Futuro do petróleo e gás começa a ser discutido hoje em Luanda

Futuro do petróleo e gás começa a ser discutido hoje em Luanda

POR: Miguel Kitari e Iracelma Kaliengue

O Orçamento de Angola é suportado pelo petróleo, produto com um peso de 95% na balança de exportações, fazendo do país dependente, em grande medida, deste recurso. É por isso que as autoridades buscam melhor forma de rentabilização do petróleo. A criação da Agência Nacional de Petróleos é um sinal claro nesta direcção. Com efeito, começa hoje em Luanda uma conferência internacional que vai juntar especialistas nacionais e não só, outros virão para abordar, durante três dias, vários temas relacionados com o sector do petróleo e gás. A organização avança a confirmação de 800 pessoas, entre delegados e convidados, que vão interagir em torno de um sector fulcral para a economia angolana.

O evento é uma organização da África Oil & Power, com o apoio do Ministério dos Recursos Minerais e Petróleo e da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG). Guillaume Doane, CEO da AOP, organizadora da Conferência Angola OIl & Gas 2019, entende que a indústria de petróleo e gás transitou de um período de baixa rentabilidade do petróleo para um período de relativa estabilidade. “Para produtores africanos como Angola, que estão comprometidos a reverter o declínio da produção, o actual ambiente de preços pressiona os países a reformarem as suas indústrias e modificarem os termos de investimento que os tornarão mais competitivos em comparação com outras jurisdições”, considera. Guillame Doane considera que a indústria de gás de Angola tem um enorme potencial, realçando que o Angola LNG foi uma incursão crucial no sector do gás natural e os esforços do Governo para monetizar o gás natural irão catalisar um maior desenvolvimento.

Para ele, o Angola LNG proporcionou ao país uma base sólida para desenvolver ainda mais o sector do gás natural. Na sua recente abordagem sobre o futuro do gás natural em Angola, NJ Ayuk, advogado, presidente da Câmara de Energia de África, disse que “dado o foco de política de Angola no gás, o país pode tornar-se um sério actor africano e global do gás nos próximos anos. Lembrou que, em Maio de 2018, foi aprovado o Decreto Presidencial 7/18, a primeira lei que se destinou especificamente a regular a prospecção, pesquisa, avaliação, desenvolvimento, produção e comercialização de gás natural. Até à data, apenas o Projecto Angola LNG beneficiou de um enquadramento legal e fiscal tão especial. O especialista diz que grandes centros de procura de gás, como a África do Sul, estão próximos de Angola e permitiriam que ele fosse um promotor do uso do gás da África para a África, em vez de usar a tradicional rota de exportar os nossos recursos para benefício de outros mercados.

Sublinha que a criação da ANPG coloca Angola ao nível das melhores práticas da indústria de petróleo e gás, e é um passo positivo para promover a boa governação e transparência dentro da indústria angolana. “Esperamos que os investidores e operadores estrangeiros respondam de forma muito positiva a esta medida”, disse. Tudo acontece numa altura em que a produção de petróleo está abaixo de 1,5 milhão de barris de petróleo por dia (bpd), abaixo do pico de quase 1,9 milhão de bpd em 2008. Sobre o assunto, NJ Ayuk chama à atenção: “Isso não significa que a era do petróleo de Angola esteja a terminar. Reformas recentes da administração de João Lourenço foram ouvidas globalmente e as principais companhias do mundo estão a investir em Angola”, disse.

As refinarias que o país precisa

Apesar de ser um dos grandes produtores de petróleo em África, só ultrapassado pela Nigéria, Angola ainda não dispõe de condições para refinar petróleo suficiente, capaz de dar resposta às suas necessidades de consumo. Por isso, estima-se que mais de 70% dos refinados são importados, estando a actual Refinaria de Luanda a produzir apenas um quarto das necessidades. Todavia, há projectos do Executivo de João Lourenço que apontam para a construção de duas refinarias, sendo uma no município do Lobito – província de Benguela, com capacidade para 200 mil barris diariamente; e outra será em Cabinda, região com actividade produtiva intensa, cuja capacidade de refinação é de 60 mil barris de petróleo bruto por dia. Quanto à do Soyo – província do Zaire -, a projecção inicial era para 110 mil barris de petróleo por dia.