Mbanza Kongo: Problemas sociais na ordem das preocupações dos munícipes da cidade “Património Mundial”

Mbanza Kongo: Problemas sociais na ordem das preocupações dos munícipes da cidade “Património Mundial”

POR: Jorge Fernandes e Maria Teixeira, em Mbanza Kongo

Abordados pela reportagem do OPAÍS, alguns munícipes lamentaram a situação da cidade e solicitam às autoridades competentes o melhoramento dos serviços básicos a que têm direito, bem como clamam à classe empresarial para direccionar os seus investimentos ao município que se tornou num dos centros do turismo no país.

Para os interlocutores, a vida na cidade de Mbanza Congo chega a ser bastante “incómoda”, quase que sem alternativas para os cidadãos, sobretudo os jovens, que ocupam os seus tempos livres em vulgaridades, facto que leva a que alguns deles enveredem pela criminalidade. Para o estudante João Massango Mateus, 25 anos de idade, que sempre viveu em Mbanza Congo, a cidade tem problemas sérios. Só tem movimento quando há efemérides ou quando recebem individualidades do aparelho do Estado. “A cidade só está embelezada por causa da festa, depois de uma semana voltará à mesma. Este município nos finais de semana chega a parecer fantasma, porque fica sem vida e muitos jovens preferem deslocar-se a Luanda à procura apenas de ambientes”, conta. Para o entrevistado, a cidade precisa de mudar e ganhar vida, porque a falta de emprego para os jovens tem contribuído para esta ociosidade.

“O município tem energia em alguns pontos e isso é bom, mas a falta de emprego e oportunidade para nós, os jovens, é um grande problema. Não podemos esperar tempos de festas para mudar um pouco a cidade, sendo que depois os problemas se mantêm”, apontou. Contou ainda que em termos de educação, o município oferece apenas uma universidade na área de pedagogia, o que obriga aos estudantes do Puniv, e sem condições para o prosseguimento dos estudos numa outra província, a seguir o curso por falta de opção. Realçou ainda o facto de a cidade, por ser Património Mundial, dever atrair mais investidores e apostar na criação de mais universidades e postos de trabalho, bem como na melhoria das vias de acesso em alguns pontos que estão degradadas. Por sua vez, Pedro Ndongala, de 28 anos, nato da cidade, explicou que apesar da vida ser muito difícil nesta urbe, o Governo tem como criar postos de trabalho para inverter a situação.

Para ele, a falta de empregos tem contribuindo para o aumento da criminalidade, apesar dos esforços da Polícia local. “Todos os meus amigos estão nessa vida por causa da frustração do desemprego. Nós queremos que se faça esforços para que se aumente o número de empregos. Como estudante, tem sido difícil ver essas coisas”, conta. Hoje em dia, para ajudar a sua família trabalha na empresa Jovens dos Amigos, criada para limpar a cidade. Sebastião Menayame tem a mesma opinião que a dos munícipes que o antecederam. Pai de oito filhos, o interlocutor reafirma que a vida é mesmo dura. Como carpinteiro e camponês, encontra dificuldades na hora do escoamento dos seus produtos. Para sustentar a sua família tem de recorrer a vários biscates. Essa e outras situações têm-no desanimado muito. Segundo o seu desabafo, a vida corre-lhe muito mal e já pensou em emigrar, mas por causa da família teve de desistir, pois não era para si a melhor a solução. “Espero que a vida na nossa cidade mude para que essas festas não sejam só para demonstrar o que está bem, mas pensem também no bem-estar do povo”, desabafou.

Embaixador de Angola na UNESCO aconselha melhoramento das vias de acesso a Mbanza Kongo

Com vista a uma maior actracção de turistas, dinâmica e sustentável, o embaixador de Angola junto da UNESCO, Sita José, recomenda o melhoramento das vias principais que conduzem até ao centro histórico de Mbanza Kongo. O responsável falava à margem da I edição do Festival Internacional de Cultura Kongo, que hoje encerra e assinala o 2º aniversário da inscrição da cidade na Lista do Património Mundial da Humanidade. Relativamente aos objectos e até ao centro histórico de Mbanza Kongo. O responsável falava à margem da I edição do Festival Internacional de Cultura Kongo, que hoje encerra e assinala o 2º aniversário da inscrição da cidade na Lista do Património Mundial da Humanidade.

Relativamente aos objectos e todo o acervo que guindaram Mbanza Kongo à respectiva Lista da Unesco, é, em sua opinião, notável o tratamento que está a ser dado aos referidos objectos inscritos, pois eles concorreram para a obtenção desse estatuto, daí que devem continuar a merecer os melhores cuidados. “Os sítios inscritos estão de facto protegidos e valorizados. Porque se não houver esse cuidado, corre-se o risco de vir a ser desclassificado, pois não basta apenas inscrever-se. Por outro lado, trata-se de um cumprimento exigido pela UNESCO, que se situa na óptica de fazer conhecer este património, o que foi antes da chegada dos europeus e todo seu histórico”, apontou. O facto de Mbanza Kongo ter conseguido reunir nesta 1ª edição do festival representantes dos territórios que integravam o antigo do Kongo, não só o Norte de Angola, mas também o Congo Democrático, o Congo Brazzaville e o Gabão, é para o embaixador na UNESCO, um ganho a assinalar.

“Limpeza será contínua mesmo depois da festa”, garante administradora de Mbanza Kongo

Quanto ao saneamento básico da cidade, a administradora, respondendo ao clamor dos munícipes, segundo o qual a cidade só é limpa e embelezada em dias de festa, Nzuzi Makiesse garantiu que há-de ser contínua. Entretanto, solicita a colaboração dos habitantes no cumprimento das suas obrigações quanto à produção de resíduos, pois uma vez cumprindo- se este desiderato, está-se também a trabalhar para a prevenção de doenças, como é o caso da malária, que mais preocupa as autoridades locais. Por outro lado, depois da elevação da cidade a Património Mundial, embora sem estar em posse dos dados fiáveis da delegação da Cultura no município, a administradora Nzuzi Makiesse avançou a estimativa de 50 turistas dia à reportagem do OPAÍS, sendo que o número terá aumentado durante as festividades da 1ª edição do Festival Internacional de Cultura Kongo, que hoje encerra.

Entretanto, defende o melhoramento das vias de acesso à cidade, porquanto é um assunto que já está a merecer tratamento das autoridades centrais e deverá ser apresentado novamente ao Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, que deverá visitar a província a partir do próximo dia 18 de Julho. Relativamente à escassez de serviços de hotéis e similares, Nzuzi Makiesse reconhece a exiguidade de quartos, mas apela ao empresariado nacional e estrangeiro a investir na província, pois, para esse efeito, há toda a disponibilidade para cedência de espaços, desde que sejam projectos viáveis. “O Governo sozinho não pode fazer tudo. Convidamos a classe empresarial a vir investir na província. Não há qualquer tipo de burocracia, antes pelo contrário, será um ganho para todos nós, porque vai criar novas infra-estruturas, e ainda vai proporcionar empregos directos e indirectos à nossa população”, manifestou a dirigente. Saliente-se que, a cidade de Mbanza Kongo foi a capital do antigo Reino do Kongo, cujo território se estendia para o Norte de Angola, bem como para os espaços que hoje pertencem à República do Gabão, Congo Brazzaville e República Democrática do Congo.