Produção faz Sonangol regressar a lucros gordos

A Sonangol melhorou claramente o seu resultado no último ano, atingindo um lucro de 79,9 mil milhões de kwanzas (o equivalente a cerca de 230 milhões de dólares ao câmbio corrente), mais 192% que em 2017.

Para esta recuperação contribuiu decisivamente o segmento da exploração e produção de petróleo e gás natural, o designado upstream. Atingiu um resultado líquido de 548 mil milhões de kwanzas, com as áreas da distribuição e comercialização de combustíveis (downstream), a área do rate & Financing e outros negócios ‘non core’ (não ligados à actividade essencial da empresa) a darem uma contribuição negativa para os resultados consolidados da petrolífera nacional.

Apenas o midstream (área da refinação) alinhou com a evolução muito favorável da exploração e produção, fixando-se em terreno positivo. O EBITDA consolidado (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) do grupo Sonangol foi superior a 1,1 milhões de kwanzas, o que traduz um crescimento de 76% face ao ano anterior. O segmento upstream teve um papel decisivo no aumento do EBITDA consolidado, reconhecendo a Sonangol que tal se ficou a dever “ao efeito preço, sendo que opreço médio de comercialização das ramas angolanas cifrou-se em 70,709 dólares por barril, acima dos 54,14 dólares por barril verificado em 2017”. As vendas totais da Sonangol atingiram quase 4.797 mil milhões de kwanzas, o equivalente a 13,8 mil milhões de dólares, contra 2.825 mil milhões de kwanzas no ano precedente.

O activo da empresa ascendia, no final do último exercício a 13.858 milhões de kwanzas, mais 6 mil milhões que em 2017. No relatório de gestão e contas consolidadas da empresa respeitante ao último exercício, divulgado ontem, quinta-feira, o presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Gaspar Martins,Corposalienta que se tratou de um ano que “ficou marcado por dois eventos de grande impacto” na actividade da empresa: foi o ano em que a Sonangol EP deixou de ter a função de concessionária nacional e também o ano em que se deram “os primeiros passos para o início de uma nova etapa ao longo dos nossos 42 anos de história: o lançamento do programa de Regeneração, visando a reestruturação do Grupo Sonangol, e cuja implementação nos permitirá focar nas actividades da cadeia de valor do petróleo bruto e do gás natural”, sublinha Gaspar Martins.

No ano de 2018 a petrolífera passou a deter os direitos participativos nos blocos 20/11 e 21/09, foi reactivada a actividade no Iraque e fechados acordos que permitirão à Sonangol receber dois navios sonda de 7ª geração. O presidente da empresa lembra no relatório que a Sonangol iniciou, o ano passado “a preparação dos interesses participativos a alienar, indicando um conjunto de activos que reuniam tais condições”. Quanto ao cumprimento deste objectivo, de avaliar e alienar negócios não nucleares à actividade da petrolífera, tem-se especulado quanto à permanência no banco de direito português com presença em Angola Millennium bcp, embora a Sonangol sistematicamente desminta qualquer orientação nesse sentido, como voltou a fazer ontem, quinta-feira.

Menos petróleo produzido

Durante o último ano foram produzidos 539,8 milhões de barris de petróleo bruto, correspondentes a uma média diária de 1,478 milhões de barris, abaixo, portanto, da fasquia dos 1,5 milhões de barris diários (Angola já produziu cerca de 1,9 milhões de barris de petróleo bruto diariamente). A quebra, em relação a 2017, foi de 9% na produção de petróleo. Dos volumes alcançados couberam à Sonangol 222,1 milhões de barris, dos quais 135,6 milhões sob a forma directa de direitos da concessionária e 86,4 milhões respeitantes à Sonangol investidora. Durante o ano de 2018, foram produzidos em Angola 539.813.065 barris de petróleo bruto, equivalentes a uma média diária de 1.478.940 barris. Comparativamente ao período homólogo, o volume de produção alcançado decresceu em 9%. Contribuíram para o decréscimo da produção a maturidade dos reservatórios, refere o relatório anual da Sonangol, a entrada de novos projectos de desenvolvimento com baixo desempenho e a degradação das instalações de produção, devido à não realização de trabalhos de intervenção nos poços, bem como a falta de perfuração de novos poços por falta de unidades de perfuração nos blocos.

O Bloco 17 foi o que mais contribuiu para a produção total, seguido dos Blocos 0, 15, 15/06 e 31, representando de forma agregada 84,5% da produção de petróleo bruto em Angola. A Total E&P Angola lidera claramente a lista de produtores de petróleo bruto em Angola, com 38,3% da produção total, seguida da Chevron com 21,2%, da Esso com 15,9%, da BP com 13%, da Eni com 9,2% e Pluspetrol com 0,1%. Os remanescentes 2,4% correspondem à produção das operadoras nacionais (Sonangol Pesquisa e Produção e Somoil), com 2% e 0,4%, respectivamente.