Mais de 500 trabalhadores da ZEE temem o desemprego com as privatizações

Mais de 500 trabalhadores da ZEE temem o desemprego com as privatizações

Mais de 500 trabalhadores das 22 fábricas da Zona Económica Especial (ZEE) temem ficar desempregados com p processo de privatização, revelou ontem, em Luanda, o primeiro secretário sindical da Fábrica BT-MT, Herbert Tembo. Em depoimento a OPAÍS, após a assembleia dos trabalhadores que teve lugar na sede da fábrica Vedatela, o sindicalista salientou que os funcionários estão conscientes do referido processo de privatização e das consequências que poderá causar nas suas famílias, caso os seus postos de trabalhos não forem acautelados. “Esta intenção já havia sido manifestada anteriormente pelo Titular do Poder Executivo, João Lourenço, por despacho, a 20 de Fevereiro de 2018”, frisou.

Acrescentando que, a par do mesmo, deve-se ter especial atenção ao destino que se dará aos funcionários. No documento, o Chefe de Estado orienta a criação de uma comissão de preparação e execução do processo de privatização em bolsa das empresas públicas de referência. Processo este que está sob alçada do Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), instituição responsável pela regulação e monitorização do sector empresarial público e pela execução da política e programa de privatizações das empresas do Estado. “Temos conhecimento que pelo menos sete fábricas já foram vendidas. Numa delas, com apenas 17 trabalhadores, a directora financeira avisou-os que serão indemnizados”, detalhou.

Empregos devem ser salvaguardados

Entretanto, defende que mais do que as indeminizações, deveriam ser criadas estratégias que garantissem a manutenção dos empregos de muitos dos trabalhadores com contratos por tempo indeterminado. No seu ponto de vista, os gestores deveriam optar por transferi- los para outras fábricas ali existentes ou fazer com que os novos proprietários permanecessem com o quadro de pessoal, de forma a valorizar o investimento feito com a formação in job e não só.

Salários abaixo do Câmbio do dia

A par disto, Herbert Tembo denuncia que as empresas têm dívidas avultadas com os trabalhadores, visto que os contratos foram celebrados em dólares e não beneficiaram de reajuste salarial, com a entrada em vigor da política de câmbio. “A taxa de câmbio aplicada pela empresa é de 16 mil kwanzas, enquanto nos bancos a nota de 100 USD está a ser comercializada por mais de 30 mil Kwanzas”, alertou. Acrescentando que esta situação perdura já desde 2016 e, por esta razão, decidiram expor os factos em ao público. A fonte defende que os gestores das diferentes fábricas devem convocar os funcionários e de forma transparente expor as medidas que pretendem tomar, de forma a evitar rumores e tranquilizar os funcionários. “Ao término da reunião decidimos expor as nossas inquietações ao Presidente da República, visto que já recorremos ao Ministério das Finanças e não obtivemos qualquer resposta”.

Barrado acesso aos jornalistas

Os sindicalistas convidaram diferentes órgãos de comunicação social a reportarem a assembleia de trabalhadores. Entretanto, alguns profissionais foram impedidos de entrar no recinto da ZEE pelos seguranças. Alguns dos que conseguiram tiveram o seu material apreendido, como aconteceu com um dos repórteres fotográficos, segundo Herbert Tembo. Com o objectivo de obter mais informações sobre o assunto, OPAÍS contactou o Gabinete de Comunicação e Imagem da referida instituição, tendo sido informado que desconheciam a realização da referida assembleia de trabalhadores. Júlio Domingos técnico do referido gabinete, declarou que até ao período da manhã de ontem desconheciam sequer os motivos para a sua realização. “

Não recebemos qualquer informação a respeito”, concluiu. Participaram na assembleia funcionários das Fábricas Betonar, Vadatela, BT-MT, INDU CARP, Bombo Água, Galvanoplastia, Unividro, Ferrugem, Matelectrica, indupackt, Angola Cabo, Indocabos, Telhafal, indo-tubos, Transplas, Induplastique, Mongotal, Metalmecânica, Nelflix, Palelalni, Indutivi. O IGAPE é a instituição responsável pela regulação e monitorização do sector empresarial público e pela execução da política e programa de privatizações das empresas do Estado. A ZEE está implantada numa área de 8.300 hectares infraestruturada, com água, electricidade e vias rodoviárias.