A história de um angolano desaparecido há 20 anos na África do Sul

A história de um angolano desaparecido há 20 anos na África do Sul

O desaparecimento forçado tem sido frequentemente utilizado como estratégia para espalhar o terror no seio da sociedade. Entretanto, muitas das vítimas não aparecem e a angústia toma conta do seio familiar, segundo os interlocutores.

O Jornal OPAÍS conta a história de um jovem desaparecido há 20 anos, desde que foi sequestrado na terra de Mandela. O cidadão angolano desapareceu misteriosamente na África do Sul. Há muito tempo que as pessoas mais próximas perderam o seu rasto e as autoridades do país não sabem de concreto onde o mesmo se encontra.

De acordo com os familiares e amigos, Fernando Miranda foi sequestrado numa das ruas da cidade de Joanesburgo, há exactamente 20 anos. Até ao momento, segundo ainda os seus parentes, não há rastos, nem indícios sobre as principais razões que levaram ao sequestro e consequente desaparecimento de Fernando, na altura estudante. Em declarações a OPAÍS, João Gonçalves, antigo colega de Fernando, que presenciou o acto, disse que estavam a caminho de casa, no regresso da universidade, e foram surpreendidos por duas viaturas de cor preta.

Da viatura saíram dois jovens armados que apontando a arma na cabeça de João, ordenaram ao colega que corresse sem olhar atrás. “Ainda retruquei à ordem dada pelos sequestradores, tentando convencê-los a desistir do acto, porém, eles agarraram o Nando, forçaram-no a entrar na viatura e aceleraram feito loucos”, contou. Os parentes descartam a possibilidade de Fernando ter estado metido em alguma gangue, tráfi co de droga, ou em outro caso. Mais, 20 depois, o jovem da Matala continua desaparecido e as razões que motivaram o sequestro ainda é um mistério. Desaparecida desde a guerra A família de Massango Massoxi, de 30 anos, já viveu esta angústia que os parentes de Fernando.

Foi há 25 anos, quando a sua irmã de 10 anos desapareceu durante a guerra civil. Até hoje não foi encontrada. De acordo com o jovem, por mais que as pessoas não acreditem que existem desaparecimentos misteriosos, há casos de indivíduos que desapareceram e até hoje não foram encontrados, como o da sua irmã. “Apesar de ser criança, na altura, a minha família viveu momentos difíceis, porque é um facto que ninguém queria acreditar, uma vez que não houve um corpo para ser enterrado. Quando se trata de morte, os familiares, depois do enterro, tentam seguir com as suas vidas da melhor forma possível, lidando sempre com a dor da perda, mas quando se passa anos sem saber o que aconteceu à pessoa desaparecida, o sofrimento não passa”, afirmou. O sofrimento persiste quando não sabemos se a esperança do reencontro deve ou não ser alimentada, além de existir a angústia de continuar as buscas, por uma pessoa que pode estar morta.