Cerca de três mil “desempregados” do Censo ganham emprego de inquiridor

Cerca de três mil “desempregados” do Censo ganham emprego de inquiridor

Cerca de três mil cidadãos, residentes nas diversas províncias do país, alguns dos quais participantes no Censo 2014, trabalham em regime temporário como prestadores de serviço de inquérito, sob a égide de uma agência especializada na recolha de dados estatísticos. Numa entrevista exclusiva a OPAÍS, o director de intercâmbio da referida agência, Arnaldo Vicente, salientou que o projeto alberga indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos de idade. A iniciativa surgiu em 2008 de forma experimental, na província de Luanda, e expandiu-se para todo o território nacional, todavia, consolidaram-se em 2017.

O referido projecto possibilitou a vários jovens, que estiveram engajados em estudos estatísticos, como seja o Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH) realizado em 2014, continuar a implementar os conhecimentos adquiridos durante a formação.

“Ao término deste estudo, muitos jovens ficaram com a experiência de trabalho, mas desempregados, porque o Estado não tinha como enquadrá-los. Nós aproveitámo-los”, detalhou. Segundo o responsável, a “Agência de Inquéritos Zaya” surgiu com o objectivo de dar resposta à necessidade de se qualificar o trabalho desenvolvido pelo sector de pesquisa.

Em seu entender, a omissão da identidade das empresas ou grupos de pessoas envolvidos na recolha dos dado levanta dúvidas sobre a fiabilidade dos resultados obtidos com a pesquisa.

Salários superiores a 50 mil Kwanzas

Os funcionários “entram em cena” sempre que surge um contrato de prestação de serviço nesse ramo. Calcorreiam as áreas indicadas para o estudo auferindo um salário que pode ser superior a 50 mil Kwanzas, sem contar com a ajuda de custo diária para as despesas inerentes ao transporte e alimentação.

Atendendo à necessidade específica de cada estudo, alguns jovens eram movimentados de uma para outra província, beneficiando de um subsídio de 18 mil e 750 kwanzas/dia. Entretanto, o valor foi ajustado para 9 mil e 375 Kwanzas, em função dos desafios actuais.

Para reduzir tais custos e garantir a sustentabilidade da agência, Arnaldo Vicente explicou que adoptaram a estratégia de “contratação local”, recrutando jovens ao nível de municípios e comunidades. Deste modo, recebem uma ajuda de custo de cinco mil Kwanzas/ dia que pode variar consoante a distância.

Escassez de parceiros condiciona contratações

Arnaldo Vicente diz que o número de técnicos disponíveis na base de dados da agência é insuficiente para atender a demanda no país. Os cálculos apontam apenas para cinco técnicos por município do país. Este número poderá ser alterado caso se tornem parceiros do Instituto Nacional de Estatística (INE) e de empresas privadas de consultoria.

“Os estudos são ocasionais. Não havendo trabalho constante, muitos jovens acabam por desistir, visto que não têm como sustentar as famílias”, alertou, acrescentando que desta forma ficam impossibilitados de fazer novas contratações.

O responsável diz tratar-se de jovens competentes, com ensino médio concluído, experientes no desenvolvimento de inquéritos e já tiveram participações em estudos estatísticos realizados pelo Governo.

Questionado sobre os valores cobrados para a realização da pesquisa, o entrevistado salientou que os mesmos variam consoante a amostra pretendida pelo cliente, mas andam em conformidade com os valores estipulados por lei. De acordo com o estudo solicitado é definida a amostra.

É em função da mesma que o trabalho é realizado. Algumas pesquisas são realizadasnum dia, outras podem demorar semanas, meses ou até um ano, uma vez que o trabalho é realizado porta-a-porta.

No término do processo de recolha, os dados são apresentados à empresa de consultoria, que os processa e apresenta o resultado final ao cliente. “Geralmente as empresas, grupos políticos ou pessoas singulares, tomam as suas decisões estratégicas baseadas nos resultados”, concluiu