Camacupa clama pelo “estatuto” de Centro de Angola

Camacupa clama pelo “estatuto” de Centro de Angola

Se fosse bem anunciada, essa posição atrairia turistas e levaria o município a ser mais bem conhecido, segundo os dirigentes da localidade

Por:Alberto Bambi

O vice-administrador para área Financeira do município de Camacupa, Alberto Chinjumbia Avelino, manifestou, recentemente, a OPAÍS, o seu descontentamento pelo facto de a informação sobre o verdadeiro centro de Angola estar a ser passada a favor do município-sede da província do Bié. “Quando se veicula, até pelos órgãos de comunicação social, que o Bié é o centro do país, ao mesmo tempo está-se a passar a mensagem segundo a qual é o Cuito que possui esta categoria, porque a preocupação que terão os turistas, viajantes, estudantes e o público em geral, interessados em conhecer o núcleo do dessa bela terra, é estar na capital da província”, argumentou o dirigente.

Para ele, é urgente que as pessoas saibam e conheçam o seu município e principalmente o chamado Centro Geodésico de Angola, que, por sinal, é um largo estruturado, desde o tempo colonial, que marca o Ponto 0 deste país. “Nessa altura decorrem as obras de restauração do referido centro. Estamos a melhorar o muro do plano circular que o circunda e a aperfeiçoar a pintura, de modo que os pontos cardeais Norte, Sul, Este e Oeste, neles traçados, sejam bastante visíveis”, detalhou.

De acordo com o responsável, o lugar é contado, no contexto do plano de arrecadação de prestígio e receitas para a municipalidade, uma vez que constitui um palco de atracção turística, que, por si só, serve de chamariz e de atenção de qualquer visitante. Para constatar tal situação, a equipa de reportagem deste Jornal marcou presença no Centro Geodésico de Angola, onde, na verdade, encontrou os construtores em actividades. Neste espaço, destaca-se a figura de Jesus Cristo, ao centro do Centro, com os braços abertos, segundo eles, em sinal de acolhimento de quem chega. Outra referência que não passa despercebida é o letreiro feito em cada uma das quatros direcções dos pontos cardeais.

Obras na estrada requerem-se

Embora de forma anónima, os pedreiros, maioritariamente jovens entre 25 e 35 anos, asseguraram que, quando estiver concluída a obra, o local voltará a ser o destino de muitos indivíduos, sobretudo dos populares de outros municípios da província. “Reconhecemos que muita gente não conhece aqui, mas que também não se publica muito sobre o centro e era bom que isso acontecesse, a ver se esta estrada fosse já asfaltada”, disseram, referindo-se ao troço que liga Camacupa-Catabola-Cuito.

Esses interlocutores de OPAÍS foram ainda astutos em considerar que as instâncias superiores da província se mostram indiferentes no que toca à promulgação do que consideram tão importante sítio de Angola, porque lhes seria cobrado o dever de asfaltar o troço. “Se os turistas conhecerem aqui, vão-nos ajudar a exigir o Governo do Bié a reabilitar imediatamente essa estrada”, reforçaram os trabalhadores, tendo informado que, pelo que sabiam, esta mesma via já tinha sido orçamentada para restauro, mas nunca foi asfaltada Eles adiantaram que o município de Camacupa é muito rico em sítios e em produção, pois o Centro Geodésico de Angola, não era a única atracção.

Potência em arroz e mel

Foi assim que o vice-administrador para a esfera Económica e Financeira classificou, ao ponto de dizer que o seu município é o maior produtor de arroz e mel no país. “Temos aqui na comuna de Ringoma a maior fazenda de produção de arroz. Não temos concorrência neste capítulo, nem mesmo da vizinha província do Moxico”, descartou, asseverando que, a par da circunscrição concorrente, aí só falhavam as possibilidades de descasque e escoamento. A habitante que se identificou apenas por Jamba contou que, por não haver manobra de descasque, o arroz é consumido pela população tal como é colhido. “Nós comemo-lo mesmo com casca, ou acastanhado, porque não temos como descascálo”, realçou a professora, tendo adiantado que um saco de 18 quilogramas do produto em causa custa quatro mil e 500 Kwanzas. Aos comerciantes forasteiros, às vezes, é vendido um pouco mais, mas não excede os seis mil, de acordo com a professora Jamba. Por sua vez, Joaquim Wanga Marcelino falou sobre o mel, que é outro recurso com produção considerável na comuna de Umpulo.

Relativamente ao uso e comercialização deste produto, declarou que o mesmo é mais adquirido pelos comerciantes que optam por vendê-lo nas regiões mais a Norte do país, como são os casos de Luanda, Malanje, Uíge e Zaire, além de Cabinda. O morador não deixou de falar sobre os atrativos culturais da localidade, onde ressalta o grupo carnavalesco que, segundo avançou, vence sempre o concurso do ciclo provincial.

“De tanto serem esperadas as suas exibições no palco provincial, nós damos o tónico de no desfile entrarem em cena dirigentes de proa afectos à Administração Municipal e outros funcionários públicos referenciados localmente”, disse Joaquim Wanga.

Curva do Cuanza

A ponte sobre o maior rio do país, o Cuanza, costuma a ser o outro ponto turístico que os habitantes de Camacupa fazem questão de mostrar aos forasteiros. Embora, para eles, seja inevitável misturar as potencialidades geo-turísticas que a corrente fluvial apresenta com os tormentos vividos durante a guerra civil, é a considerada curva do Cuanza que mais soa da boca dos guias voluntários na região que também ganhou a designação de Cuanza. A vila dista mais de 10 quilómetros da sede do município e tem a agricultura e a pesca como as actividades que se destacam.