O teatro da nossa vida

O teatro da nossa vida

Há uns dois ou três anos, uma reportagem de OPAÍS relatava a venda da pele de animais angolanos nos países limítrofes, em especial na Namíbia. Se calhar, alguns dos sapatos de couro que se importam são feitos com a pele angolana vendida baratinho, porque não tratada sequer. Dos combustíveis, bem, isso é mais do que sabido, vendemos o petróleo bruto e depois gastamos o dinheiro a comprar derivados do petróleo. Mas não é tudo. Extraímos montes de diamantes do nosso subsolo e depois, para o noivado, por exemplo, as joias de diamante são compradas lá fora. Isto para não falar do diamante de uso industrial. Agora as latas, que são recolhidas do lixo, também vendidas na Namíbia. Entretanto, temos sessenta por cento das pessoas em idade activa sem emprego. Entretanto, todos os dias ouvimos os discursos políticos a falar sobre o empreendedorismo. Entretanto, todos os dias ouvimos pessoas a queixar-se da burocracia, da falta de crédito, do compadrio, da preferência política que impedem a criação e o desenvolvimento de empresas. Todos os dias ouvimos os empresários a queixar-se da excessiva tributação e ainda das campanhas de varredura dos fiscais corruptos. Todo este cenário posto num palco de teatro, ainda assim faltaria ao dramaturgo alguma coisa para igualar a realidade, patética, mas cruel também.