Autoridades tradicionais pedem aumento dos subsídios

Autoridades tradicionais pedem aumento dos subsídios

O soba grande do município da Cela, província do Cuanza-Sul, Esperança António, mais conhecido por soba Gasolina, disse que a preocupação foi apresentada ao Executivo no último encontro realizado em Luanda, acompanhada de um pedido de actualização. Os sobas grandes, reis e regedores auferem 20 mil kwanzas por mês. “O subsídio dos sobas é muito baixo. Pedimos à senhora Ministra da Cultura para rever essa situação, porque o valor que nos pagam não chega para fazer nada”, frisou, ressaltando que há alguns anos, com esta quantia, conseguiam comprar vestuário e alimentos. De acordo com o soba “Gasolina”, apesar da idade, actualmente muitos deles vivem da agricultura de subsistência e da ajuda alimentar “irregular” prestada pelo Governo e organizações não-governamentais.

Com essa reclamação, pretendem pressionar as entidades de direito a valorizarem o papel da autoridade tradicional, pois, para alguns deles, este montante serve apenas para comprar “um monte de tabaco”. De preocupações que afligem os sobas não é tudo. Há ainda a das ocupações de terras férteis desencadeadas por alguns falsos sobas. Situação que consideram que só terá fim se o Governo submeter todos os líderes tradicionais a realizarem prova de vida. “Nós, os sobas, não temos casa. Passamos por muitas dificuldades. Temos de andar mais de 30 quilómetros a pé por falta de meios de transporte. Apenas pedimos ao Governo para nos apoiar mais, porque também desempenhamos uma função importante no seio das comunidades”, clamou.

Cerca de seis mil crianças fora do ensino por falta de professores

O outro problema que aflige o soba grande da Cela é a falta de professores na sua área de jurisdição, o que está a provocar, anualmente, o aumento de crianças fora do ensino. Actualmente, o seu município não tem falta de escolas. A grande preocupação cinge-se à falta de professores que muitas vezes são enquadrados em alguns bairros, mas, por razões que diz desconhecer, acabam desistindo. Em consequência, há seis mil crianças em idade escolar fora do sistema nessa zona. “Pedimos ao Governo que veja essa situação, porque o número de crianças fora do ensino preocupa qualquer autoridade tradicional. Nós é que estamos em condições de dizer o que se passa com o nosso povo”, disse.

De acordo com o nosso interlocutor, o Executivo aponta a existência de 517 sobas no seu território, todavia, não condiz com a realidade. Muitos não existem. Para fazer prova, disse que tem cadastrados 458 sobas e os outros 59 são falsos. A mesma opinião sobre a necessidade de se aumentar o subsídio é partilhada por António Salvador, rei da região dos Dembos. Por outro lado, associou o aparecimento de falsos réis que não pertencem a linhagem real. Já um outro soba, que preferiu o anonimato, considerou o III Encontro Nacional sobre as Autoridades Tradicionais, que decorreu durante dois dias na Academia de Ciências Sociais e Tecnologias (ACITE), como um sinal de reconhecimento, por parte do Executivo, do papel preponderante que eles desempenham na sociedade.

Por outro lado, explicou que a linhagem é muito importante na indicação de qualquer rei e soba. O responsável considera o valor que auferem mensalmente como um “grande desrespeito” pelo que, urge fazer-se o devido acréscimo, pois muitas famílias de sobas são obrigadas a fazer biscatos para sobreviver. “Sobem tudo e esquecem as autoridades tradicionais que também precisam. Antigamente, com este valor a gente conseguia viver, mas a vida tornou-se cada vez mais cara e no interior não é diferente. Também precisamos e temos os mesmos direitos e 20 mil Kwanzas diante dos problemas que temos é nada”, desabafou o soba, de 60 anos.

Vias de acesso às comunas encontram-se totalmente danificadas

O regedor municipal de Chongoroi, província de Benguela, Feliciano Cakweya, apontou as dificuldades de circulação de pessoas nas comunas devido ao avançado estado de degradação das vias de acesso como outra barreira que urge ser vencida. Em consequência, o próprio administrador municipal não consegue visitar nenhuma comuna porque até as pontes que que ligam algumas delas encontram-se danificadas. “Este ano choveu muito pouco. A seca que assola o Sul de Angola, propriamente a província do Cunene e uma parte do Namibe, também atingiu uma parte dos nossos municípios”, frisou. Acrescentou que “temos problemas de energia eléctrica e de água potável, apesar de habitarem numa zona banhada por dois rios grandes”. Feliciano Cakweya defendeu, por outro lado, a criação de um núcleo do ensino superior na região, assim como uma escola para acolher os alunos do II ciclo de formação geral.

Declarou que no município do Chongoroi existem jovens que terminaram o ensino médio e a faculdade, coisa que não acontecia nos anos anteriores. Para tal, tiveram de se sacrificar andando vários quilómetros e correndo perigo. “O que pedimos é que essas escolas fiquem mais próximas dos nossos munícipes. Há estudantes que têm de andar mais de 150 quilómetros até à cidade de Benguela para beneficiar de um ensino de qualidade. Isso é dispendioso. São esses quadros que depois ajudam na educação”, disse. Sobre a Saúde, o regedor prevê melhoria com a execução do projecto de construção de postos médicos em curso. A maior dificuldade nesse sentido prende-se com a falta de medicamentos. Actualmente, a doença que mais afecta a população daquele município é a malária, que está a   ceifar a vida de muitas crianças.

Registados 20 óbitos num só dia por Malária e Paludismo

Segundo o regedor Feliciano Cakweya, na semana passada visitaram uma localidade do Chongoroi e encontraram, num só dia, 20 óbitos de crianças que faleceram com a epidemia da Malária, algo que tem preocupado não só as autoridades tradicionais, mas também a própria população, porque os óbitos de crianças tendem aumentar. Por essa razão, pede ao sector da Saúde que aumente mais técnicos nessa área e medicamentos para acudir nesta situação e diminuir o número de mortes.

O líder tradicional considera necessário, também, o aumento de técnicos no sector da veterinária para tratar das enfermidades que afectam o gado bovino, sendo a riqueza da província de Benguela, particularmente do município do Chongoroi, que faz fronteira com municípios da Huíla e Namibe. “É necessário que o sector da veterinária seja potenciado com medicamentos e técnicos para que, em qualquer situação de emergência, acudam os nosso gado rapidamente, e paremos de registar tantas mortes de animais”, apelou.