Crianças do Ukuma aprendem a ler por letras móveis

Crianças do Ukuma aprendem a ler por letras móveis

Os professores do muicípio de Ukuma, província do Huambo, encontrados nesta semana em formação na terceira fase da terceira etapa do Programa Aprendizagem para Todos (PAT), disseram que a iniciativa surgiu e consolidou-se com a entrada em cena dessa acção formativa, que lhes apresentou os critérios de concepção, utilização, controlo e avaliação dos efeitos do mesmo, ao ponto de reforçar o processo com outras estratégias adequadas à comunidade, na medida em que iam registando resultados não convicentes.

“O abecedário em letras móveis é um meio de ensino que facilita traçar uma estratégia que alcança maior e melhores resultados, já que o aluno maneja os materiais que ele mesmo elabora com o professor, dando-lhe motivação para apreender mais”, explicou o professor primário Bernabé Isidro, tendo realçado que o recorte dos papeis é feito pelas crianças, sob a orientação do educador.

Sobre a dinâmica que está a agradar ao corpo docente da escola número 1 da sede do Ukuma e outros dos estabelecimentos de ensino das redondezas, devido aos resultados positivos, que desemboca na capacidade de leitura sobretudo dos alunos da 1ª e 3ª classe, Felismina Lurdes, professora que lecciona a inicição, no Ukuma, assegurou que o uso das letras móveis responsabiliza, desde muito cedo, a criança a ganhar aquilo que já classifica de responsabilidade individual do aluno, em esforçar-se para aprender. Os dois professores entrevistado por OPAÍS chegaram mesmo a dizer que, com essa estratégia de ensino, até lhes dava a impressão de que os rapazes demonstravamse preocupados em não largar um recorte de papelão sem lhe identificarem a letra do alfabeto português, não se escusando da tendência de o juntar com as de outros colegas, com objectivo de formar uma sílaba, simples, conhecidas, nessas classes, como sons. Segundo os docentes, com o programa, passaram a juntar os grupos, a recomendar frequentemente tarefas e corrigi-las preferencialmente antes de começar uma aula e a não correr com a matéria, porque o aluno tem de a compreender, cabendo ao professor repetir as secções lectivas no caso de os estudantes não as assimilarem.

Felismina Lurdes confessa que melhorou bastante a sua forma de actuação na sala de aulas, porque o PAT lhe proporcionou a aprendizagem de muitos e vários métodos, apartir dos quais passou a conhecer melhor os alunos. A professora, que lecciona há seis anos na referida municipalidade, revelou que tinha dificuldade em ministrar as aulas da disciplina de Matemática, sobretudo no que aos cálculos mais complexos dizia respeito.

Já Bernabé Isidro, professor da escola número 4, que considerou o projecto salutar, porque lhe possibilitou dar conta de que é determinante no desenvolvimento de aprendizagem das crianças, confessou que, antes da formação do PAT não sabia e nem aplicava a diferenciação das crianças. “Essa dinâmica tem a ver com a selecção cuidadosa das crianças na turma, em função das suas capacidades de aprendizagem, evitando, imperativamente, qualquer tendência de discriminação ou segregação”, esclareceu o professor Bernabé, tendo adiantado que a criança não deve aperceberse de que está a ser seleccionada para o grupo dos petizes que assimilam mais rápido ou mais lento.

“Apercebe-mo-nos de que cada criança tem de estar inserida no grupo do seu nível de assimilação e, no caso do nosso centro de recursos, está bem localizado, porque as três escolas primárias estão próximas, já que se encontram num raio de menos de dois quilómetros, uma situação que nos facilita as consultas e a utilização dos materiais disponibilizados pelo PAT para a formação. Aprendizagem envolvente O coordenador das Zonas de Influência Pedagógica(ZIP), Silvestre Gomes, que, por sinal, é o director da escola 1, fez uma avaliação positiva do PAT, porque visa melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem, constituindo também um projecto que vem corrigir alguns erros na administração das disciplinas do ensino primário.

“A Língua Portuguesa era, para mim, a disciplina em que os professores apresentavam mais dificuldades para a leccionar, ao ponto de, em plena transição da 3ª para a 4ª classe, ainda se ter notado, num passado muito recente, crianças que não soletravam”, lembrou o coordenador da ZIP, tendo-se gabado de que, a um trimestre de se concluir o presente ano lectivo, os alunos das quatro escolas primárias da sede do Ukuma já lêem e escrevem bem a partir da 2ª classe.

À semelhança dos profesores entrevistados, reconheceu que o mecanismo das letras móveis veio dar um impulso maior na preocupação da criança, que, por iniciativa própria, conseguiu atrair a envolvência dos pais e da comunidade onde vive no seu processo de aprendizagem. “Porque agora noto que os alunos, mesmo em pausa pedagógica, circulam com um conjunto de recortes de papel com as letras do alfabeto português por todo o sítio onde brincam ou passeiam”.