Lourenço foi “na Cuemba”

Lourenço foi “na Cuemba”

João Lourenço acaba de derrubar mais um símbolo mau, foi ao Cuemba. “Abriu” a vila aos angolanos, e colocou uma ponte no imaginário popular para o futuro, para a realidade de paz e para uma Angola sem medo. Até há pouco mais de uma década, Cuemba tinha um lugar muito particular na psique social masculina angolana, era Cuemba e KK (Kuando Kubango), duas expressões, dois nomes, duas localidades que signifi cavam medo, heroísmo, sofrimento, morte. Mas era preciso “ir na Cuemba” para se ir ao KK, para se ser para lá enviado. Cuemba era tropa, serviço militar obrigatório para maiores de 18 anos, mas que muitas vezes, demasiadas vezes absorveu crianças, em nome de uma Angola que é o que vemos agora. O cuemba era um homem fardado, armado, com autoridade. Era um homem temperado pelo fogo. Não era qualquer um que sobrevivia naquela zona, era o marco divisório entre duas angolas, dois mundos, duas ideologias, o nosso farrapo da cortina de ferro que dividia o mundo em socialista e capitalista. João Lourenço foi ontem “na Cuemba”, a sua Cuemba enquanto Presidente da República, num Estado atolado em dívidas, pouco produtivo, com muita gente a querer ralhar. Simbolicamente, depois do discurso sobre quem lhe quer sabotar o caminho, no congresso da JMPLA, Lourenço começou, no interior perdido, uma guerra contra as assimetrias. É a única batalha que o pode conduzir a um país feliz. Bem, com dois anos de “recruta”, está melhor preparado do que os jovens que chegavam ao Cuemba para se enfrentarem, para se matarem, quase sem treino. Lourenço é militar, que a sua liderança honre todo aquele sangue, para que tenha valido a pena, apesar de tudo.