católica, e havia descoberto a existência de alguns recursos naturais valiosos que precisavam ser explorados. “Ele não disse qual era o nome do produto, só adiantou que era de muita riqueza e que precisavam que os mais velhos pensassem no assunto do desalojamento.

Na mesma ocasião, o mesmo director falou que já tinham orientado traçar uns terrenos de 15 por 15, lá em cima, para o povo”, detalhou o soba José Anselmo, tendo acrescentado que, a posterior, já na presença do administrador municipal de Viana, André Soma, os interessados chegaram a garantir ao titular do município que as condições do novo habitat já estavam preparadas. Perante tal insistência, José Anselmo foi chamado pelo titular do município a manifestar a sua posição em relação ao suposto acordo. Foi então que, em nome dos mais velhos da comunidade do NGuengue, o actual soba terá dito com toda convicção que não se pensasse na possibilidade de os moradores daquela que ele próprio considera como vila humilde abandonarem a terra que os ancestrais lhes deixaram como herança. Lembrou que a decisão foi apoiada pelo administrador municipal que, antes dessa constatação, tinha a ideia de que tudo já estava acordado. O ancião lembrou que, por causa dessa postura, os dirigentes comunais não encaram bem a sua terra, é um quadro que espera ver mudado.

“Porque o sector mais afectado está a ser o da segurança”, frisou. Cemitério dos mortos nas vias A preocupação do soba no tocante à delinquência foi confirmada por alguns moradores que chegaram mesmo a afirmar que o bairro estava a transformar-se num cemitério dos abatidos nas vias de Luanda, sobretudo nas zonas não habitadas. Para dar sustentabilidade ao que afirmara, referenciou sobre um atentado recente que resultou na morte de um cidadão na sua própria viatura, tendo acrescentado que o seu cadáver foi escondido aí na mata do NGuengue.

Razão do nome do bairro

Conhecido oficialmente como bairro Ana-NGuengue, a denominação advém do termo Kimbundu Munguengue, que, segundo o soba, significa gajajeira. “então o fruto do Munguengue é nguengue, ou seja, gajaja, e essas árvores estavam plantadas à beira do rio. quando se perguntava aos que vinham para aqui aonde iam, eles respondiam sempre tuyenu munguengue.

“Precisamos que a estrada seja construída. Queremos um posto de polícia até porque os polícias são formados aqui próximos no NZoji, não entendemos porquê não temos cobertura das forças da ordem”, declararam. Segundo contaram, quase todas as semanas havia morte dos mototaxistas que actuavam nessa área, há um quilómetro da sede do bairro.