Taxistas denunciam extorsão por efectivos do SIC e ameaçam greve em Cacuaco

Taxistas denunciam extorsão por efectivos do SIC e ameaçam greve em Cacuaco

O taxista Luís António Mingas, presidente da Staff 7 Chaves da rota Benfica Cacuaco, revelou a OPAÍS que são obrigados a pagar, indevidamente, entre 30 a 60 mil kwanzas para reaverem as suas viaturas quando apreendidas pelas forças da Ordem. A zona transformou-se num “terreno fértil de extorsão para os efectivos” policiais , pelo facto de os condutores de azuis e brancos dividirem os mais de 60 quilómetros da via expressa Fidel de Castro em duas rotas, do Benfica ao desvio do Zango e do desvio do Zango a Cacuaco. Por cada uma delas, o passageiro desembolsa 150 Kwanzas.

Quem percorre-a na sua totalidade paga 300 Kwanzas. Como essa tabela de preços não tem o beneplácito do Governo Provincial de Luanda, segundo eles, os efectivos da Polícia económica nessa circunscrição aproveitam a deixa para lhes extorquir dinheiro. Caso se recusem a dar, as viaturas são apreendidas e eles são levados a tribunal para julgamento sumário. “Os senhores da Polícia Económica não entendem dessa forma. Quando chegamos ao Cacuaco, eles questionam aos passageiros de onde estão vindo e quanto pagaram”, explica. Entretanto, se um dos passageiros disser que pagou 300 kwanzas por sair do Benfica até Cacuaco, temos problema.

A viatura é apreendida e encaminhada para o parque do Posto de Polícia da Caop, afecto à 38ª Esquadra, na comuna da Funda.Tudo porque os polícias alegam que de Cacuaco ao Benfica, e vice-versa, é uma única rota e o preço estipulado é de 150 kwanzas. Segundo Luís Mingas, do Benfica até ao desvio do Zango são 30 quilómetros e do desvio do Zango até Cacuaco 34 quilómetros, totalizando 64 quilómetros, e que pela distância não têm como cobrar apenas 150 kwanzas.

Cerca de 30 viaturas apreendidas diariamente

Segundo os nossos interlocutores, diariamente os polícias chegam a apreender cerca de 30 viaturas e os seus proprietários são obrigados a desembolsar entre 30 e 50 mil kwanzas para as reaver. Suspeita-se que o valor seja pago à margem da lei e que não vai parar aos cofres do Estado. Um dos factores que alimentam essa desconfiança prende-se com a falta de comprovativos de pagamento. Luís Mingas diz que figura entre os condutores que já foram vítimas. Contou que viu-se obrigado a pagar, vezes sem conta, para não ficar sem a sua fonte de rendimento. A última vez recusou e, em consequência, foi julgado sumariamente e condenado a pagar uma multa de 147 mil kwanzas. Tudo teve início ao ser abordado por dois agentes da Polícia Económica. Voltaram a pedir-lhe dinheiro, como recusou, o caso tomou tais proporções. Julgando que fosse ganhar a causa em tribunal, acabou por ser obrigado a pagar um valor cinco vezes mais alto. Além de que, ficou vários dias impedidos de trabalhar. “Quando fui levado a tribunal, os juízes estavam ocupados, não fui ouvido na hora. Já no dia seguinte fui ouvido, mas os polícias que apreenderam a viatura não apareceram. O caso foi novamente adiado”, frisou, fazendo menção de que esse processo durou cerca de uma semana. De acordo com o nosso interlocutor, essa morosidade e a sentença que é aplicada aos taxitas que se recusam a pagar leva muitos deles a ceder à extorsão dos polícias.

Em negociações com o GPL

Agastados com a situação, a direcção do Núcleo de Taxistas de Cacuaco está a negociar com a direcção do Departamento de Mobilidade do Governo Provincial de Luanda no sentido resolverem esse problema. Na semana passada, tiveram uma reunião com Amadeu Campos, director desse gabinete, numa das salas do Ministério dos Transportes, da área de Mobilidade e Tráfego de Luanda, em que manifestaram o seu descontentamento. Do gestor público receberam garantias de que o problema será solucionado. Entretanto, enquanto aguardam, mobilizaram os seus filiados para fazerem uma greve no próximo dia 10 de Junho, isto é, numa Segunda- feira. Para sustentarem a necessidade de aumentar a tarifa da corrida, argumentam que os poucos autocarros públicos que percorrem esse trajecto cobram 100 Kwanzas por pessoa.

“Todos os transportes públicos que ali funcionam fazem duas rotas e nunca foram interpelados”, declarou. Acrescentou de seguida que “se o autocarro do Estado faz isso, porquê que nós temos de cobrar apenas 150 kwanzas?”. Luís Mingas exemplificou também o caso dos colegas que fazem a rota Estalagem-Catete. São cerca de 50 quilómetros e os taxistas cobram 500 kwanzas por pessoa, sem serem importunados pela Polícia. Para os jovens, mudar de rota não constitui problema. Estão conscientes de que quem sairá prejudicada será a população que usa esses meios de transporte. Estima-se que mais de 100 taxistas suspenderão as suas actividades caso as autoridades competentes não resolvam o problema antes do dia 10 de Junho. Os taxistas, vulgo ‘candongueiros’, dizem que na época em que se definiu o preço da corrida por rotas a Via Expressa não estava concluída, razão por que a tabela indicativa não faz menção aos seus mais de 60 quilómetros.

Taxistas exigem revisão do preço da passagem na Via Expressa

O vice-presidente da staff dos Baianos, Pedro Ngola, disse que, apesar de nunca ter sido abordado por tais alegados malfeitores, tem conhecimento de que os seus associados sofrem constantemente por viverem tais situações. A solução que eles encontraram é pagar no momento da apreensão

O jovem comunga da opinião de que por ser longa a distância, o preço da corrida não pode ser de 150 Kwanzas para todo o trajecto, mas sim 300 Kwanzas. Alegou que os clientes compreendem a situação e pagam sem reclamar. Têm em consideração os custos que eles têm com o combustível. “Temos passado momentos angustiantes. Já recebi muitas reclamações dos meus associados e, nalguns casos, fui obrigado a pagar para que alguns carros da minha Staf fossem devolvidos. Por essa razão, estamos a pensar em fazer a greve”, disse. Já o taxista Zilau Pamba, um dos membros da staff, classifica a situação de preocupante e que devia ser vista com alguma atenção por quem de direito, por se tratar de pessoas que estão a enriquecer ilicitamente sem o Estado saber.

De acordo com o jovem, muitos dos seus colegas preferem fazer a rota Gamek-Rocha-Aeroporto do que fazer Benfica até Cacuaco, devido a esses constrangimentos. “Eu acho que o Governo de via colocar mais autocarros públicos nessas vias com o preço de 100 kwanzas para facilitar os passageiros. Pedimos a quem é de direito que veja essa situação. Nós levantamos- nos à s 4horas da manhã para trabalhar e sustentar as nossas famílias e não para sermos extorquidos. Também temos patrões que não querem saber”, disse. Um outro taxista descontente, que também foi vítima três vezes, é Anastácio Mungupio, Presidente da Staff do Perfil do Barça. Trabalha na mesma via desde que foi construída. Considera que a situação só é recorrente porque o país ainda está desorganizado.

“Essa Polícia Económica leva muitos táxis e alega ser por especulação de preços. Especulação é o que eles fazem todos os dias quando levam os nossos meios de trabalho e exigem-nos dinheiro em troca. Nós pagamos para não chegar ao tribunal. É tudo uma farsa, mas isso tem de acabar”, clama. Acrescentou de seguida que “eles actuam no Cacuaco e Via Expressa. O Governo só não reforça a frota de transportes públicos que faz essa rota porque sabe que vai perder. A distância não compensa. Porquê que nos obrigam a cobrar uma distância de mais de 60 quilómetro a 150 kwanzas?” questiona.

Polícias recusam-se a esclarecer o assunto

Atendendo à gravidade das denúncias, a equipa de reportagem de OPAÍS fez uma ronda ao local onde as viaturas são levadas depois de serem apreendidas, afecto à 38ª Esquadra da Caop, na Funda. Encontramos algumas delas. Segundo o Oficial Dia, o espaço serve apenas para o parqueamento das viaturas apreendidas e qualquer situação relacionada com o dinheiro de que são alvo os taxistas deve ser abordada com a Direcção da Polícia Económica de Cacuaco. Abordado pelo OPAÍS, via telefónica, o inspector-chefe Luís Inácio, responsável do referido departamento da Polícia Económica, prometeu prestar esclarecimentos sobre o assunto a posteriori. No dia marcado, a nossa equipa compareceu no Gabinete da Polícia Económica do Comando de Divisão de Cacuaco, mas não foi recebida pelo oficial com quem agendara o encontro.