“safem-se”!

“safem-se”!

Não o disseram com estas palavras, mas também não é difícil espremer tudo o que disseram e o que não disseram para obtermos isto mesmo: “safem-se”. De repente, as vítimas de assaltos afinal são as culpadas, por andarem com dinheiro, já só falta serem culpadas por terem saído de casa, só que neste país, como se sabe, isso nem é preciso, há relatos de assaltos, violações e mortes no interior de residências todos os dias.

Depois, ainda há o silêncio governamental, um comentário que fosse, presidencial ou de um seu auxiliar, já seria reconfortante. O que não deve acontecer é o cidadão estar permanentemente à mercê de criminosos, mas o cidadão tem o direito de andar com o seu dinheiro. O que não pode acontecer é estar a instalar-se o ódio aos funcionários bancários.

O que não pode acontecer é a sociedade perceber que não existe um plano de cobertura territorial da Polícia, o que permite que se mate em plena luz do dia num “bairro-quartel” como o Alvalade, ocupado pelos dirigentes do país após a saída dos portugueses. Aquilo está apinhado de guardas.

O que não pode acontecer é a sociedade perceber que a Polícia não tem capacidade de resposta para reagir a crimes cometidos em hora de ponta nas ruas da baixa de Luanda.

O que não pode acontecer é o cidadão ouvir que apesar de pagar os salários da Polícia com os seus impostos, afinal, a Polícia o culpa se for assaltado e morto por algo que lhe pertence. É o fim, salve-se quem puder. O que não pode acontecer é o medo que se instalou enquanto bandidos matam várias pessoas ao dia, todos os dias.