O samba e o amor de Chico Buarque valem prémio Camões 2019

O samba e o amor de Chico Buarque valem prémio Camões 2019

POR: Jornal de Notícias

É irresistível estabelecer a comparação, sem que isso diminua nenhuma das virtudes das duas personalidades, nem o tamanho de ambos os prémios. Bob Dylan venceu o prémio Nobel em 2016 e Chico Buarque o Prémio Camões 2019. Os dois compositores são vultos das artes e da música mundiais e não foram apenas distinguidos pelos percursos artísticos expressados através da música. Dylan é também poeta e Buarque juntou a dramaturgia e o romance à extensa e notável obra poética e musical, formando um percurso marcadamente literário.

“Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar [vencedor do Prémio Camões em 2016]”, reagiu Chico, numa curta declaração divulgada pela assessoria de Chico Buarque. “É evidente que este prémio é um reconhecimento pela poesia dele nas letras de música, que também são literárias, não só pelos livros. São poemas. Grandes poemas. A música “Construção”, por exemplo, é um poema até raro de se fazer”, diz o escritor Antonio Cicero, poeta, ensaísta e um dos membros do júri.

O mesmo se poderia de dizer de muitos outros poemas escritos para música por Chico Buarque, reflexões densas sobre o prosaico, sobre vidas que se vivem nas ruas, trágicas e mágicas, tão perto do céu e do chão, tão junto do corpo e do coração. Como “Samba e Amor”, em que Chico tão bem se define. “No colo da bem-vinda companheira / No corpo do bendito violão / Eu faço samba e amor a noite inteira / Não tenho a quem prestar satisfação”. Aos 74 anos, Chico Buarque é o 13º brasileiro a ser galardoado com o Camões, que vale 100 mil euros, e sucede ao escritor cabo-verdiano Germano Almeida. Em 1966, publicou o seu primeiro conto, “Ulisses”, no suplemento literário do jornal “OEstado de S. Paulo”. A obra viria a ser incluída, mais tarde, no livro “A banda”. Seguem-se a novela “Fazenda modelo”, em 1974, o poemário infantil “Chapeuzinho Amarelo” e “A bordo do Rui Barbosa”, publicado em 1981 e escrito durante a década de 60.

A estreia no romance acontece em 1991, com “Estorvo”, que venceu o seu primeiro Jabuti de melhor romance no ano seguinte. Em 2004 e 2010 conquista o mesmo prémio, com “Budapeste” (de 2003) e “Leite derramado” (2009). O mais recente romance,”Irmão alemão”, é publicado em 2014. Também é autor de vasta dramaturgia. A “Ópera do Malandro” (1978) é provavelmente a mais conhecida . O anúncio da entrega do maior prémio de literatura em língua portuguesa, instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, foi feito ontem ao início da noite. Além de Antonio Cícero, o júri incluía também Clara Rowland e Manuel Frias (Portugal), Antônio Carlos Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola) e Nataniel Ngomane (Moçambique).