Munícipes de Mbanza Congo esperançosos com a visita do PR

A vida tem sido difícil, em Mbanza Congo. As condições precárias levam a que muitos dos munícipes clamem por melhorias da qualidade de vida de quem aí reside. Abordados pelo OPAÍS, foram unânimes em dizer que a visita do Presidente da Republica, João Lourenço, que trabalhará, a partir de hoje, durante dois dias nessa província, poderá levá-los a tal mudança. Para os entrevistados, a vida difícil resulta também, dentre outros problemas, da ausência das condições básicas necessárias para o bem-estar de qualquer indivíduo. Segundo o munícipe Nicolau das Neves, residente no bairro Martins Kidito desde 1979, apesar de o bairro ter crescido demograficamente, este crescimento não foi acompanhado pelo desenvolvimento sustentável, o que tem aumentado o sofrimento de algumas famílias.

Aposentado, diz que hoje vive da reforma e os problemas nunca acabam. No seu bairro as estradas não estão boas e, quanto à água, dependem de um chafariz, mas a energia melhorou. Pai de oito filhos, espera que Mbanza, por ser a sede capital da província do Zaire, mude para melhor, porque nada está bem, principalmente nos bairros periféricos. Um outro cidadão, que não quis ser identificado com medo de sofrer represálias, culpabiliza o MPLA pelo estado em que a província se encontra, alegando que não devia ser estar assim, atendendo ao historial do Reino Kongo. Por isso, se tivesse oportunidade de falar com o Presidente da República, contaria os problemas que muitos cidadãos até hoje enfrentam. “Problemas que o Presidente não imagina que existem”.

“Com a visita do PR eu contaria tudo, porque as nossas autoridades não falam”

“Eu sou do MPLA, mas sou uma pessoa recta. Até hoje Mbanza Kongo é a única capital de província sem centralidade, nem obras de vulto. Há províncias em que um simples município tem centralidade, e isso é preocupante. Com a visita do PR eu diria tudo, porque as nossas autoridades não falam”, afirmou o indivíduo que também se apresentou como reformado. Já Daniel Amando, nato desse bairro, disse que a maior dificuldade é a criminalidade. Uma vez que o bairro tem muitos marginais que se aproveitam da situação e tiram o sono dos demais moradores. De acordo com o jovem estudante, em Mbanza Congo não há espaços de lazer e de diversão, sobretudo no período nocturno, e isso limita a ocupação de muitos jovens nos tempos livres. Por isso muitos deles enveredaram na delinquência e aparentam não terem retorno. Lamentou o facto de estarem a investir mais na capital do país nesta área de actividade, esquecendo o interior, alegando que essa disparidade é uma das responsáveis pela criação das diferenças regionais e no êxodo de muitos cidadãos. Salientou que as pessoas só migram para as grandes cidades à procura de bens e de serviços que não encontram nas suas zonas de origem, sendo um problema que o país enfrenta. Por isso, a cidade de Luanda está cheia de pessoas que fugiram do campo.

Munícipes preocupados com as vias de acesso

Maria Nkenga, camponesa, que se dedica à produção de hortícolas, disse que, apesar das melhorias registadas em alguns aspectos da vida social, os serviços de abastecimento e fornecimento de água potável, bem como as vias de acesso devem ser melhoradas ainda mais, além da necessidade de prestar mais atenção aos idosos da região. A camponesa falou de perdas enormes face às dificuldades para o escoamento dos produtos para outras áreas da cidade Mbanza Kongo, mostrando-se grata pelos os trabalhos que o Governo tem desenvolvido em algumas comunidades, mas esperam que tudo melhor com a visita do Presidente. “O que me preocupa mesmo é a reabilitação das estradas, porque o seu estado faz com que alguns táxis especulem os preços e nós somos obrigados a pagar assim devido às dificuldades. Por isso, peço aos nossos governantes que olhem para este sector, porque o povo é o principal lesado”, clama. Outra coisa que preocupa Maria Nkemba é o único chafariz, cujas condições higiénicas são atentatórias à saúde pública, mas também é a salvação dos cidadãos do bairro Martins Kidito, perante um quadro caracterizado por insuficiência de chafarizes nos bairros periféricos de Mbanza Congo.

Chafarizes insuficientes para responder à demanda

Os poucos chafarizes existentes na região não jorram água suficiente para responder à procura, fruto do crescimento populacional que a antiga cidade de São Salvador do Congo, registou nos últimos anos. Explicou que o mau comportamento de alguns cidadãos tem contribuído na danificação de fontenários que o Governo local colocou à sua disposição no quadro dos projectos que tendem a melhorar as condições sociais básicas das populações na região. “As doenças que mais nos preocupam são a Malária e a Febre Tifóide. As nossas crianças têm sido as maiores vítimas”, disse. Na opinião de Pedro Morais, também camponês, só o facto de viverem em paz já o reconforta. E que Angola está a mudar aos poucos. “Já passamos por coisas piores e muitos jovens não têm noção do bem que a paz faz. Nem todos os cidadãos conhecem o significado, que não se traduz apenas no calar das armas, mas que engloba um conjunto de pressupostos como a harmonia social”, disse. O interlocutor aproveitou a ocasião para fazer um apelo aos governantes: que olhem para as vias de acesso, porque delas depende o desenvolvimento de qualquer região e o combate à pobreza. Disse que a paz que se vive no país deve ser preservada, pois sem ela é impossível a construção e reabilitação de várias infraestruturas sociais, sobretudo nos domínios de ensino e saúde em todos os municípios.

“Criminalidade diminuiu, mas precisa-se de mais efectivos”

Por sua vez, a administradora municipal de Mbanza Congo, Nzuzi Makiesse, em entrevista a OPAÍS, explicou que em termos de criminalidade já passaram por momentos difíceis. “O município cresceu muito e, à medida que vai crescendo, a criminalidade vai aumentando. A nossa Polícia tem feito um trabalho excelente, embora estejamos a pedir junto da estrutura central que se aumente o número de efectivos, por serem poucos”, contou. Explicou que várias políticas estão criadas e todos os jovens frustrados que praticam actos dolosos, quando apanhados, são postos a fazer palestras. “Criamos associações onde esses jovens frustrados são colocados no nosso município para que possamos tirar desses frustrados, entre aspas, das drogas e dos maus caminhos. Estamos a trabalhar com as igrejas e algumas ceitas e está a dar certo”, contou.

Segundo Nzuzi Makiesse, a Malária é a doença que mais preocupa os munícipes, porque o povo não consegue prevenir-se. Um dos problemas que enfrentam é o facto de os munícipes terem problemas em fazer limpeza nos seus quintais, alegando ser trabalho da Administração. “Por essa razão, estamos a multar todas aquelas casas que são encontradas com capim e muitos estão a ter consciência. Com a colaboração das escolas e igrejas temos feito grandes esforços para manter a cidade limpa. Os alunos fazem limpeza de 15 em 15 dias”, disse. A cidade de Mbanza Congo conta com seis bairros, nomeadamente “Sagrada Esperança, Álvaro Buta, Martins Kidito, 04 de Fevereiro e 11 de Novembro, este último detém a maior densidade populacional da capital da província do Zaire.