Rocha ‘duro de ruir’

Rocha ‘duro de ruir’

Rocha ‘duro de O bairro rocha Pinto, na cidade capital, tem sido palco, nos últimos tempos, de situações tumultuosas. Só no presente ano, a Polícia foi chamada a intervir em três situações do género. A população do rocha, de modo geral, reclama da delinquência e mostra-se insegura, por um lado. Por outro, a Polícia, em determinadas áreas não é bem vista, por causa dos “exageros” na sua actuação, o que acabou vitimando dois cidadãos. Eis a dureza do rocha

Por:Romão Brandão

A construção desordenada é uma das principais características do Rocha Pinto, com mais becos que ruas com capacidade de criação em duas faixas de rodagem. A forma apertada como foram construídas as casas, no bairro que pertence ao Distrito Urbano da Maianga, mostra claramente a facilidade que os meliantes têm de se colocar em fuga. É preciso ter redobrada a atenção para reportar o Rocha e não perder de vista a principal via, a Avenida 21 de Janeiro, por ser o local escolhido pelos moradores para os motins.

Quando se revoltam, e porque já houve três situações do género, os moradores colocam pneus em chamas, contentores de lixo e atiram pedras, paus e ferros na estrada. O Rocha Pinto tornou-se uma “dor-de-cabeça” para a Polícia, um bairro “duro de ruir”, porque volta e meia a corporação é chamada para apaziguar um tumulto, quando esta mesma Polícia não é acusada de ser a causadora de tal situação. Doroteia Uzitika perdeu o marido, João Paulo Mutala, de 56 anos, com quem vivia há 5 anos, como resultado de um disparo de arma de fogo que acredita ter sido feito pela Polícia.

Para ela, a história de que o seu esposo terá sido morto por um disparo feito por um dos grupos rivais do bairro, que estavam em rixa, não é verdadeira. Às 22 horas, de Sábado, 16, o dia da morte de João, havia uma festa próximo do local, na zona do Apetece. Os jovens da festa desentenderam- se e a Polícia, que fazia patrulha na zona, ao aperceber-se da situação fez dois disparos, tendo um deles atingido João Paulo Mutala, na região do tórax, segundo Juliana Maria, a jovem que viu a vítima a cair perto da sua bancada. Depois de se aperceberem de que um cidadão estava estatelado, não prestaram o devido socorro, pensando que aquele indivíduo estava apenas tendo um ataque.

“Pegaram no carro e foram-se embora. É mentira que o grupo de jovens tinha pistola, eles apenas tinham pedras e paus”, disse ela. Mataram um pastor que deixa viúva e dois filhos João Paulo Mutala era pastor da igreja “O caminho em Angola”, batalhava para sustentar a sua mulher e dois filhos com a venda a grosso de produtos como rebuçados, sambapito, bolachas e outros tipos de doces aos cantineiros do Rocha. A vizinhança está revoltada com o facto de estarem a circular informações de que João era bandido, o que não é verdade, como defende, Maria Senga, outra vizinha.

Enquanto conversávamos com a dona Maria, a equipa de OPAÍS foi cercada por um grupo de moradores dispostos a desmentir a versão da Polícia que dá conta de que João Paulo Mutala perdeu a vida com disparo de arma de fogo de um dos grupos de marginais do bairro Rocha, durante uma rixa. Pong Ladi é uma das senhoras que clama por justiça pela morte do vizinho e pede que a sociedade ajude Doroteia (a viúva), porque na casa arrendada onde vivia com João têm dívida de seis meses, e ela não tem emprego ou algum negócio. “A Polícia, se não tivesse exagerado ele não teria morrido.

Agora quem vai sustentar a família? Isso de que os jovens estragaram carros não houve nada disso, só queimaram pneus aqui neste lado. Não sei no outro lado da estrada”, sublinhou. O lado em que Pong Ladi vive é da estrada de serviço, sítio onde se registou apenas queima de pneus como jeito de manifestação e revolta pela morte do vizinho. Entretanto, não soube dizer se na estrada principal da Avª 21 de Janeiro houve outra manifestação em que partiram os vidros de carros que por ali passavam. Não é a primeira história de morte cuja culpa recai para a actuação da Polícia, no Rocha Pinto, uma vez que ainda neste ano moradores daquele bairro presenciaram um disparo que vitimou a jovem Juliana Cafrique, vendedora ambulante.

Essa situação criou revolta na população que, com pedras, ferros e paus partiu contra os agentes e os automobilistas que por ali circulavam. “Eles é que estão a provocar esta toda revolta, agindo mal com a população. Eles têm de aceitar o que fizeram. A Polícia é quem fez tiro. Nós perdemos um senhor educado, um pai de família e a população só fez aquela confusão por culpa da Polícia”, disse, Isabel Garcia, que pedia, para além de justiça, ajuda para enterrar João Paulo, já que a família não tem dinheiro.