“Angola não tem condições de privatizar empresas via Bolsa”

“Angola não tem condições de privatizar empresas via Bolsa”

O Presidente João Lourenço faz no dia 26, dois anos de mandato. Que balanço fazer, num período marcado pelo aumento de 8,8% de desemprego?

Quando um país está a fazer reforma estrutural, o primeiro efeito é sempre o desemprego, porque tem que arrumar a bagunça. A característica de uma reforma estrutural consiste em tornar os menos produtivos em mais produtivos. Não é o nosso caso, porque até os produtivos estão a ir para o desemprego. E mais: num processo de reforma os preços, geralmente, não aumentam, porque ajusta-se a procura que subiu de forma artificial.

E como o Investimento externo se comporta num mercado em reforma?

O Investimento directo estrangeiro vai a países em que há divisas e que do ponto de vista de atitude e obsessão ao trabalho é alto. Enquanto a máquina não entra em funcionamento, o investidor estrangeiro não vem devido a cautelas. Há boas intenções, mas muitos estão à espera do comportamento das reformas.

O BNA anuncia abertura parcial da conta capital, no âmbito dos esforços de atracção investimento. Isso ajuda?

O alerta do Banco Mundial e do FMI é que a conta de capital seja totalmente aberta, para atrair investimento directo estrangeiro na economia. Era fundamental piscar o olho aos investidores com essa medida. Enquanto isso, o banco central continuará a ser o ditador do mercado, porque essa abertura parcial já existia no passado. Mas o problema não está apenas na abertura, está também na ausência de divisas para repatriar. O outro aspecto negativo é que o governador do banco central continua a participar no Conselho de Ministros. Acho que não faz sentido.

Porquê?

O BNA já precisava de mais independência. Isso significa que o governador também é um ministro.

Espera-se que o Plano de acção para a Promoção da Empregabilidade venha a gerar 250 mil empregos. Qual é sua opinião?

Enquanto economista liberal, não acredito que um programa crie emprego. Os empregos são criados de forma espontânea, em função dos empreendedores, que surgem também de forma espontânea, ou por oportunidade ou por necessidade.

O PAPE visa financiar empreendedores!

Quem financia os empreendedores devem ser os bancos. Esse dinheiro vai sair dos impostos, que devia ser canalizado para a saúde e para a educação. Se o Estado deixar de ir tirar dinheiros dos bancos, estes vão se voltar para o sector produtivo. Vamos olhar para os critérios de acesso: os interessados vão inscrever-se por via de uma página web e lhes será atribuída uma carteira profissional. Os empreendimentos de baixo risco deviam ser livres dessa burocracia. Se continuarmos a pressionar os investidores com impostos e burocracia, não chagamos lá.

Bancos listados para privatização devem estar registados na BODIVA, segundo Patrício Vilar, um dos responsáveis do processo. Como entender isso, tendo em conta que a BODIVA também será privatizada?

Reitero que a Bolsa de Valores devia ser privatizada muito antes desse processo. Quem comprar a Bolsa também terá o seu próprio interesse, vai alterar algumas normas e taxas. Haverá aqui um conflito de interesses. Angola não tem condições de privatizar empresas via Bolsa, porque do ponto de vista de lisura, sendo a Bolsa parte do processo, detém a vice-coordenação, haverá um conflito de interesses. Não soa bem aos ouvidos do investidor.

Existe a possibilidade de os trabalhadores comprarem 20% do capital das empresas a privatizar. Qual é a sua opinião?

É um acto político. Isso soa bem. Privatização num país onde tudo é Estado é impopular, porque o povo está habituado a trabalhar no Estado.

Para minimizar os nervos, disponibiliza 20%. Quem tem possibilidade, entre os trabalhadores, de comprar essas acções?

Quem comprar empresas em Angola a primeira medida será o de reduzir custo, que passa pela redução da mãode- obra. Os melhores vão ficar, para ajustar os custos de produção. Essa medida de dar 20% aos trabalhadores também pode afugentar investidores.