“Vida e Obra de Ernesto Lara filho” levada a debate na Maka à 4ª Feira da UE

“Vida e Obra de Ernesto Lara filho” levada a debate na Maka à 4ª Feira da UE

Conhecido como um dos maiores cronistas da história do jornalismo angolano, Ernesto Pires Barreto de Lara Filho nasceu a 2 de Novembro de 1932, na província de Benguela, e morreu a 7 de Fevereiro de 1977, na província do Huambo, num acidente de viação. Completaria este mês, 87 anos.

Augusto Nunes

A “Vida e Obra do escritor e jornalista angolano Ernesto Lara Filho” será o tema da Maka à Quarta-feira, 20 de Novembro, a decorrer no auditório da União dos Escritores Angolanos, em Luanda, informou esta Sengunda-feira a organização. O evento, cujo tema será desenvolvido por Arlindo Leitão, seu contemporâneo e Pedro de Alburquerque, filho da irmã Alda Lara, contará igualmente com a presença da docente universitária, Domingas Monte, que, por sua vez, fará leituras de excertos de textos do autor.

O debate que juntará famliares, escritores, amigos e contemporâneos do escriba, estudantes de literatura e história, jornalistas, políticos e diplomatas, visa homenagear o aniversário natalício do autor de “Picada de Marimbondo”, a 2 de Novembro de 1932, em Benguela. Além da prelecção, testemunhos de parentes e confrades, trova e declamação de poemas farão parte da reverência.

O homenageado

Poeta angolano, Ernesto Pires Barreto de Lara Filho, nasceu a 2 de Novembro de 1932, na província de Benguela, e era irmão da escritora Alda Lara. Depois de concluir o ensino secundário, escolheu Portugal para continuar a sua formação académica, tendo terminado, em 1952, o Curso de Regente Agrícola, na Escola Nacional de Agricultura de Coimbra. Deambulando por vários países da Europa, trabalhou muitas vezes em restaurantes e na construção civil, como operário, para fazer face às dificuldades económicas.

Depois de uma estadia mais prolongada por terras da costa oriental africana, em Moçambique, regressou a Angola. Fixando-se em Luanda, exerceu o jornalismo, paralelamente com a sua actividade de quadro especializado dos serviços de Agricultura e Florestas de Angola. Jornalista prestigiado, assinou diversas reportagens e crónicas no Jornal de Angola, na página “Artes e Letras” do Jornal A Província de Angola, no Diário de Luanda, no ABC, na revista Mensagem da CEI (Casa dos Estudantes do Império) e na revista Cultura(II).

Antes da independência

Antes da independência do país, Ernesto Lara Filho foi preso pela PIDE (Polícia Política de Intervenção do Estado) devido à sua actividade política e cultural de apoio ao movimento independentista, apoio esse bem patente na sua escrita jornalística e literária. Em colaboração com Rebello de Andrade dirigiu a Coleçcão Bailundo na qual foram publicados três livros de poesia. Tendo sido extinta pela mão repressiva do regime colonial a revista Mensagem (1951-1952), não foi destruído, contudo, o desejo de continuar a dar voz às manifestações de carácter nacionalista. Então fechadas as janelas abertas pelos “mensageiros” outras se abriram, de imediato, através da criação da revista Cultura II, publicada entre 1957 e 1961 da qual foram publicados 12 números.

Na verdade, esta geração, conhecida como a “Geração da Cultura”, vai retomar e aprofundar as temáticas empenhadas dos seus antecessores, continuando a denúncia da escravidão e da miséria. Integrado nesta corrente, Ernesto Lara Filho, como muitos outros intelectuais angolanos seus contemporâneos, vai constituir-se como um importante pilar na luta contra o domínio colonial.

Preocupado e empenhado com os problemas da sua terra, cada vez mais agudizados, o autor entende ser necessário criar as condições para que todos possam, através da palavra literária, do estudo, da análise e da crítica, equacionar a realidade angolana. Através de uma escrita eufemística e caracterizada por uma simbiose do português padrão e do português dos musseques, Ernesto Lara Filho foi construindo um edifício literário, assente nas   traves mestras da angolanidade, enquanto produto de uma cultura viva e que vive das tradições africanas.

Obras e reconhecimento

O reconhecimento da sua obra é consagrado pela presença de muitos dos seus textos em diversas antologias literárias, publicadas entre 1957 e 1976, entre as quais destacamos Antologia da Poesia Angolana (1957); O Corpo da Pátria – Antologia Poética da Guerra do Ultramar, 1961-1971 (1971) e No Reino de Caliban. Antologia Panorâmica da Poesia Africana de Expressão Portuguesa (1976). Poeta co-fundador da União dos Escritores Angolanos, escreveu os seguintes títulos: Picada de Marimbondo( 1961); O Canto de Matrindinde e Outros Poemas Feitos no Puto (1964); Seripipi na Gaiola( 1970); O Canto de Matrindinde (compilação das três obras anteriores, 1974). As suas crónicas jornalísticas foram compiladas em 1990 sob o título Crónicas da Roda Gigante. Um brutal acidente de viação, no Huambo, roubou-lhe a vida a 7 de Fevereiro de 1977.