Reis fantasmas e falsos sobas preocupam autoridades tradicionais

Reis fantasmas e falsos sobas preocupam autoridades tradicionais

O rei Ekuiki V do Bailundo (de nome de registo Armindo Francisco Kalupeteca) esclareceu que casos do género (falsos soberanos) registam- se constantemente, sendo que os prevaricadores se auto- proclamam autoridades legítimas e com direito à ocupação de terrenos férteis. Disse que para se resolver esse assunto a linhagem é muito importante. Como rei histórico consagrado na história universal, é de opinião que os reis não reconhecidos e os “fantasmas”, representam um problema grave que o Executivo pode solucionar recorrendo aos registos históricos.“Os reis estão consagrados na história e são da linhagem. Existem muitos reis fantasmas e não consagrados na história, porque um reino é uma etnia linguística.

Uma tribo e um império. Ninguém pode criar mais um reino dentro de um reino. Não é um negócio”, frisou. O rei Ekuiki V realçou que o Ministério da Cultura devia fazer um levantamento histórico para descobrir os reinos consagrados na história universal. “Busquem a história e vão descobrir muitos falsos reis e sobas. Muitos encontram- se mesmo aqui entre nós. A nível do país só existem cinco reis”, afirmou. Por outro lado, considerou o encontro como tendo sido importante, pelo facto de o Estado ter reconhecido a importância das autoridades tradicionais e atribuir-lhes a sua dignidade.

Falsos sobas influenciam negativamente a resolução de problemas

Esperança António, Soba grande do município da Cela, disse, por sua vez, que está preocupado com o número de falsos sobas na sua área de jurisdição, que se têm aproveitado do povo. Declarou que eles estão a influenciar negativamente a resolução dos problemas sociais dos habitantes da referida localidade, sendo que os mesmos não têm domínio da gestão tradicional das comunidades. Já o presidente da Associação Angolana de Autoridades Tradicionais (ASSAT), Virgílio Mendes Jorge, disse estarem na presença de vários reis e sobas falsos que não exercem o poder tradicional na base.

Explicou que o poder tradicional é um poder da linhagem familiar que se exerce dentro das comunidades e tem o seu território, rio e população registados na administração municipal ou comunal da zona em que reside. Não é um poder que se transfere de um lado para o outro. É um poder que se exerce a nível local porque representa os antepassados daquele território. “Temos registados regedores, sobas, reis credenciados por outras organizações residentes em Luanda e que se fazem passar por representantes do trono diante das autoridades locais. Há alguns que vão a outras províncias fazer trabalhos como representantes de um reino ou sobado. Estamos diante de uma falsificação”, afirmou.

Governo chamado a pôr fim à farsa

Os participantes no III Encontro Nacional sobre as Autoridades Tradicionais, que decorreu durante dois dias na Academia de Ciências Sociais e Tecnologias (ACITE), esperam que o Governo acabe com os usos e abusos do poder tradicional por pessoas “anónimas”. Apesar de não terem números exactos de sobas e reis falsos, garantem serem muitos, principalmente nas províncias do Norte e Leste do país. Por esta razão, convidam a população a denunciar os protagonistas de tais actos que põem em causa a idoneidade das autoridades tradicionais. A ASSAT existe desde 2003 e controla 41 mil autoridades tradicionais em todas as províncias. O evento promovido pelo Ministério da Cultura decorreu sob o lema: “As Autoridades Tradicionais Face ao Estado Moderno no Fortalecimento da Democracia”.

O encontro teve como objectivo trazer à reflexão o lugar e o papel das Autoridades Tradicionais na promoção do empreendedorismo comunitário e nos processos de liderança comunitária e das autarquias. Serviu também de plataforma para se discutir e apresentar subsídios à Proposta de Lei das Autoridades Tradicionais e abordar os critérios/regras de sucessão e de legitimidade das Autoridades Tradicionais. O escritor e professor universitário Luís Kandjimbo moderou um dos painéis que teve como prelector Celso Malavoloneke, que falou da “Legitimidade e linhagem numa perspectiva comparada”. Carlos Figueiredo, outro prelector, falou sobre “o Lugar e o Papel das Autoridades Tradicionais nos Processos de Liderança Comunitária e de Autarquias Locais”. Já o padre Pio Wakussanga abordou o tema “Heranças, Género e a Gestão de Conflitos. O Papel das Autoridades Tradicionais”. O encontro não só juntou as autoridades tradicionais como também diferentes individualidades, entre as quais investigadores nacionais e internacionais ligados à antropologia e demais áreas, permitindo, desta forma, um diálogo entre todos os intervenientes.