Especialistas em oftalmologia defendem a criação de Conselho Nacional

Especialistas em oftalmologia defendem a criação de Conselho Nacional

Um grupo de oftalmologistas angolanos defende a criação do Conselho Nacional da classe, para maior coesão técnica que se reflectirá na qualidade de serviços aos pacientes. Numa entrevista cedida recentemente a OPAÍS, a directora do Instituto Oftalmológico Nacional, Luísa Paiva, disse que os referidos profissionais dispõem apenas de um colégio (instituição afecta à Ordem dos Médicos), mas que até ao final do ano prevêem realizar um congresso geral em que será apresentada a proposta para a criação do Conselho Nacional, que visa dar respaldo legal a classe perante o Governo angolano.

Segundo a responsável, o referido conselho não só permitirá o aumento do nível científico e ético dos profissionais, como, também, velará pela defesa de melhores condições sociais e económicas dos mesmos. “Temos as ideiais bem delineadas e acreditamos que a realização do congresso trará uma nova dinâmica para o sector”, defendeu Luísa Paiva. Quem também partilha desta opinião é a médica oftalmologista Alda Cunha Rola, que afirma que a implementação do conselho elevará o nível de organização da classe, bem como a produção de um fórum em que poderão ser discutidos casos clínicos.

Foco nas comunidades rurais

Sobre o assunto, a especialista que recentemente participou num curso de leadership (liderança) em Cape Town, na África do Sul, promovido pelo Conselho Africano de Oftalmologia (mentor do Programa de Desenvolvimento de Liderança ), afirma que a referida organização está preocupada com a saúde ocular nos países africanos com, enfâse para Angola. Por esta razão, foi convidada participar nesta formação juntamente com outros especialistas da região subsahariana , com o objectivo de adquirir experiência e matérias de liderança que a posterior serão implementadas nos projectos que visam o desenvolvimento do sector oftalmológico. Durante o encontro, que teve duração de uma semana, foi traçado o perfil sobre o sector oftalmológico no país, nomeadamente número de profissionais por habitantes, salário básico que auferem, principais doenças oftalmológicas.

Nesta vertente, foram também analisadas as razões que levam a população a ter pouco conhecimento sobre saúde ocular e as causas do elevado indíce de cegueira em território nacional. Com vista a dar resposta a estas e outras questões, tal como prevê o programa, Alda Rola disse já ter um projecto em fase embrionária direccionado ao desenvolvimento de cuidados oculares em Angola, em que estarão engajados outros oftalmologistas angolanos, que beneficiará sobretudo as comunidades rurais. Entretanto, realça haver necessidade de divulgá-lo para que sejam arrecadados financiamentos para a sua execução, segundo os requisitos orientados pelos mentores do “leadership”. “Por exemplo, se for um projecto em telemedicina, em que os pacientes poderão ser consultados e diagnósticados por intermédio de telemóveis, (os mentores e financiadores) poderão patrocinar o software”, salientou, acrescentando que, entretanto, a condição sine qua non é o apoio dos governos locais”, alertou.

Barreiras línguisticas inibem intercâmbio profissional

Previsto para ser realizado em dois anos, também prevê a formação contínua de oftalmologistas angolanos, tanto no que se refere a questões técnicas, bem como a promoção de cursos de língua inglesa, apontada como a principal causa da ausência de profissionais lusófonos em fóruns internacionais. “Notou-se que a nível da região africana há fraca participação de países lusófonos devido às barreiras línguisticas, pois que para participar o profissional deve ser fluente em língua inglesa. Deste modo, existe necessidade urgente de se inserir cursos de línguas entrangeiras no currículo acadêmico”, frisou.

Questionada sobre como foi seleccionada para participar na referida formação, Alda Rola salientou que em Julho de 2018 deslocou-se a Portugal com um grupo de colegas com quem se encontra a fazer o doutoramento sobre oncologia ocular, no Reino Unido, para apresentar um trabalho sobre glomaocular raro à Fundação Champalimaud. A sua participação fez com que os seus dados pessoais ficassem ali registados, permitindo deste modo que fosse convidada a participar. Sobre a experiência adquirida com o referido curso, a entrevistada aponta a capacidade de gerenciar projetos e informações, assim como a criatividade de criar campanhas de sensibilização para o público e profissionais de saúde sobre a importância de programas estratégicos específicos em oftalmologia.

O Conselho Africano de Oftalmologia (AOC) é uma organização internacional que representa oftalmologistas da África subsahariana. No âmbito da sua estratégia de actuação, a organização tem desenvolvido o Programa de Desenvolvimento de Liderança, considerado como uma oportunidade para oftalmologistas da região da África Subsaariana a adquirirem ferramentas de liderança com o objectivo de desenvolver projectos de grande imapcto social nos países onde residam. O referido organismo trabalha em parceria com a Academia Americana de Oftalmologia, uma associação médica profissional de oftalmologistas que está sediada em San Francisco, Califórnia. A mesma, tem cerca de 32 mil médicos, inclui mais de 90 por cento dos oftalmologistas em exercício nos Estados Unidos da América, além de mais de sete mil membros no exterior.