Cidadãos do Soyo desconhecem história e tradição da localidade

Cidadãos do Soyo desconhecem história e tradição da localidade

A história e a tradição do Soyo continuam a ser desconhecidas da maioria dos habitantes da circunscrição, segundo constatou a reportagem de OPAÍS naquela localidade. Soyo é uma cidade secular, que reflecte bem o encontro entre povos de diferentes Culturas. Foi nessa região que se fizeram os primeiros contactos entre europeus e povos do antigo Reino do Congo no século XV, precisamente na foz do grande rio Zaire, ou Congo, cuja foz ladeia a cidade do Soyo.

Foi no Soyo, na foz do rio Zaire, ou Congo, que o navegador português Diogo Cão ancorou as suas caravelas, quando em 1482, ao serviço do Rei D. João II de Portugal, chegou ao território que hoje compõe Angola, tendo encontrado uma região muito bem organizada administrativamente. Além de ser uma cidade com mais de 100 ilhas é uma zona limítrofe com a República Democrática do Congo. Relatos de alguns munícipes abordados por OPAÍS, aludem ao facto de, quando os primeiros portugueses chegaram, em 1482, o Soyo já era uma cidade importante, cujo administrador tinha o título de Mwene Soyo ou Senhor do Soyo. Por essa razão, Mwene Soyo foi o primeiro a ser baptizado naquela altura quando os missionários católicos chegaram ao Reino do Congo em 1491.

Segundo Joao Ndongala, nato na cidade do Soyo, dentro da supervisão do Congo, o município do Soyo foi autorizado a expandir e conquistar outras regiões sob o domínio real. Assim, Nzinga Nkuwu, Rei do Congo em 1491, permitiu uma expansão do território do Soyo, na sequência do baptismo do governante. O cidadão referiu que o porto do Soyo (Mpinda), localizado na zona da foz do rio Congo, tornou-se um importante porto marítimo do comércio do Congo. Os portugueses que ali se fixaram utilizavam o referido porto para o comércio de escravos, marfim e cobre. “Pelo que pude investigar e aprender, mais de 4 mil escravos saíram do Porto Mpinda para a ilha de São Tomé, e depois para o Brasil, um processo que se repetia todos os anos”, disse. Já o chefe da Secção da Cultura e Organização da Juventude e Desporto do Soyo, José Teresa, explicou que a comunidade de portugueses alí enraizada utilizava directamente esse porto para o comércio de escravos.

Táctica dos portugueses

José Teresa explicou que os portugueses vieram de barco e os mussorongos ao verem que eram de uma raça branca estranha ficaram apenas a observar. Depois de acostarem não se entendiam e por causa da língua, então começaram a falar com sinais. Procuraram saber que região era aquela e os mussorongos responderam que estavam no Reino do Congo, região do Mani Soyo, povoação do Kimi, península de Muakuntutu. Os forasteiros, curiosos, voltaram a perguntar como se chamava o rio e os nativos responderam chama-se Nzandi (rio) em Kikongo. Por esta razão, o mesmo é designado Rio Zaire que surgiu da palavra Nzandi, e os portugueses colocaram ali um padrão. O responsável contou igualmente, que aquando do regresso dos portugueses ao mesmo local em 1491, já com missionários e comerciantes para o contacto com o reino, trouxeram missangas e espelhos para poderem conquistar a simpatia dos homens da povoação do Soyo. Foi assim que começaram as trocas comerciais em pequena escala.