Consumado

Consumado

Depois de “marimbondos”, o novo apelido daqueles de quem o Presidente da República não gosta por lhe estarem a estorvar o caminho é o de “avarentos”. Fez-me lembrar uma canção de Zeca Afonso, numa passagem, o refrão, em que diz “eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”. O título original da canção é “Vampiros”. Não tarda, João Lourenço vai também chamálhes vampiros. Mas eles quem? Aí está a maka, o Presidente ainda não tratou por “tu” os nomes dos seus “inimigos” de estimação, vulgo “não deu o nome aos bois”. Mas já abriu um pouco a cortina, são do MPLA, fi cou dito ontem, ainda que João Lourenço duvide que o sejam mesmo. Então, fi ca claro que a luta contra a corrupção, os ataques ao Presidente, é tudo assunto interno do MPLA. Melhor explicando, estamos todos a sofrer consequências do bilo interno do MPLA. Entre os que roubaram e os que não roubaram, embora fi que difícil saber quem é quem, porque não se assume claramente o indicar de dedos. “Estado de guerra” consumado. Ou o Presidente está mesmo confi ante de que o MPLA é o povo, ou este discurso, mais de ruptura, expõe em demasia o partido, numa altura em que o povo tem fome, quer “sangue” e tem eleições à espreita. Uma visitação ao fervor e aos guilhotinamentos por altura da Revolução Francesa, quando se instaurou a República, pode fazer bem ao MPLA, levando-o a perceber como é insaciável a sede do povo por sangue de culpados e como este povo depois se farta do sangue e quer justiça. As posições vão-se extremando, o que é normal num processo de transição em que vários interesses são postos em causa, mas está na hora de o MPLA se sentar e encontrar consensos, senão o país vai pagar um preço alto.