declaração de estado de emergência no país divide MPLA e Oposição

declaração de estado de emergência no país divide MPLA e Oposição

O MPLA, partido no poder, na voz do seu porta-voz, aponta as acções do Governo em curso para mitigar o impacto da seca, enquanto a Oposição lamenta pelas vidas humanas e animais do fenómeno e diz estar alinhada ao relatório da Friends of Angola (FoA) que apela ao Executivo a declarar o estado de emergência no Sul do país

Por:Domingos Bento

 O MPLA e os partidos da Oposição comassento parlamentar estão divididos relativamente à sugestão de se decretar o “Estado de Emergência” no país, devido à seca severa que o Sul de Angola vive, como defendeu no princípio desta semana a organização não governamental angolana Friends of Angola (FoA). Segundo um relatório assinado pelo seu director, Rafael Morais, Angola poderá ter uma grande catástrofe nos próximos tempos se não forem tomadas medidas concretas para minimizar a fome na zona Sul, que afecta, sobretudo, as províncias do Cunene, Cuando Cubango e Huíla.

No documento, a organização esclarece que tem acompanhado a situação com preocupação, sublinhando que “há famílias que estão a ser dizimadas” e que são forçadas a emigrar em busca de melhores condições de sobrevivência face à falta de respostas das autoridades locais. Perante esta realidade, a FoA aponta a necessidade de o Governo declarar o estado de emergência, de forma a direccionar mais acções e apoios para aquelas populações e evitar que mais vidas humanas e animais se percam.

MPLA discorda da sugestão

Em declarações a OPAÍS, Albino Carlos, porta-voz do MPLA, disse que o relatório da FoA enquadra-se no âmbito do exercício de liberdade de expressão que a Constituição da República consagra, pelo que se deve respeitar, apesar de não concordar. Segundo Albino Carlos, o MPLA respeita a posição dos cidadãos e das organizações da sociedade, mas não compactua com certas posições.

Explicou que o Governo tem vindo a desenvolver uma série de acções com vista a minimizar o impacto da seca no seio das populações afectadas, o que torna dispensável a declaração eventual do estado de emergência, como sugere a FoA. A fonte entende ser necessário que a sociedade ajude o Governo na implementação das acções em curso e evitar agudizar mais ainda a situação que por si só já representa um desafio muito grande para o país, devido ao impacto que a seca está a causar no seio das populações do Sul.

UNITA alinha com FoA

Já o secretário para os Assuntos Eleitorais da UNITA, Victorino Nhany, o seu partido está a alinhado com a sugestão da declaração de estado de emergência no Sul do país, a julgar pelos enormes estragos que o fenómeno seca está a causar. De acordo com o político, muitas vidas se perdem, “outras de zenas andam de um lado para outro” em busca de um mínimo para sobreviver, deixando o Sul cada vez mais fragilizado, situação que considera ser preocupante e que carece de medidas urgentes. “A deslocação das pessoas de uma região para outra é extremamente preocupante. As pessoas não têm água, não têm comida e nem o mínimo para sobreviver. É uma situação de extrema dificuldade. Por isso, entendemos que o Governo precisa de declarar o estado de emergência”, defendeu.

Apesar de a seca ser um fenómeno natural e cíclico, Victorino Nhany, ele que é engenheiro agrónomo de profissão, disse ser possível reduzir o seu impacto com medidas e acções sérias, com o aumento do valor do Orçamento Geral do Estado (OGE) para o sector da agricultura. Nhany fala, também, da necessidade de fiscalização das acções e dos valores cabimentados para o Sul do país, de forma a combater a seca, como é o caso dos 200 milhões de dólares que, recentemente, foram aprovados pelo Presidente da República, João Lourenço, para solucionar os problemas estruturais ligados aos efeitos destrutivos da seca na província do Cunene.

“Estado de emergência” para o país todo Deputado da Assembleia Nacional pelo círculo provincial do Zaire, Makuta Nkondo vai mais longe e advoga a necessidade de o Governo declarar o estado de emergência para todo o país. Em causa está a extrema pobreza que a grande maioria das populações enfrenta, embora reconheça o elevado “sufoco” e especificidade que o Sul está a viver.

De acordo com Makuta Nkondo, se por um lado o Sul está a ser devastado pela seca, por outro, o país todo está a ser asfixiado pela falta de comida e de medicamentos, situação que tem feito com que muitas crianças morram de fome e de doenças evitáveis. Para o deputado, é chegado o momento de o Governo declarar o estado de emergência porque a situação que o país vive é de extrema pobreza. “Não é apenas o Sul, o país todo está a viver momentos difíceis. As pessoas não estão a comer. Até nós, os deputados, estamos a sentir o que realmente as famílias vivem. O preço da comida sobe todos os dias e os cidadãos não têm dinheiro para sobrevir. É momento de declarar o estado de emergência”, concluiu.