HRS reclama das FAA mais de meio bilião de Kwanzas

HRS reclama das FAA mais de meio bilião de Kwanzas

O empresário Mário Fernandes, em nome da empresa HRS, reclama das Forças Armadas Angolanas, há alguns seis anos, o pagamento de uma dívida avaliada em mais de meio bilião de Kwanzas referentes ao fornecimento de alimentações para os efectivos desta instituição castrense. Em 2013, numa época em que o Ministério da Defesa esteve sob comando do general Cândido Van- Dúnem, a HRS- Importação, Comércio e Transportes, assim como outras duas empresas, participaram num concurso de emergência realizado pela Simportex para o abastecimento em víveres, e não só, às unidades das Forças Armadas Angolanas em várias províncias do país.

De acordo com informações avançadas a este jornal pelo empresário Mário Fernandes, as mercadorias tinham que ser entregues às bases logísticas num prazo máximo de 15 dias. Foi assim que, com mercadorias no valor de mais de 450 milhões de Kwanzas, dezenas de camiões distribuíram-nas nas províncias do Huambo, Moxico, Lundas Norte e Sul, Cuanza Sul, Namibe e Benguela. Usando outros meios de transportação, como barcos e avióes fez-se chegar outros produtos também a unidades estacionadas em Cabinda. Homologados os contratos, pelo então ministro Cândido Van- Dúnem, os mesmos estabeleciam que os pagamentos das mercadorias seriam feitas num prazo não superior a 30 dias, por intermédio da Direcção Nacional de Administração e Finanças do Ministério da Defesa. ‘Deram-nos a garantia de que a mercadoria seria paga.

O próprio general Firmino disse que não havia problemas, mas o que sei é que, seis anos depois, até ao momento não nos é pago nada”, lamentou o empresário. Duas outras empresas que também constavam no mesmo processo acabaram por ser pagas pela própria Direcção Nacional de Administração e Finanças do Ministério da Defesa. Quanto à HRS- Importação, Comércio e Transportes, com a retirada da logística das Forças Armadas da Simportex e a consequente passagem para o Estado- Maior General, já sob comando do general Geraldo Sachipengo Nunda, a dívida é encaminhada para esta instituição. Conta o empresário que procuraram o então chefe de Estado- Maior das Forças Armadas Angolanas para que a dívida em causa fosse saldada. O que infelizmente também não veio a acontecer, segundo Mário Fernandes, apesar de Geraldo Sachipengo Nunda ter dado ordens explicitas a alguns dos seus então subordinados para que pagassem os mais de 450 milhões de Kwanzas. Nem que fosse de forma faseada. Os responsáveis da área financeira do Estado-Maior General das FAA, encabeçado pelo tenente general Zombo, em Março de 2014 solicitaram a Direcção de Administração e Finanças para que confirmassem junto da Simportex a existência ou não da dívida reclamada. Esta última, por sua vez, algum tempo depois, emitiu os ofícios que confirmavam as dívidas em causa. ‘Posso provar, através de documentos que depois dos ofícios da Simportex, que o general Nunda ordenou que se pagasse paulatinamente as referidas dívidas. Os ofícios do então chefe do Estado- Maior General foram para o general Zombo e ao brigadeiro Queiroz. Mas os despachos foram, simplesmente, ignorados’, desabafou o proprietário da empresa que forneceu mantimentos às Forças Armadas Angolanas.

 

Recibos de 2011 para mercadorias de 2013

Contactado por este jornal há três semanas, um oficial do Estado- Maior General das Forças Armadas sugeriu que o assunto fosse antes abordado com um dos seus superiores hierárquicos. Do referido contacto, segundo apurou OPAÍS, o empresário Mário Fernandes acabou recebido por um dos generais a quem inicialmente, há alguns anos, o então chefe de Estado-Maior General das FAA, Geraldo Sachipengo Nunda, haviavia orientado, através de um despacho assinado pelo seu próprio punho, que se efectuasse o pagamento, mas não veio a acontecer. Curiosamente, conta o empresário, num dos encontros foi-lhe dito que o processo referente à dívida de 456 milhões de Kwanzas voltou a ser remetido para a Direcção Nacional de Administração e Finanças. Nesta direcção, segundo Mário Fernandes, é-lhe ainda solicitado nos últimos dias que apresente comprovativos de pagamentos de outros contratos realizados em 2011 e 2012. ‘Sinceramente, já não sei o que dizer nem o que fazer. O que tem a ver um contrato de 2013 com um assunto de 2011 cujos fornecimentos já foram apurados e pagos. Há muita volta que não consigo mais entender, porque ao longo destes anos todos nem sequer aceitaram falar da correcção monetária e eles nem têm noção dos 50 trabalhadores que tive que desempregar por não me pagarem’, desabafou o empresário. Questionado se os montantes que reclama não terão sido inscritos na dívida pública, como aludiu um oficial do topo das Forças Armadas Angolanas, o empresário Mário Fernandes foi peremptório: ‘não há nada na dívida pública. Continuamos assim neste universo de indecisões e de desespero’.

‘Golpe de misericórdia’ de 71 milhões de Kwanzas

Além da dívida de 560 milhões de Kwanzas pelos fornecimentos feitos às unidades das Forças Armadas Angolana em 2013, com base num contrato de emergência celebrado ainda na época em que Cândido Van-Dúnem dirigia o Ministério da Defesa, a empresa HRS – Importação, Comércio e Transportes viu-se confrontada com um novo ‘calote castrense’, em 2015, cujo pagamento também se encontra em ‘banho-maria’. Confrontado com problemas de saúde, o empresário Mário Fernandes desloca-se ao Brasil em tratamento médico. Foi a partir da Terra do Samba que recebe um telefonema do coronel ‘Reais’, identificado como chefe das Aquisições da Direcção Principal de Logística das Forças Armadas Angolanas, em nome do então chefe do Estado- Maior, Geraldo Sachipengo Nunda, para que entregasse mantimentos que seriam usados nas comemorações dos 40 anos de independência do país. ‘Disseram-me que Angola iria comemorar os 40 anos de independência e as FAA iriam realizar uma marcha. O general Nunda diz para entregar e não misturar os problemas da outra dívida. Para este abastecimento já há dinheiro para pagar. Foi assim que, a partir do Brasil onde me encontrava em tratamento, mandei entregar 31 mil rações de combate, em Novembro de 2015, no valor de 71 milhões de Kwanzas’, contou. Contrariamente ao que acontecia, desta vez foram as próprias FAA a mobilizar as suas viaturas para carregarem os produtos. Quando regressou ao país, Mário Fernandes deslocouse ao Estado-Maior para ver os referidos contratos e aguardar os 30 dias em que o pagamento das 31 mil rações frias seria feito. Três anos e oito meses depois, apesar das promessas do gabinete jurídico da instituição de que iria acompanhar a execução física deste contrato, também não recebeu uma única tranche destes 71 milhões de Kwanzas.