Partilha de casa entre famílias propicia violações no Panguila

Partilha de casa entre famílias propicia violações no Panguila

Oliveira Alberto, ex-morador do extinto bairro da Favela, no prol ongament o da Nova Marginal, próximo ao Mausoléu António Agostinho Neto, em Luanda, conta que tem sido vítima de abusos por parte de cidadãos com quem partilha a residência. O cidadão, que vive nas casas sociais do Panguila desde 2011, divide a casa com três famílias, uma situação que considera desumana. Cada família ocupa um dos três quartos da casa e compartilham as mesmas sala e cozinha, por isso há o registo de várias disputas. “Muitas vezes, o vizinho come a minha comida, tenta violar a minha mulher ou a minha filha.

É tanta coisa por que passamos por causa da pobreza!” lamenta. De acordo com o jovem, há registos de muitas pessoas que são abusadas sexualmente pelos próprios vizinhos, ou aliciadas por causa da fome. Teresa Adão, mãe de cinco filhos, e viúva, relatou a mesma situação, acrescentando que em muitos casos, o facto de não terem nada para comer tem levado as mulheres a prostitui-se. Sem emprego, a nossa interlocutora sobrevive de biscates. Ela vem também do bairro da Favela, partilhava a casa com três outras famílias, o seu marido morreu e um dos senhores que habitava a mesma casa tentou violá-la, e não foi só uma vez. Por essa razão, Teresa e os filhos vivem em situação deplorável, uma vez que não foram comtemplados com residências, porque dizem que o nome do seu falecido marido e o seu não constam na lista da Administração.

“O caso está no tribunal e estão a nos pedir 27 mil Kwanzas, mas como não tenho, vivo de favores”, conta ela, que se emocionou e começou a lacrimejar. Às vezes é obrigada a deixar os filhos em casa para ir procurar algo para os alimentar e, neste “abandono”, muitos adultos aproveitam-se para abusarem. Por sua vez, o antigo coordenador do extinto bairro da Favela, Manuel António, explicou que desde 19 de Novembro de 2010 que vivem nessa situação. Foram, no total, 1.800 famílias despejadas, e só 524 pessoas actualmente possuem casa própria e 634 famílias partilham residências, num regime de três famílias, e até quatro famílias em alguns casos.

“Diante dessa situação desumana, solicitamos à senhora governadora Mara Quiosa que intervenha junto do Ministério da Construção para a resolução deste mal que muito nos afecta, porque tudo isso começou no tempo do Bento Soito, antigo vice-governador de Luanda”, disse. Explicou que, em Dezembro de 2017 houve um novo levantamento para saber das pessoas em falta, mas não sabem por, ora, quem são os beneficiados, porque tanto ele como o seu colega foram afastados pela nova Administração do Panguila. Por essa razão, Manuel António fez reclamações e até escreveu cartas dirigidas a governadora Mara Quiosa e ao ministro do Território, mas nunca foram recebidos por essas entidades. Neste caso, frisou, é preciso que os programas sejam eficientes e eficazes, de forma a merecerem o financiamento.

Famílias dividem a mesma casa há nove anos

Realojados em Dezembro de 2010, no chamado sector 10 do Panguila, os ex-moradores do extinto bairro da Favela, que se localizava no prolongamento da nova marginal, próximo ao Mausoléu, em Luanda, continuam a clamar por ajuda. Depois de serem instalados no Zango, área que actualmente pertence à jurisdição da província do Bengo, os mesmos pensavam que o sonho de obter a casa própria chegaria em pouco tempo, mas, até à data desta reportagem, mais de 500 famílias encontram-se a partilhar residências.

A situação está a deixar os residentes bastante aborrecidos, ao ponto de acusarem a equipa de realojamento de os ter enganado. Segundo apurou OPAÍS, as residências em causa dispõem de três quartos, com cerca de quatro metros quadrados, uma sala, cozinha e casa de banho. Cada quarto é ocupado por uma família, sendo que outros compartimentos são partilhados. Domingas Alberto divide a casa com mais dois casais que têm mais de 10 filhos cada, conta que vive há quase nove anos nestas condições e tem sido difícil. A mesma já foi vítima de dois assaltos na sua residência. “Actualmente são 25 pessoas, cada família num quarto e dividimos a sala, mas a situação é precária, porque não há respeito. Cada um entra no horário que quer, come a comida do outro, enfim, é muito sofrimento”, desabafa.

Já Nicolau António disse ser muito triste dividir a casa com uma pessoa que você não conhece e nunca viu em toda a sua vida. Desde o dia 14 que Nicolau e sua família dividem a casa com três famílias que conheceram apenas no bairro do Panguila. Segundo Nicolau, além de violações e assaltos à mão armada, o bairro também serve de esconderijo de viaturas roubadas. “E muitas dessas viaturas são roubadas na cidade de Luanda e em outras províncias que fazem fronteira com o Bengo. Alguns meliantes se escondem-se aqui, porque o bairro parece estar esquecido”.