Deficiência não pode servir de pretexto para não alcançar objectivos

Deficiência não pode servir de pretexto para não alcançar objectivos

O Anfiteatro do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto acolheu o primeiro EMIS, um encontro que trouxe um ciclo de palestras de carácter motivacional com o objectivo de promover a inclusão social e motivar as pessoas a superar as suas dificuldades pessoais e profissionais. Sob o lema “a melhor versão de si”, Micael Daniel foi convidado a prelectar no encontro, no qual reconheceu que existem na nossa sociedade ainda há muitas barreiras comportamentais e infra-estruturais que as pessoas com deficiência devem estar dispostas a ultrapassar.

Para chegar onde chegou, ao cargo de director nacional da Inclusão de pessoas com deficiência, Micael Daniel teve de passar por várias barreiras, pois conta que, “enquanto estudante de Direito da Universidade Agostinho Neto, a primeira barreira foi a arquitectónica, uma situação que me deixou desconfortável, como cadeirante, mas, independentemente disso, nada me impediu de realizar o meu sonho, que era o de tornar- me jurista”.

Os colegas, pacientemente, carregavam- no até ao segundo andar, subindo e descendo as escadas, para que assistisse às aulas. Houve professores que lhe disseram que, por causa da sua deficiência, não seria possível ser advogado, porque, segundo eles, o advogado está sempre na correria para resolver os processos. “Dentro de mim, se o advogado para exercer a sua profissão com zelo e dedicação basta que tenha as faculdades mentais em condições, o que tem a ver a deficiência com isso? Todos devemos contornar os obstáculos, a deficiência não nos deve servir de pretexto para não alcançarmos os nossos objectivos. A deficiência é uma condição e não um estado da pessoa”, disse. Micael Daniel lembra que, quando começou o estágio como advogado, notava que havia um certo receio, por parte dos patrões, de lhe delegarem tarefas, devido à sua condição física. Sempre defendeu que está ciente das dificuldades arquitetónicas e que estava disposto a ultrapassá-las.

Ir à luta independente da deficiência

Por não querer ser um advogado invisível, e sim trabalhar nos tribunais, Micael conseguiu conquistar o seu espaço e esteve a trabalhar no Tribunal Dona Ana Joaquina, onde reivindicou várias vezes a falta de acessibilidade, a publicações, a vídeos e às redes sociais.

“Durante muito tempo, a sociedade disse para nós que as pessoas com deficiência não prestam, não servem, o que tem feito com que muitos se retraiam. Por outra, algumas pessoas com deficiência procuram vitimizar-se, quando podem usar isso como trampolim”, sublinhou Micael Daniel. Em jeito de remate, o director nacional disse que todas as pessoas com deficiência devem interiorizar que independentemente disso, são cidadãos, têm direitos e condições de dar resposta às situações, sem que os outros tenham pena. “Devem ir à luta, independentemente da deficiência”, incentivou. Nesta primeira edição, o EMIS contou com oradores e músicos como Miguel Buila e Socorro, a Miss Cadeirante, Victória José, o activista Kelson António, o líder associativo Miguel Matos, para além do advogado e activista Micael Daniel. Miguel Matos, que também faz parte da organização, fez um balanço positivo, em entrevista ao Jornal OPAÍS, uma vez que participaram no evento mais de 200 pessoas. Dada a forma como o público encarou o evento, a ANEUD pensa, no próximo ano, transportar a mesma dinâmica às outras províncias para além de Luanda. Além da exposição de obras dearte feitas por pessoas com deficiência, o evento ofereceu ao público um momento cultural, com música, teatro, poesia e sorteio de livros.