Especialista defende que 90% das mortes por suicídio podem ser evitadas

Especialista defende que 90% das mortes por suicídio podem ser evitadas

Em sete províncias onde está implementado o programa de saúde mental registou-se de 2016 a 2019 a afluência de 85 mil e 742 pessoas, que buscaram os serviços da rede integrada de saúde. A lista é liderada pelos transtornos de humor, com destaque para a depressão, ansiedade, transtornos por abuso de substâncias psico-activas e a esquizofrenia , seguidos das alterações neuróticas, stress e somatomorfos.

Em representação da ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, Eusébio Manuel, que falava no acto de abertura do evento, explicou que o comportamento suicida, que começa por ideias, planificações tentativas de suicídio e vai até ao suicídio consumado, tem afectado um número alarmante de pessoas em todo o mundo e passou a ser considerado um problema de saúde pública.

A conduta suicida leva ao surgimento de muitos outros problemas com repercussão na diminuição da qualidade de vida das pessoas, pelos sentimentos de medo, insegurança, desespero e alienação, frequentemente relacionados com o surgimento de quadros psicopatológicos. Massoxi Vigário, coordenadora Nacional do Programa de Saúde Mental, revelou que existe uma relação total em pensar saúde mental com a promoção da vida. Lamenta o facto de haver províncias com apenas um médico em cada região, o que não corresponde à demanda que se tem registado. De acordo com a especialista em saúde mental, nem todo o caso de suicídio é declarado pela família ou pela comunidade.

Existem comunidades que registam em menos de um ano três mortes por suicídio e assim se protegem, por isso, o registo de 2500 mortes por suicídios a nível nacional em cinco anos não é real, segundo a especialista. Disse que o sistema de tratamento de dados em diferentes serviços encarregues de registar estas ocorrências não é eficaz, pelo que há números que ficam sempre de fora. Assim, a cifra actual pode ser multiplicada por dois, três ou mesmo quatro. O Programa Nacional de Saúde mental fez recentemente sete anos e debate-se com o défice de  recursos humanos, que tem sido a grande barreira para que mais pessoas possam aceder ao serviço, mas por agora consideram terem tido uma boa-nova porque, no último concurso público, aumentou- se o número de psicólogos clínicos no projecto. O Ministério da Saúde de Angola, através do Progama de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, juntamente com a Direcção Nacional da Acçaõ Social e Escolar do Ministério da Educação, realizaram a “VII Conferência sobre a Problemática do Suicídio em Angola”, com o objectivo de juntos prevenirem o suicídio. De modo a se poder dar uma resposta integral e voltada para a saúde mental das pessoas em risco, e assim poder salvar mais vidas, esta é uma oportunidade para todos os sectores da sociedade se juntarem e chamar a atenção para as necessidades que afectam as pessoas em risco de suicídio, tentativa de suicídio, sobreviventes e pessoas enlutadas por suicídio.

“Todo o doente mental deve ser acolhido”

A coordenadora nacional do Programa de Saúde Mental, Massoxi Vigário, defende que para além de se capacitar os profi ssionais de saúde mental, há a necessidade de munir todos os trabalhadores do sector da Saúde.

Qualquer técnico que lide com a pessoa humana deve estar munido de instrumentos que lhe facilite identificar sinais suspeitos.

Depois da conferência, a notificação de registo de casos ou comportamentos de suicídio será obrigatória, assim como a consumação. Isso vai permitir que todos os técnicos que trabalham nos bancos de urgência ou noutros sectores consigam dar resposta adequada e multi-sectorial. Isso implica uma capacitação, segundo aquela responsável, com objectivos de conhecer os sinais e o profissional, ao interagir com o cidadão, na comunidade ou numa unidade hospitalar, deva dar um atendimento mais integrado ao paciente, pensando que se trata de uma pessoa em risco, que pode suicidar-se.

Quanto às estratégias para combater mortes por suicídio, apenas este ano o projecto começou a trabalhar na saúde mental e no sector de tóxico-dependentes. Segundo a coordenadora, estes planos vão dar resposta às situações de suicídio, violência urbana ou doméstica, entre outras. Por seu turno, Fernanda Alves, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que o suicídio pode afectar todo o tipo de pessoa e em qualquer lugar.

Sendo que, contrariamente ao que as pessoas pensam, o suicídio não é um desafio unicamente dos países desenvolvidos, em função da nossa realidade, que aponta para 80% dos suicídios que ocorreram em países de baixa, e média renda. Por tal facto, a OMS apela aos países a reforçarem os sistemas de Saúde Mental e de cuidados em todos os contextos, assim como identificar o risco de suicídio o mais cedo possível, a fim de prestar apoio atempado. Deste modo, os países podem reduzir signifi cativamente o número de casos de suicídio e salvar milhares de vidas.

A conferência visou ainda promover a compreensão sobre o suicídio, aumentar a conscientização sobre os riscos do suicídio e das tentativas de suicídio para a saúde pública, bem como apelar para que a prevenção do suicídio seja uma prioridade na agenda política nacional.