Empresário apresenta ‘Gira Angola’ para ajudar a diminuir desemprego

Empresário apresenta ‘Gira Angola’ para ajudar a diminuir desemprego

o dia 24 de Agosto, algumas dezenas ou centenas de jovens saíram à rua nas províncias de Luanda, Benguela, Uíge, Cuanza-Norte e Lunda- Norte para exigirem o cumprimento de uma das mais importantes promessas feitas pelo então candidato do MPLA à presidência, João Lourenço. Doze dias depois, na Sexta-feira, 6 de Setembro, milhares de jovens dirigiram-se ao Centro de Conferência de Belas, na capital do país, sedentos por conseguirem um posto de trabalho e contrariar, assim, as altas taxas de desemprego que continuam a assombrar o reinado do actual Presidente da República, que nos próximos dias completa dois anos desde que se instalou no Palácio da Cidade Alta.

Apesar deste tempo, não existem estatísticas fiáveis sobre os 500 mil postos de trabalho que prometera. E a juventude promete cobrar novamente. Inconformado com o nível de desemprego, o jovem empresário Bruno Pegado, o mesmo que pretende instalar em Angola uma fábrica de automóveis com o seu nome (ver caixa)- diz ter apresentado ao Executivo uma proposta que poderá ajudar a contrariar as estatísticas actuais quanto ao desemprego, no âmbito do Plano de Acção para a Promoção da Empregabilidade. Inspirado por alguns modelos existentes noutros países a nível dos serviços de táxis e apoio à logística em várias áreas de actividade económica, Pegado apresentou às autoridades o ‘Giraangola’. Através dos modelos de carros montados pela sua empresa, o jovem empresário acredita poder revolucionar o serviço de táxis convencionais com mais de 60 mil postos de emprego em vários pontos do país, caso as autoridades ajudem a implementação do projecto, que será apresentado em Luanda no próximo dia 25 do corrente mês. “Com as dificuldades que estamos a passar, acreditamos que o Gira Angola pode ganhar vida por meios próprios. É um projecto de impacto directo na economia das famílias. Com a nossa iniciativa elas poderão ver o retorno e sentir que a vida está a mudar’, contou o empresário.

Ao contrário das concessionárias que se apresentam no mercado angolano como representantes de marcas estrangeiras, o jovem empresário assegura que a introdução no projecto de viaturas da marca Pegado funcionaria como uma mais-valia. Serviria para o estabelecimento de preços mais acessíveis aos jovens que aderissem ao Gira Angola, tanto no serviço de táxi como na logística. Para assegurar o pleno funcionamento do projecto e o retorno financeiro dos que aderissem através dos bancos para conseguirem uma viatura, Bruno Pegado desenvolveu, com experts israelitas e indianos, o Sistema Electrónico de Transportes e Engenharia (SETE). “Teremos controlo sobre o programa. Nada vai ficar no informal.

Vamos assegurar que o Estado poderá arrecadar as taxas e emolumentos a partir do próprio SETE, através das viaturas que estarão em circulação”, explicou Pegado, acrescentando que as pessoas poderão “ir ao banco e aderir ao programa, caso seja aprovado o Gira Angola. Com o nosso programa de controlo e gestão conseguiremos assegurar que o dinheiro vai entrar no banco”. Informações avançadas recentemente por membros do próprio Executivo indicavam que o sector do táxi informal representa um negócio de mil milhões de dólares que o Estado não recebe.

O empresário acredita que com o seu projecto, inserido no Programa de Aceleração do Crescimento, conseguem ter um maior controlo e fazer com que muitos dos investidores deste sector adiram ao sector formal. Entre as inovações que dizem conseguir através do SETE estão o controlo da gestão financeira, o pagamento por cartão, gestão e controlo do combustível e até mesmo contratos com as empresas de seguros para que os motoristas ou investidores não se furtem. “Tudo isso pode ser feito numa viatura de 5 milhões e 500 mil Kwanzas.

No final de cada 24 meses o dinheiro que o Estado ou o banco investir num jovem pode servir de suporte para um outro interessado”, revelou, exemplificando que cidades como Nova York recebem do serviço de táxis um grande contributo para o seu orçamento. Pegado acredita num retorno de investimentos no caso do serviço de táxi num prazo entre 24 e 48 meses, para cada uma das viaturas que a sua empresa disponibilizar.

“As administrações querem só dinheiro do Estado, mas é preciso que se comece a pensar que táxi não é só para centros urbanos. O país todo precisa de táxis. Acredito que só a cidade de Luanda precisa neste momento de 20 mil táxis, o que poderia gerar 40 mil postos de trabalho, isto se um carro, por exemplo, trabalhar durante o dia com duas pessoas”, exemplificou.

Logística e outros sectores

As suas preocupações vão mais além, sobretudo no que diz respeito ao sector da logística, que, para o jovem empresário, não tem estado nas prioridades do Executivo, como se pode observar a partir dos programas que foram apresentados. “Queremos também apresentar soluções para o campo, turismo, lazer, saúde e até Educação. Como é que os camponeses vão transportar os seus produtos para vender nas grandes cidades?”, questiona Bruno Pegado. Através de um kit direcciona

do para o segmento da logística e transportes, com carrinhas a cerca de 11 milhões de Kwanzas, o Gira Angola também tenciona retirar alguns camponeses e outros trabalhadores do campo para o sector formal, afastando-se as constantes queixas de falta de meios para se transportar os produtos do campo. “O agricultor pode vender os seus produtos no sítio que melhor lhe convém. Vai, vende e faz a sua vida. As pessoas, fazendo a economia formal vão contribuir para o desenvolvimento do país”, realçou. Um dos seus propósitos é ajudar também os professores a terem meios para se locomoverem, porque “sabemos que muitos não se deslocam aos seus postos de trabalho por falta de transporte”.

Mas isso, segundo ele, passa por acertos com o Ministério da Educação e parceiros. “Temos que saber valorizar o capital intelectual e visionário do empreendedor local, porque ninguém conhece melhor os cantos da casa do que o seu morador”, disse, rematando que “temos muitas soluções internas para serem exploradas e potenciadas que, garantidamente, trarão mais dignidade ao cidadão angolano, maior inclusão social, maior valorização do nosso Kwanza e, por consequência, um melhor ambiente de negócios interno. Valorizem e dêem alguma oportunidade potencializando as nossas iniciativas e verão os resultados. Tudo o que têm que fazer é seguir e fiscalizarem-nos’.

Garantias travam implementação de fábrica de automóveis

Sete meses depois de ter apresentado ao público, em Luanda, a sua marca de carros e agendado o início de comercialização das mesmas, Bruno Pegado conta que a falta de fi nanciamento tem inviabilizado a vinda dos meios a Angola. Os meios encontram-se neste momento na China, onde são produzidos.

Acreditando que se o Executivo angolano quisesse, a marca Pegado estaria longe, o jovem empresário conta que neste momento existem 15 países africanos que manifestaram o desejo de representar os seus automóveis. “Nós queremos produzir para o mercado angolano, mas já há países que pretendem representar a nossa marca. Nós também podemos contribuir para a entrada de divisas e, ao contrário das outras empresas, os nossos lucros vão ficar em Angola”, disse.

Apesar da desistência de uma forte instituição financeira por falta de uma garantia soberana do Estado angolano, outras três instituições financeiras, uma das quais alemã, ainda acreditam nas potencialidades deste jovem que ambiciona instalar a fábrica de automóveis Pegado na província do Cuanza-Sul. “Tudo o que tenho conseguido é a partir de fora. Os financiamentos para as peças, o acesso às fábricas foi tudo concedido lá fora. São coisas que não consigo compreender, porque no meu próprio país tudo é bloqueado”, lamentou.