Luta contra seca “começa” hoje no Cunene

Luta contra seca “começa” hoje no Cunene

O lançamento da primeira pedra e o acto de consignação para a edificação de projectos estruturantes para combater a seca na província do Cunene têm lugar nesta Sexta-feira (15), na localidade de Cufo

Por: Cláudio Neto (Angop)

Com o acto de consignação a ser orientado pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, darse- á início à construção de uma central de captação de água no rio Cunene, do sistema de bombagem e da conduta a partir de Cafu até Cuamato. O projecto permitirá a transferência de água a partir do rio Cunene, na localidade de Cafu, para a zona da Shana, entre as localidades de Cuamato e Namacunde. A construção de duas barragens – de Calucuve e Ndúe -, avaliada em USD 200 milhões cujo financiamento foi aprovado pelo Presidente da República, João Lourenço, em Abril deste ano, faz igualmente parte do programa.

Mais de 800 mil pessoas na expectativa As mais de 800 mil pessoas actualmente afectadas pela seca severa na província do Cunene (Sul de Angola) depositam esperanças no projecto de construção das barragens e de transvase (sistema de transferência de água). Como sinal de partida, o Executivo definiu, numa primeira fase, a construção do sistema de transferência de água do rio Cunene para o Cuamato e Namacunde.

Contará com uma estação de bombagem de 2 mil metros cúbicos por segundo, uma conduta de 57 quilómetros e 10 chimpacas (reservatório tradicional de água nas zonas rurais). A barragem do Calucuve terá 19 metros de altura, mil e 829 de comprimento e 100 de largura nas secções superior e inferior, com uma capacidade de armazenamento de 100 milhões de metros cúbicos de água, a partir da Bacia do Cuvelai. O seu canal adutor, revestido de betão, por gravidade, a partir do curso natural do Rio Cuvelai, possuirá 111 quilómetros e uma área irrigável de 2.600 hectares/ ano, que beneficiará mais de 80 mil pessoas e 182 mil cabeças de gado.

Por seu turno, a barragem do Ndúe, a ser construída no município do Cuanhama, contará com 26 metros de altura, mil 288 de comprimento e um volume de armazenamento de 145 milhões de metros cúbicos de água, a partir do Rio Cuando. Incluirá 15 chimpacas e um canal adutor associado de 75 quilómetros, beneficiando 55 mil pessoas, 600 mil cabeças de gado e um campo agrícola de nove mil e 200 hectares, nas localidades de Luapua, Londe e Embundo. Uma vez concluídas essas obras, a população do Cunene, que, desde Outubro de 2018, vive a dura realidade da falta de água e alimentos, por não haver chuva, terá a situação melhorada e retomará a sua actividade agro-pecuária, a mais praticada naquela região.

A seca no Cunene

A seca severa no Cunene é um fenómeno cíclico, que remonta a 1995 e, desde aquele ano, a cada cinco anos, vai ressurgindo com intervalos de períodos de cheias. Com efeito, registou- se seca em 2008, 2011 e 2017, desalojando mais de 400 famílias, actualmente realojadas nos barros de Cashila III e Ekuma Nahuma, arredores de Ondjiva. A seca deste ano é a mais devastadora dos últimos 24 anos da história do Cunene. Desde o tempo colonial que o problema da seca no Cunene é recorrente. É um fenómeno que tem a ver com a proximidade dos desertos do Namibe (Sudoeste de Angola) e do Kalahari (República da Namíbia).A influência do microclima faz com que o Cunene tenha seca, por ausência de chuvas durante muito tempo, ou cheias resultantes de grandes precipitações. Um autêntico paradoxo.

As consequências da seca Ao cabo de 12 meses de estiagem (desde Outubro de 2018), o fenómeno atingiu severamente 880 mil e 172 pessoas e mais de um milhão de cabeças de gado bovino e caprino, matando 30 mil bovinos. Pelo menos 99 mil camponeses ficaram sem colheitas nos 205 mil hectares preparados para a campanha agrícola 2018/2019. No domínio educacional, foram prejudicadas 413 escolas e pelo menos 900 alunos desistiram das aulas para acompanhar os pais na transumância, comprometendo em 30 por cento o aproveitamento escolar no meio rural.

Governo actua

Atento ao agravamento da situação, o Executivo gizou, de imediato, o Plano de Emergência de combate à fome e à seca no Cunene, o que permitiu recuperar 107 furos de água, dos 171 ao nível dos seis municípios da província. De igual modo, adquiriu 30 camiões, dos quais 26 cisternas e quatro de carga sólida, 20 tractores, bem como 450 reservatórios de 10 e cinco metros cúbicos, distribuídos pelas 20 comunas dos seis municípios.

Sob supervisão do Chefe de Estado angolano, que autorizou a alocação de 3.9 mil milhões de Kwanzas para a primeira fase desse programa, o Governo do Cunene propõese também desassorear 54 das 190 chimpacas, para o abeberamento do gado, sobretudo. Quanto à assistência alimentar, a par da solidariedade vinda dos vários sectores da sociedade, o Executivo gizou um plano de abastecimento de bens alimentares à população, viabilizando, actualmente, a chegada ao Cunene de mais de 300 toneladas de bens diversos.

O que se promete, realiza-se

Sendo a seca um fenómeno natural e, por isso, inevitável, a solução encontrada pelo Executivo angolano para mitigar os seus efeitos foi desencadear acções acertadas e concretas, para proporcionar à população as condições para a sua sobrevivência, podendo desenvolver a agropecuária. Assim, as duas barragens e um transvase (sistema de transferência de água) a serem construídos renovam a esperança da população local, que augura melhorias no fornecimento de água às zonas rurais, onde a seca se faz sentir com maior intensidade, e, com isso, haverá pasto e alimentos, porquanto os campos irão produzir sem constrangimentos