“Colocar pessoas na Polícia por dinheiro é um crime grave”

“A Elizandra usou o meu nome para receber dinheiro das pessoas e as colocar na Polícia. Ela dizia que eu era seu pai”, disse, na audiência de julgamento, o comissário Francisco Massota. Com estas declarações, abre-se uma série de interrogações porque o réu, durante as outras audiências declarou muita coisa ao contrário.

O Tribunal Supremo Militar, na sala de julgamento do Instituto Superior de Ciências Policiais e Criminais “Osvaldo Serra Van- Dúnem”, retomou ontem o julgamento, com a audiência reservada para a acareação, que praticamente alguns dos advogados acharam repetitiva e uma autêntica perda de tempo.

Francisco Massota, o principal acusado, Elizandra Tomás, Márcia Crispim, Belchior Venda, Veloso Moisés e Elsa Maria foram postos frente-a-frente para os “últimos detalhes”, antes das alegações finais e leitura do acórdão.

Massota disse não ser verdade que tenha sido sua a iniciativa de procurar pessoas para colocar na Polícia, por considerar isso “um crime grave”. “Para colocar 100 pessoas na Polícia Nacional, tal como estão aqui a dizer, tinha de ser por orientação do Comandante- Geral, uma vez que não tenho competência para tal”.

O réu disse isso porque a co-ré, Elizandra Tomás o aponta como quem teve a iniciativa, tendo-a chamado ao seu gabinete, tão logo ela terminou o curso na escola de Polícia, para que arranjasse pelo menos 100 pessoas q com vontade de entrar na Polícia. Massota disse em tribunal que não se pode confiar nas palavras “de alguém que em 92 estava a nascer e descredibilizar a de alguém com 60 anos e que nessa altura já estava nas forças policiais”.

Voltou a frisar que não fez este tipo de pedido a Elizandra, pois foi ela quem o surpreendeu no seu gabinete. Entretanto, as outras rés, como Márcia Crispim, por exemplo, voltaram a apontar Massota como o cabeça da burla aos cidadãos que queriam entrar na Polícia.

Márcia disse que, para além dos 900 mil Kwanzas, recebeu mais 230 mil que entregou logo ao comissário. Massota, evidentemente, negou tais acusações e apontou o dedo à Márcia e Elizandra como as burladoras. Tanto uma quanto a outra disseram que só obedeceram às ordens do seu superior (neste caso o comissário).

“Ninguém se orgulha de ter um pai assim”

De lembrar que foi a ré Elizandra quem denunciou as “falcatruas do comissário Massota” e esta, por ter sido a pessoa que recebia o dinheiro e os documentos, teve a imagem manchada e várias vezes foi ameaçada. A ré teve que devolver um total de oito milhões e 400 mil para ver-se livre das constantes confusões que faziam em sua casa.

“Nunca o considerei como pai, aliás, ninguém se orgulharia de ter um pai como ele. É mentira, quando o comissário diz que usei o seu nome para atrair pessoas para a Polícia. O comissário só devolveu 300 mil, de uma pessoa, e eu é que tive de devolver todo aquele dinheiro porque era muita confusão que faziam em minha casa, para além das ameaças”, disse a ré.

Desde o começo do julgamento, fala-se em 30 milhões de Kwanzas que a co-ré Elizandra Tomás terá dado ao comissário Massota para integrar nas fileiras da Polícia Nacional um total de 100 pessoas. Pelo facto de muitos não estarem a ver o enquadramento, e dado o tempo de espera, sentiram-se burlados e a pressão fez com que o caso fosse parar ao tribunal. Em audiências anteriores, ouviu-se uma gravação em que Massota pediu a Elizandra que tivesse calma, pois, apesar de ela ter sido vista como a burladora, por ser ela quem dava a cara, ele resolveria o problema. Resolveria se Elizandra não o queixasse na PGR, porque Massota disse: “se eu for preso ou despromovido não poderei pagar nada”. Disse ainda não poder ser visto como gatuno. Massota disse que recebeu um envelope de Elizandra, contendo 900 mil Kz e outro de Márcia, contendo o mesmo valor, com objectivo de arranjar tais vagas. Reconheceu que a voz que aparece na gravação é a dele, mas que a conversa que manteve com a co-ré

Elizandra não foi assim tão longa: “foi montada no computador, mas a voz é minha”, reforça. Entretanto, na acareação, o principal réu contradiz-se e nega quase todas as acusações que pesam sobre si.