Eu já desconfiava um pouco da dupla cara de muitos angolanos, uma espécie de dupla personalidade ditada por “ponderações sociais” completamente complexas, inexplicáveis talvez, ou não. Ontem, um colega disse-nos, no jornal, que encontrou um ardina que reclamou da capa da edição. Segundo o ardina, alguns clientes se manifestaram contra a capa, dizendo que não levavam o jornal por ter um “paneleiro” na primeira página. Fiquei preocupado com as vendas, mas a manchete impunha-se pelo dia de luta contra a homofobia e por o Estado angolano ter descriminalizado a homossexualidade e ter reconhecido uma associação LGBT. Depois fui ver o desempenho da matéria na Internet, muita leitura, muitas partilhas. Se calhar, alguns dos que reclamaram ante os ardinas foram a correr ler, sozinhos, no computador ou no seu telefone. Isto dá que pensar. É como o que está a acontecer na vida política também, em que cada vez mais desconfio do que dizem os nossos políticos, sobretudo os do partido no Governo, porque depois, nas redes sociais, a coberto do anonimato, alguns deixam escapar muita coisa que não dizem em público. Se ler uma entrevista de um gay em público fica mal, porque a sociedade se sente “incomodada”, o que será que se passa no campo político? Adivinhem.