Angolanos vibram com recepção do grupo de repercussão brasileiro feminino

Angolanos vibram com recepção do grupo de repercussão brasileiro feminino

A caravana de cidadãos angolanos que efectua intercâmbio cultural no Estado de São Paulo através do Projecto Raízes, vibrou com a recepção estrondosa do grupo feminino de repercussão, o Ilú Obá de Min, Sábado, 9, após a realização dos ensaios.

A formação, composta por mais de 600 mulheres, depois da realização dos experimentes em mais de uma hora, colocou os angolanos no centro, para assim apresentarem uma coreografia, envolvendo vários tipos de tambores, o diembé, instrumento africano, e outros, que deixaram os angolanos eufóricos.
Sob o comando de duas senhoras chefes de orquestra, eram combinados os movimentos ao som dos diversos instrumentos, que provocavam uma harmonia sonora peculiar e movimentos dançantes, em que os cidadãos angolanos se identificaram. Neste trabalho, realizado há 15 anos, o objectivo é de empoderar as mulheres, através dos tambores, tido como um instrumento de repercussão e comunicação.

A fundadora e regente do grupo, Elisabeth, que enalteceu a presença dos angolanos nestes ensaios, contou que na primeira apresentação do colectivo, em 2005, abordaram aspectos da vida e feitos de Njinga Mbandi. Durante o processo, foi destacado o seu contributo em prol da luta contra a colonização do país, com o exército que liderava “Para uma apresentação do género é preciso pesquisar.

Por exemplo, sobre essa actividade, pouco sabíamos sobre essa rainha e tivemos que ir à busca de conhecimentos para melhor abordar o tema”, aferiu. Nesta acção, foi igualmente abordado o processo de independência do país.

A responsável explicou que os temas implementados pelo grupo têm como objectivo contar e recontar a história das mulheres negras, e dos homens negros, vistos por um olhar feminino. “Depois do primeiro tema, muitas pessoas de várias universidades quiseram saber da existência desta rainha negra. Até mesmo os afroAntónia Gonçalo, enviada a São Paulo, Brasil
descendentes desconheciam a sua existência.

A nossa história no Brasil começa do navio negreiro para cá. Sabemos que temos império, rainhas e escravidão”, enfatizou.

Colonização

A coordenadora do grupo realçou que o processo de escravatura no Brasil e no mundo, tinha sido apenas uma questão económica, por ter observado que os colonizadores usaram trunfos tecnológicos e os seus conhecimentos, para explorar o continente africano. Lembrou que, em consequência desse processo, cidadãos da cultura Bantu do país, foram levados para o Estado de Minas Gerais, por serem os melhores em mineiros, e outros na Baia, para trabalhar a terra.

“O que aconteceu no Brasil é que todos ficaram ricos, e nós não. Muitos ainda não aceitam a questão da negritude, e nem terra temos. Por isso, realizamos essa manifestação cultural feminina, onde em cada ano abordamos um tema”, notou. Entre os assuntos abordados, consta ainda os feitos da escritora, artista plástica e coreógrafa, Raquel Trindade, o poeta, actor e pintor brasileiro.

Solano Trindade ,e a cantora Elsa Soares. Sobre os Movimentos Negros Unificados, que no ano em curso completou 40 anos, deu a conhecer que em 1978, as comunidades negras se reuniram-se em frente do Teatro Municipal de São Paulo, onde reivindicaram os seus direitos, através de um movimento político de intelectuais, figurassociais e da cultura.

De modo a dar continuidade, este ano foram igualmente reivindicados os direitos dos afro-descendentes, com um cenário idêntico ao anterior. Reclamaram contra os temas que deviam ser abordados nas universidades, mas não fazem parte das lições ministradas. “Mesmo depois de 40 anos ainda falta muito para os nossos direitos serem reconhecidos. Estamos a avançar, mas não como gostaríamos.

Ainda bem que herdamos a arte, porque somos uma população alegre. Temos os nossos ancestrais, o que, até certo ponto, intimida os demais cidadãos brasileiros”, opinou.

Projecto

Quanto à apresentação seguinte, avançou que será homenageada Lia de Itamaracá, afro-descendente, que completará 76 anos de idade. A contemplada é tida como rainha da Ciranda, um estilo dançante praticado pelos cidadãos da urbe. O grupo é composto por várias frentes, desde a corte, perna de pau, cantoria, dança e percussão.