Inquérito a Trump chega à 2.ª fase e em directo nas Televisões

Inquérito a Trump chega à 2.ª fase e em directo nas Televisões

emibaixador William Taylor e o vice-secretário adjunto George Kent são as primeiras pessoas a testemunhar em sessão pública sobre o inquérito de destituição de Donald Trump que está a ser levado a cabo por duas comissões da Câmara dos Representantes. Na véspera, o democrata responsável pela comissão de Serviços Secretos, Adam Schiff, divulgou pormenores sobre os procedimentos desta nova fase do inquérito.

Os democratas podem chamar testemunhas adicionais. Os republicanos também têm direito a fazê-lo, mas os democratas podem vetar os nomes. Foi o que aconteceu à solicitação de se ouvir o denunciante ou de ouvir o filho do ex-vice-presidente Joe Biden. Schiff não quer que as audiências se tornem numa retaliação contra o denunciante que “corajosa e legitimamente” levantou o caso, nem para promover “investigações fictícias aos Bidens ou sobre teorias da consprotecção piração desmentidas” sobre interferência eleitoral da Ucrânia nas eleições de 2016. Donald Trump está sob ameaça de ser destituído de funções porque pediu ao homólogo da Ucrânia que investigasse um dos seus rivais políticos. Num telefonema efectuado a 25 de Julho, o presidente norteamericano pediu a Volodymyr Zelensky para “investigar” o ex-vice- presidente Joe Biden, cujo filho Hunter fez parte da administração da empresa ucraniana de energia Burisma.

O presidente garante que não exerceu “nenhuma pressão” sobre Kiev e que o telefonema foi “perfeito”. É mais uma vez vítima da “maior caça às bruxas da história”, diz. Já em Outubro, Trump escreveu no Twitter que tinha “o direito absoluto, talvez até o dever, de investigar ou ver investigada a corrupção, o que inclui pedir ou sugerir a que outros países ajudem”. Mas a oposição democrata tem outra ideia do que aconteceu e reuniu testemunhos que corroboram a sua versão. Trump, alegam, abusou do poder ao pedir ajuda a uma potência estrangeira para fins pessoais, uma vez que Joe Biden é um possível concorrente nas eleições presidenciais de 2020. Em troca, 400 milhões de dólares em ajuda militar seriam desbloqueados e Zelensky iria ser recebido na Casa Branca.

O telefonema entre Trump e Zelensky alarmou alguns funcionários da Casa Branca e os serviços de informações. Seis deles expressaram as suas preocupações a um agente da CIA. Este decidiu activar no dia 12 de Agosto o mecanismo de consprotecção ao denunciante para informar o Congresso sobre o conteúdo desta conversa e para implicar o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, e o procurador-geral William Barr no caso. Apesar dos obstáculos levantados pela Casa Branca, o relatório chegou aos congressistas em meados de Setembro. Dias depois, a Casa Branca publicou uma versão não completa do diálogo. É indesmentível que Trump pediu ao homólogo para investigar Joe Biden. A Câmara dos Representantes, nas mãos dos democratas, começou a investigar o caso e, em seis semanas, ouviu uma dúzia de testemunhas à porta fechada.

Estas descreveram os esforços desenvolvidos ao longo de meses por membros do círculo do presidente para convencer Kiev a fornecer informações comprometedoras sobre Joe Biden, fora dos canais diplomáticos oficiais americanos. Um deles é Mick Mulvaney, chefe de gabinete de Donald Trump, que em conferência de imprensa reconheceu que a assistência militar à Ucrânia tinha sido congelada a pedido do presidente e ligada a motivos políticos dos EUA, o famoso quid pro quo “que está sempre a acontecer”, de que Trump é acusado. Mais tarde, Mulvaney deu o dito por não dito. Entretanto, a Casa Branca ordenou aos membros da administração para não cooperarem com a investigação da Câmara, denunciando um procedimento “sem fundamento constitucional legítimo ou a menor aparência de imparcialidade”, como escreveu o advogado e conselheiro da Casa Branca, Pat Cipollone.

Altos funcionários, incluindo Mick Mulvaney, recusaram-se a responder às intimações do Congresso, o que pode levar a outra acusação de destituição por “obstrução ao trabalho do Congresso”. Cipollone e Mulvaney, escreve o The Washington Post, não se entendem em relação à estratégia de defesa do presidente, o que leva os senadores republicanos – que até agora não deram mostras de se juntar aos democratas – a preocupar-se com a falta de preparação da Casa Branca para o julgamento que irá ocorrer no Senado caso a Câmara dos Representantes aprove, como é de esperar, as acusações.

“Antes que se dê por isso o julgamento do impeachment vai começar e eles não estão remotamente preparados”, disse um assistente do partido no Senado ao The WashingtonPost. O diplomata em Kiev William Taylor foi nomeado encarregado de negócios em Kiev quando o escândalo já estava em andamento, pelo que não estava junto do presidente aquando do telefonema nem participou em encontros onde pressões fossem exercidas. No entanto, soube tudo por fontes privilegiadas, funcionários da Casa Branca ou da segurança nacional, por exemplo. Uma troca de sms ocorrida no início de Setembro entre Taylor e o embaixador dos EUA na UE, Gordon Sondland, demonstra o que pensa sobre o assunto: “Acho que é uma loucura suspender a ajuda de segurança a troco de ajuda numa campanha política”, escreveu. Entretanto, na sua audiência privada e entretanto tornada pública, Taylor confirma que os ucranianos sabiam o que precisavam de fazer para obterem o que queriam.

“Penso que estava a ficar claro para os ucranianos que, para conseguirem esta reunião que queriam [na Casa Branca com Trump], teriam de se comprometer a prosseguir estas investigações”, disse este diplomata de carreira. No entanto, Taylor não ligou os pontos, tendo apontado o dedo a Rudy Giuliani, e excluído Trump. Os democratas esperam que o embaixador, nesta nova sessão, desenvolva um argumento mais comprometedor para com o presidente. A outra testemunha do dia, com menor peso, é George Kent. Para o homem que preside a comissão dos Serviços Secretos, Adam Schidr