Art Comes First ou o espírito do dandy moderno

Por:Ricardo Vita

Falemos da arte de criar uma moda edifi cante e mais diversa com o colectivo Art Comes First, já que a Paris Fashion Week começa na Segunda-feira. Pois, Paco Rabanne no seu tempo, Yves Saint- Laurent depois, Jean-Paul Gaultier desde o início e John Galliano até à sua triste queda, na Dior, provocada naquela noite de bebedeira naquele café à beira da estrada em Paris, já rimavam alta-costura com diversidade. Quarenta anos depois, uma nova onda de génios vai além e quebra a uniformidade que estilistas como Karl Lagerfeld, na Chanel, tentaram impor. E entre esses génios estão os dois fundadores – e um é Angolano – do fascinante colectivo Art Comes First, um dos projectos artísticos mais interessantes e criativos dos últimos dez anos. Eles são admirados por outros génios, como Kanye West, Pharrell Williams, Will.i.am, Raphael Saadiq, Mos Def, Ozwald Boateng e são trend-setters (criadores de tendências) com quem tudo se faz na rima e poesia. Mas eles são, sobretudo, da geração daqueles que só dançam quando gostam da música e não quando são convidados a dançar. Para o estilismo masculino, eles criam o elo entre passado, presente e futuro a fi m de dar lugar a uma moda mais diversifi cada. A sua tesoura icónica viajante delineia os contornos da tradição e herança e o fi o da agulha revela o presente que prediz o futuro. Os fatos da Art Comes First são criados a partir das técnicas históricas dos míticos alfaiates de Savile Row, a famosa rua de Mayfair em Londres, e são feitos com cortes e acabamentos contemporâneos. Os casacos, as jaquetas e as botas, bem como as meias de seda ou algodão; às quais a queda das calças deve deixar uma aparente gradapo a procurar peças raras nas lojas vintage de Londres. E quando se conheceram, o seu interesse comum no estilo, na tradição e cultura naturalmente levou-os a começar juntos a viagem infi nita pelo mundo. Emigraram primeiro para a Suécia, para continuar a sua viagem que ainda dura. Eles não vivem para viajar, viajam para viver, porque perceberam que a viagem torna modesto e permite ver melhor o pequeno lugar que ocupamos no mundo. Sam e Shaka sabem viajar em lugares que fazem a alma crescer, é a fonte da sua inspiração. Como o escritor francês Guy de Maupassant, entenderam ção, permitem que cores e detalhes se harmonizem impecavelmente. Para completar as suas colecções, outros génios convidados do colectivo participam na elaboração das peças necessárias: os chapéus, Super Duper Hats, são desenhados por Matteo Gioli ou por Liam Maher, para os modelos em brim, os óculos são inspirados pelos do jazzista Th elonius Monk em colaboração com Aroun Ducroix, as camisas e gravatas têm a assinatura de Sebastian Dollinger e uma mala de viagem foi pensada por T. Michael. Art Comes First é uma forma de expressão abrangente, a sigla ACF refere-se a qualquer esforço realizado no sentido artístico. Por exemplo, exprimem-se pela fotografi a através da Aperture Camera Flash, fazem as colaborações com outros artistas sob o nome de Alchemy Creative Family e o design sob o de Always Cut First e assim por diante. Em resumo, Art Comes First é uma agência de estilo que aborda artisticamente o design, a fotografi a e praticamente tudo o que toca. E com as três letras, ACF, defi ne-se um carácter, um espírito, uma cultura. O colectivo foi iniciado em 2008 por Sam Lambert e Shaka Maidoh, com a intenção de criar e ser capaz de inspirar outras pessoas através das suas criações como eles próprios foram inspirados pela história do artesanato. Sam nasceu em Angola e partiu do país há 30 anos, mas Angola nunca saiu dele, e Shaka é de origem ganense e nasceu em Londres. O pai de Sam foi alfaiate e a sua mãe foi uma comerciante que viajava por toda parte, recebeu deles o gosto pela moda e viagem. O pai de Shaka foi um dandy de bom gosto e a sua mãe enfermeira, ele também recebeu deles o gosto por roupas e pelas pessoas. Antes de se conhecerem, cada um no seu lado já tinha paixão pelo estilo e passava tempo a procurar peças raras nas lojas vintage de Londres. E quando se conheceram, o seu interesse comum no estilo, na tradição e cultura naturalmente levou-os a começar juntos a viagem infi nita pelo mundo. Emigraram primeiro para a Suécia, para continuar a sua viagem que ainda dura. Eles não vivem para viajar, viajam para viver, porque perceberam que a viagem torna modesto e permite ver melhor o pequeno lugar que ocupamos no mundo. Sam e Shaka sabem viajar em lugares que fazem a alma crescer, é a fonte da sua inspiração. Como o escritor francês Guy de Maupassant, entenderam que viajar é uma espécie de porta através da qual se deixa a realidade para se penetrar numa outra realidade inexplorada similar a um sonho. É esse sonho que eles querem tornar realidade ao aproximar os seres humanos uns dos outros através da sua arte. Aliás terminaram esta semana uma viagem enriquecedora em Marraquexe para começar uma outra, neste momento, em terras subsarianas a fi m de continuar a conviver com outros irmãos com quem também crescem, partilhando e trocando na simplicidade e generosidade. Fazem o mesmo na Ásia. Fazem o mesmo na América do Sul. Fazem o mesmo na América do Norte. Tudo na alteridade. Vão ao encontro do Outro, essa parte de si mesmos, não importa se são ícones em Copenhague, Dakar, Joanesburgo, Londres, Los Angeles, Nova Iorque, Paris, Estocolmo, Tóquio. A colecção que apresentaram para Primavera/Verão de 2019 chamava- se Surf Africa, foi inspirada das viagens que fi zeram em Dakar e Acra. A intenção era dizer que também se faz surfe em África. A colecção Outono/Inverno de 2019, que chamaram « Electric Church », retraça um encontro entre um motociclista e um Tuaregue. E não podiam só explorar culturas sem explorar a suas músicas e danças. Sam e Shaka têm uma relação especial com a música, e é por isso que também são DJs. Eles exploram culturas musicais da mesma maneira que exploram as culturas que descobrem pelo mundo e que exprimem na moda e fotografi a. No fundo, seguir o espírito de Art Comes First é ser um gentleman moderno que sabe de onde vem e para onde vai. É também tomar chá, usar gravata e apreciar arte. É viajar pelo mundo, porque ele é um livro e quem não viaja lê apenas uma página. É viver em toda parte e em nenhuma ao mesmo tempo. É ser um cigano. Porque todos os povos têm o seu charme e cada aldeia tem a sua beleza. Sam e Shaka decidiram explorar o mundo a fi m de exprimi-lo nas suas artes. Art Comes First é um conceito feliz que transmite autenticidade, singularidade e nobreza. É um estilo de vida boémio e moderno, ancorada na tradição e na abertura à descoberta. Sam e Shaka sopram esse espírito em todas as suas criações e colaborações. É o seu fôlego que instalou e revolucionou a famosa marca Th e Kooples, que Sam dirigiu. É esse fôlego que participa há muitos anos no sucesso das colecções do gigante Ozwald Boateng, e para quem Sam coordenou em Março último o lançamento da linha feminina que teve lugar no lendário Apollo Th eatre em Harlem, Nova Iorque, no âmbito da celebração do centenário do Harlem Renaissance. Trouxeram o mesmo fôlego nas colaborações com artistas como Andersson Paak, G-easy, Saul Williams, Hypnotic Brass Ensemble, Th e Selecter, Th e Specials. Foi ainda com o mesmo espírito que incitaram designers a reduzir o impacto da sua produção no meio ambiente quando colaboraram com a marca Calik Denim. Em suma, a fi losofi a de Art Comes First incentiva o crescimento espiritual, desperta emoções positivas, sentimentos nobres e o ideal de solidariedade. Art Comes First interpela o nosso modo de vida e inspira cada um de nós a melhorar continuamente, porque a vida é arte.