As universidades angolanas têm problemas em tudo

As universidades angolanas têm problemas em tudo

Autor de vários livros de matemática traduzidos para russo, Herinelto da Fonseca Josefa Casimiro é professor doutor, investigador e cientista júnior. Nos últimos tempos esteve envolvido na análise do ranking webmétrico das universidades africanas e as medidas para o melhoramento do nível competitivo das universidades angolanas. Nesta entrevista exclusiva a OPAÍS, o jovem, 33 anos, apresenta as suas ideias sobre o ensino superior em Angola e defende a criação da Academia Angolana de Ciências, que seria o centro de produção de soluções para muitos desafios que o país enfrenta

Entrevista de Dani Costa
Fotos de Pedro Nicodemos

Como caracteriza o ensino superior em Angola?

Estamos num momento em que há necessidade de se estruturar e organizar todo o sistema universitário angolano, visto que a nova tendência passa por criar novas economias. A base de tudo e os vectores que temos de seguir tem de ser um sistema universitário forte. Quanto ao nosso sistema, precisamos de vincular pela opção da implementação de modelos altamente confi gurados para as novas tendências e assim prosperar para um modelo aceitável, de acordo com as condições actuais. decorrer da nossa existência é que nem peso. E uma coisa que pesa não voa, fica sempre embaixo.

É neste contexto em que ficamos muito pesados com o que estamos a carregar, no caso o conhecimento, o que implica dizer que estamos a olhar para baixo com uma humildade. É dos poucos jovens cientistas no país, foi homenageado por alguns países africanos, estudou na Rússia e teve o convite das universidades e responsáveis deste país para lá permanecer, mas preferiu regressar a Angola.

O que terá pesado para esta decisão?

É o desejo de contribuir. Acho que já não podemos usar o termo patriota, porque nós angolanos nos queremos sentir donos de Angola. Eu senti a necessidade de dar um pouco do que recebi, contribuir, porque sair de Angola não é solução. Uns estão a sair, o que é normal e nem desejo desafiar isso, mas a tendência é como a gente se sente dentro de Angola. Sinto-me bem dentro de Angola, apesar dos apesares, mas um cientista tem que solucionar problemas. Este é o principal desaf o e acredito que junto de outros académicos vamos alcançar resultados positivos. Fez agora uma avaliação das universidades africanos, relacionada com o webmétrico, usando cinco critérios principais.

É cientista júnior?

Sim.

Quais são os pontos fortes e fracos do sistema universitário angolano?

Acho que um dos pontos fracos, que podemos chamar desvantagens, é o meu entendimento em torno do que é a academia.

Não estamos a perceber o por quê da existência de uma universidade? Qual é a ideia que tem da universidade?

A ideia que tenho é que uma universidade tem que dar respostas.

E como é que se vê a universidade em Angola?

Acredito que está mais para o lado económico, negócios e por aí fora, porque ainda estamos muito distante daquilo que é o contributo de uma universidade para o desenvolvimento de uma sociedade.

Afinal, o que é positivo no nosso ensino superior?

O positivo é que temos o corpo que faz estas universidades estarem aonde estão hoje. São pessoas com cabeça, têm experiência e sabem o que fazem. Mas, acima disto está a arrogância, o poder de se acharem superiores aos outros e quebra-se o princípio da humildade académica, que quanto mais vamos procurar o conhecimento, mais nos vamos tornar humildes. O que tenho dito sempre é o seguinte: tudo que a gente vai alcançando no decorrer da nossa existência é que nem peso. E uma coisa que pesa não voa, fi ca sempre embaixo. É neste contexto em que ficamos muito pesados com o que estamos a carregar, no caso o conhecimento, o que implica dizer que estamos a olhar para baixo com uma humildade. É dos poucos jovens cientistas no país, foi homenageado por alguns países africanos, estudou na Rússia e teve o convite das universidades e responsáveis deste país para lá permanecer, mas preferiu regressar a Angola.

O que terá pesado para esta decisão?

É o desejo de contribuir. Acho que já não podemos usar o termo patriota, porque nós angolanos nos queremos sentir donos de Angola. Eu senti a necessidade de dar um pouco do que recebi, contribuir, porque sair de Angola não é solução. Uns estão a sair, o que é normal e nem desejo desafi ar isso, mas a tendência é como a gente se sente dentro de Angola. Sinto-me bem dentro de Angola, apesar dos apesares, mas um cientista tem que solucionar problemas. Este é o principal desafi o e acredito que junto de outros académicos vamos alcançar resultados positivos. Fez agora uma avaliação das universidades africanos, relacionada com o webmétrico, usando cinco critérios principais.

Que tipo de ranking é este e que pretende apresentar a academia em Angola?

É um ranking da Espanha que classifica todas as universidades do mundo que possuem webdomínio autónomo. Trata-se da página da universidade ou o site em que estão estipuladas as informações necessárias em termos de excelência, impacto, abertura, publicação de artigos científicos e como está o desenvolvimento da própria universidade. Como se não bastasse, existem também as plataformas macrocientíficas, que é o caso da Research Gate, Scimago e outras. Esta plataforma classifica todas as universidades do mundo, sem excepção. Há outras na Grã-Bretanhã, China, mas a maioria das universidades africanas geralmente não se faz presente. Então, para se saber o estado das universidades angolanas, no seu todo, usamos esta plataforma, porque todas as universidades africanas com webdomínio autónomo estão aí registadas. Usamos isso para mostrar ao Estado qual é o estado das nossas universidades e quais são as medidas a tomar para mudarmos de posição. A pesquisa é fresquinha, foi feita em Junho e acredito que teremos que trabalhar seriamente para mudar a posição das nossas universidades. Tive a possibilidade de ler o estudo. Pude observar que há um certo domínio das universidades sulafricanas, egípcias e outras também da zona do Magreb.

O que se passa com as angolanas?

Tendo em conta as conclusões que colocamos no trabalho, eu acredito que seja o factor organização.

Temos poder e condições para estar em melhores posições, mas a organização passa por se fazer sentir o que é isso de academia? A academia tem que produzir, resolver problemas e dar soluções. O sistema universitário tem que ser forte, temos que ser pessoas que estão em prol da ciência e não de um certo grupo com intenções. Outro aspecto fundamental que temos que frisar aqui é o facto de os sul-africanos investirem muito na educação, ciência e tecnologia. O trabalho que publiquei não está ainda completo, porque há o lado estatístico, onde entram os coeficientes de correlação e de regressão que estão relacionados com o Produto Interno Bruto (PIB) e outros indicadores, como a investigação em um milhão de habitantes, nível de desenvolvimento de recursos humanos. Tudo isso faz parte desta conjuntura e da classificação que faz com que as universidades sul-africanas e egípcias atinjam as melhores posições.

Como base nesta posição, depois de analisarmos a posição das universidades sul-africanas, egípcias e outras africanas, as universidades angolanas são conhecidas no mundo?

Se estão aí nas plataformas é porque são conhecidas, mas o problema é a excelência e as classificações que vão aparecendo nos painéis.

Acho que já te fizeste esta pergunta inúmeras vezes: por quê é que a Angola não vem estudar ninguém? Por quê não vêm aqui estudantes de Marrocos ou da África do Sul para fazer a universidade ou diversas especialidades? Quais são as razões?

Porque eles vêem estes rankings todos e sabem que aí o sistema universitário é fraco e não perdem o tempo de cá vir. Agora, se nós melhorarmos, reestruturarmos e tentarmos seguir os líderes e criar políticas em termos daquilo que são as medidas que estão no trabalho, as pessoas verão que as coisas estão a melhorar e estaremos visíveis. Não visíveis em termos de existência, porque existem em Angola 21 universidades todas situadas nesta plataforma. Mas a visibilidade a que me refiro é de produtividade.

É o que nós queremos. Qual é a visibilidade que as universidades angolanas têm neste momento?

É uma visibilidade existencial. Por isso, estamos numa posição acima de oito mil. E a melhor de África, que é da África do Sul, está na posição 272 ao nível mundial. É um valor excelente, uma posição em que o ministro do Ensino Superior da África do Sul anda feliz por isso. Por isso, muita gente vai estudar na África do Sul. Acredita-se que existe um sistema universitário muito forte. Quem observar o estudo efectuado ficará centrado nos cinco itens que analisou, nomeadamente a questão do posicionamento no ranking mundial, a excelência, a abertura, a presença e o impacto.

Quais são as categorias em que as universidades angolanas têm mais problemas?

Temos problemas em tudo. Na presença, se a memória não me falha, fizemos uma tabela em que das cinco melhores universidades de África, analisando estes moldes de classificação e também as cinco piores, usando os mesmos critérios. Na presença temos a Universidade Kimpa Vita nas cinco piores. E as universidades angolanas, as 21 registadas na plataforma, estão na posição 50 das piores de África.

Dá para se perceber qual é o nível crítico. Qual é o nível crítico?

É extraordinário. Estar nas 50 piores universidades de África, safando- se a Universidade Agostinho Neto que foge um pouco e a Universidade Católica, é uma gota no oceano.

Os cinco critérios em que se baseou o estudo são suficientes para se aferir a qualidade das universidades que temos no país?

Acredito que ao nível internacional são suficientes. Mas nós, internamente, por isso nas medidas estipulamos um algoritmo para o caso de passos e procedimentos a seguir. É o caso da tabela webmétrico Benchmarketing que são procedimentos internos, ou seja, vamos classificar as universidades angolanas de acordo com os nossos critérios. Depois vamos ver os critérios internacionais e os passos das universidades líderes. Só assim vamos poder concorrer com aqueles que estão lá em frente. Todos os anos temos uma universidade ou instituto superior novo no país.

Estaremos preparados com a qualidade ou apenas com a quantidade?

Do ponto de vista de quantas universidades existem, aqui refiro-me apenas às universidades que estão registadas no webmétrico. Quer dizer que existem muitas registadas em Angola, algumas registadas no webmétrico. São as universidades que podem fazer parte da classificação. As restantes, que não estão, não têm requisitos. O exemplo prático que lhe posso dar é que estive a trabalhar nesta pesquisa desde 2015. Quando fiz o levantamentojuntamente com outros pesquisadores ou investigadores científicos, vimos que tínhamos 23 universidades. Dividimos em clusters: primeiro, segundo e terceiro. Fomos vendo os vectores de crescimento dos líderes. Em 2019 voltamos a fazer a recolha de dados e vimos que duas universidades estão sem requisitos para permanecerem dentro deste ranking.

Qual é a tendência actual? Aumentar ou reduzir o número de universidades neste ranking?

Para o ranking, saírem. A criação de universidades em Angola vai aumentar. Isso é um facto.

O que é analisado, concretamente, nos itens como impacto, excelência e abertura?

A excelência analisa o modo de pagamento, como são feitos os processos internos, registo dos Phd e a produtividade, assim como a cientificidade dos textos. Analisa também a presença na web e como estas universidades espelham-se dentro das plataformas, como ‘invadem’ as plataformas com publicidade, as revistas científicas. São estas, entre outras, algumas das questões de realce. Por isso, se analisar bem as medidas que avançamos na nossa proposta de melhoramento do nível competitivo das universidades angolanas, consta a distribuição de revistas. É necessário distribuir na região sub-sahariana revistas sobre o desenvolvimento do sistema universitário angolano, semestralmente.

 Não tem acontecido?

Não. Por isso é uma das medidas a serem tomadas. Se fizermos, ficaremos visíveis e melhoraremos a posição dentro da classificação.

Tem havido muitos trabalhos científicos em Angola?

Os trabalhos científicos existem. Mas não há um nível muito qualificado. O nível máximo de um trabalho científico é o Scopus. Registamos 141 jornais científicos africanos de indexação scopus e não há nenhum de Angola. Significa dizer que não estamos num nível de cientificidade aceitável. Se houver jornais científicos com esta indexação scopus, claro que a Scimago iria registar e colocar os artigos na sua plataforma. Mas isso não existe. São plataformas credíveis. Por exemplo, só a Scimago, que publica relatórios desde 1994, o Webmetric desde 2004, não podemos duvidar quanto a estes factos. O que temos que fazer é melhorar as nossas estruturas, porque o desempenho universitário que demonstra é para os donos das universidades tomarem nota e melhorarem, caso não estejam de acordo com a posição em que estão as suas universidades.

O que pretende quando defendem a criação de uma tabela de brechmarketing para quatro indicadores webmétricos das universidades angolanas num período semestral? Vamos criar uma tabela, isto é, uma espécie de um estudo simulatório que nos vai dar a essência concreta sobre o que se passa dentro do sistema universitário angolano. Vamos identificar a posição em que estão as universidades angolanas no ranking e possivelmente uma imagem de como será daqui a seis meses. O índice webmétrico publica os dados semestralmente. Dão-te seis meses para criar políticas internas e ver como mudou a posição. Se observar estas posições apresentadas de seis em seis meses, as nossas universidades só estão a descer, salvo algumas que estão a tentar. A Universidade Católica e a Universidade Independente, em termos de excelência, estão melhor ao nível nacional. Defende numa das conclusões do estudo a existência de cálculos de imitações com variação dos indicadores webmétricos particulares das Universidades Angolanas com a finalidade de obtenção dos indicadores alvos.

Quais são os indicadores que pretende?

Os indicadores alvos são aqueles que os países líderes usaram para chegar aonde estão hoje. África do Sul, universidades bem posicionadas? A tendência é o luxo que os africanos, ou os angolanos, em particular, se dão. Se o líder está aqui próximo, seria mais fácil estudá-lo, para depois chegar-se a uma conclusão e depois aplicá-lo dentro do nosso sistema universitário. O alvo tem que ser quem está próximo, devemos estudar a política deles para estarmos em pé de igualdade. Eu acredito que podemos, porque Angola tem um potencial muito forte. Tanto mais que, quando criei esta metodologia de classificação, que é um estudo, uma dissertação ou uma tese de doutoramento, porque quando usei a distância euclidiana, com M universidade e N indicadores, conseguimos ver que quanto mais próximos forem os objectos, mais distante é a compreensão na classificação. Isto é, quanto mais distante forem os objectos, então há mais disparidade na classificação.

As autoridades angolanas têm-se mostrado abertas para uma maior aproximação com as universidades africanas melhor classificadas no ranking mundial?

Os protocolos de entendimento ou de cooperação todas as universidades têm. Concretamente falando dos líderes, acho que não. O que temos visto é a preocupação de ir a Portugal, Brasil, Estados Unidos e outros países.

A língua tem sido uma das causas do distanciamento com os países anglófonos ou francófonos?

Acredito que sim. Por exemplo, a indexação Scopus são artigos normalmente publicados em inglês. Não queremos dizer que todos os artigos feitos pelos angolanos estarão em inglês. Primeiramente vai-se pensar em português e depois coloca-se este pensamento em inglês. Isso acontece em qualquer literatura ou sistema universitário. Existem jornais tops e outros somente de publicação de trabalhos muito significativos. São trabalhos para o desenvolvimento da própria ciência. Uma coisa é falar da matemática, como se faz um exercício, outra é você criar outros métodos, meios de resolver ou inventar um problema. É o caso do meu problema, conhecido como Problema de Herinelto Casimiro. Criei um método de como verificar o produto da multiplicação de duas matrizes, quer quadradas quer não quadradas. Não existia. Isso aprende-se. Na Rússia, por exemplo, isso está no sistema deles. Os três problemas que criei também na tese de doutoramento, que são as participantes dentro de um sistema económico, a partir do espectro que é a sequência de números e ver como este espectro vai caracterizar este sistema. Se sai um participante e entra outro. Os países vendem mercadoria, por exemplo. É nesta óptica que criei o problema. Há também o problema da análise do nível competitivo dos objectos económicos, como um grupo de países pega uma plataforma e analisa os indicadores que fazem com que os sectores da economia ganhem o desempenho saudável de desenvolvimento.

O Executivo angolano tem investido pouco nestes sectores, tendo em conta a posição em que estão as nossas universidades?

Acredito que sim. Pode até investir, mas não haver resultado significativo. Qualquer coisa está a incomodar.

O que se estará a passar?

Eu acho que o Executivo tem que se definir, não só dizer que quero estar nesta posição, mas investir em termos significativo. A investigação é um sector chave e especial. Os resultados de uma investigação científica envolvem o desenvolvimento do próprio país. Tens problemas da seca, da chuva, então são os resultados dos cientistas que fazem com que isso melhora. A Academia An golana de Ciências é que deveria ser o motor, porque os financiamentos deveriam entrar a partir daqui. Fariam parte desta academia todos os professores doutores das várias universidades de Angola, isto é de Cabinda ao Cunene.

Não temos ainda uma Academia Angolana de Ciências?

Não temos. É oportuno que se crie. A academia terá um presidente que poderá não estar de acordo com o ministro do Ensino Superior. E isso é bom. Duas cabeças contam melhor que uma. O ministro pode definir uma coisa e a academia dizer que não, está errado, temos que seguir outro rumo. Tem que ser mesmo académicos e não apenas pessoas que usam gravatas.

Os políticos angolanos têm sido sensíveis às questões da academia?

Eu acredito que se os nossos políticos fossem académicos nós teríamos a situação melhorada. É o que diz sempre o Dr. Filipe Zau: ‘os académicos podem ser emprestados para a política e não o contrário’.

Tem acontecido o contrário?

Sim. Os políticos é que se emprestam para a academia e não os académicos para a política.

Os políticos também têm definido os melhores caminhos para a academia?

Eu acredito que sim. Estamos numa situação em que tudo é definido pelos políticos. Mas tem que haver um pensamento crítico da sociedade civil, independentemente do que se vai passar, porque isso é nosso.

Qual é o pensamento crítico da sociedade civil em relação à academia?

Mais autonomia. Precisamos. Por isso, a Academia Angolana de Ciências tem de ser uma realidade. Os académicos devem se sentir livres para tomar decisões. As universidades devem ser laboratórios, onde se os políticos não conseguem dentro do luxo em que estão, entreguem os problemas aos académicos na casa das ciências para serem resolvidos. Caso não percebam os dossiers, então que sejam os académicos a explicarem. Só assim é que se resolvem os problemas, caso contrário vamos continuar a nadar no oceano que bem conhecemos.

O ensino da matemática no país melhorou?

Um pouco. Se analisarmos, o que está a acontecer na Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto é o que acontece nas outras universidades. Os estudantes passam por apertos, só que estes apertos fazem estes estudantes fortes. A loucura dos estudantes em querer saber tudo está a ajudá-los. Acho que isso é que está a fazer melhorar um pouco o ensino da matemática no país. Não vou afirmar que temos que continuar com o mesmo regime, mas é o que está a ajudar. Temos que velar pela Escola Angolana de Matemática ou um Instituto Médio de Físico-Matemática. Para ajudar as pessoas com bom pensamento a se direccionarem. Por exemplo, não temos o ensino médio de matemática pura.

Ainda se vê a matemática como um bicho de sete cabeças?

A minha luta e de outros matemáticos é eliminar seis cabeças e deixar somente uma. Como especialista que sou, posso afirmar que os angolanos, na sua maioria, mais de 60 por cento já não têm medo da matemática. Viveu muito tempo e estudou fora, concretamente na Rússia. Licenciou-se, doutorou-se, é cientista

. É a favor da medida tomada pelo Presidente da República, João Lourenço, do envio de 300 estudantes às melhores universidades do mundo?

A nível de mestrado e doutoramento, sim. A política é bemvinda. Mas não concordo muito em relação à graduação ou licenciatura. Nós aqui é que devemos criar um sistema e juntos tentar buscar uma solução para cada elemento que está dentro desse sistema. Podíamos criar um programa de caça- talentos. Não é um programa para ver quem é o melhor. Porque melhor nem sempre é aquele que acaba primeiro a prova e teve um 20. O melhor pode fazer mal naquele momento, mas é o melhor. Ter um 13. Deve haver um acompanhamento contínuo e de acumulação de notas, para que a gente chegue à conclusão de que este pode. Eu, por exemplo, estudei mal na terceira e na quarta classes. Comecei a me esforçar a partir da quinta e outras classes. Eu já fiz vários testes em que tive a percepção de que as pessoas que sabiam menos do que eu tiveram máxima nota.