Lógica ao contrário

Lógica ao contrário

Os ministérios todos produzem água engarrafada? Não, claro que não, mas os ministros deixam-se fotografar com um sorriso bem largo a entregar carradas de garrafas de água, em Luanda, para socorrer as vítimas da seca no Sul de Angola. São mesmo almas solidárias? Isto é, ministros, directores, cantores, etc., etc.. Eu acho que a sua lógica de solidariedade é um bocado estranha. Sim, fica sempre bem jactar-se ao mundo sobre a ajuda que se deu. Fica mal não ajudar. Mas precisa- se de alguma lógica e bom-senso. Estranhamente, alguém deve andar a zombar com a ministra do Ambiente, que há alguns dias tentou atirar- se contra os plásticos, mas parece que ninguém está para a ouvir, nem no próprio Governo. Ontem mesmo, um ministro foi à Rádio Nacional de Angola deixar mais umas quantas garrafas de água, garrafas de plástico, para seguirem para o Cunene. Ora, vejamos: para começar, mais do que água engarrafada, o Sul precisa da canalização da água do Rio Cunene e de outros cursos para as zonas onde as pessoas vivem e o gado pasta. Portanto, em vez de se gastar dinheiro aqui em Luanda e no resto do país a comprar água engarrafada, e depois gastar mais com o transporte, o dinheiro deveria servir para ajudar na abertura de furos e valas, ou canais, no local. Depois, e porque parece obrigatório ir encher as aldeias com o poluidor plástico, tendo a província da Huíla pelo menos três marcas de água engarrafada, não seria melhor comprar a água destas fábricas e poupar no transporte? Assim, ao menos transferia- se riqueza, criava-se algum emprego e diminuía-se um pouco nas famosas assimetrias. Mas que chatice o senhor ministro ter de ir até ao Lubango só para tirar uma fotografia a entregar um cheque, arre!