Intercâmbio cultural marca presença de angolanos no Brasil

Intercâmbio cultural marca presença de angolanos no Brasil

O intercâmbio cultural realizado por angolanos no Estado de São Paulo, Brasil, ocorrido enAntónia Gonçalo, enviada a São Paulo, Brasil
tre os dias 2 e 16 deste mês, registou vários momentos de partilhas, cujo objectivo foi de estabelecer parcerias entre os artistas convidados por intermédio de oficinas culturais e palestras realizadas nos vários espaços de cultura, escolas públicas/privadas e universidades.

A acção desenvolvida através da parceria com o Colectivo Raízes permitiu visitar locais de apresentações como o Itaú Cultural, Avenida Paulista, Centro Cultural Arte em Construção, Fábrica de Cultura, Escola Municipal de Iniciação Artística, onde os artistas apresentaram as várias manifestações culturais. Foram desenvolvidas tertúlias sobre a dança Tchianda, de origem cultural Lunda Cokwé, a cerimónia da Mukanda (um rito de passagem masculina da adolescência à fase adulta) e apresentada a indumentária do Mensageiro, que é usada nas províncias da Lundas, Norte, Sul e do Moxico.

A Vila Nova Cachoeirinha, Centro de Referência da Dança e o Sindicato dos Bancários acolheram também várias actividades, como um encontro onde foram retratados, em grande parte, os acontecimentos militares e políticos ocorridos no país, assim como o contributo da música para a proclamação da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975.

Apresentações

Durante as apresentações, constatou-se que muitos cidadãos brasileiros, embora conhecessem Angola enquanto nação africana, pouco ou nada demonstravam saber sobre o potencial cultural deste belo e imenso país. Por essa razão, o interesse do público brasileiro foi mais suscitado, tendo em conta a adesão em relação aos temas abordados nesta plataforma de intercâmbio, visando a partilha e troca de experiências no domínio sócio-cultural e político do país.

O mentor do projecto Raízes, Isidro Sanene, referiu que o principal objectivo do intercâmbio foi o de promover e elevar a Cultura africana no Brasil, com apoios da Secretaria Municipal de São Paulo. Realçou que a iniciativa do colectivo surge para facilitar o acesso às expressões culturais dos países africanos e contribui para o resgate histórico e cultural do continente africano.

Por sua vez, a coreógrafa brasileira, Michelle da Lomba, agradeceu os momentos de entretenimento e de aprendizado, partilhados com os brasileiros. “Essa vivência superou as nossas expectativas. Acções como essas nos fazem conhecer, reconhecer e valorizar a formação identitária, a nossa cultura afro-brasileira, construir memórias sensíveis de alegria, de arte e de dança, assim como encontros para crianças, jovens e adultos que conheceram vocês”, referenciou.

Resultados

Como resultado desta parceria foram doados mais de 100 livros à associação angolana Globo Dikulu, para a criação de uma biblioteca comunitária no Anim’ Art, no Cazenga, à semelhança da experiência brasileira na região de Heliópolis, onde funcionam vários Centros Unificados de Educação (CEUs) e escolas públicas que implementam actividades extra-curriculares.

Outras acções

O programa reservou igualmente visitas aos CEU’s, biblioteca e rádio comunitários, União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS) em Heliópolis. O CEU da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), Cândida Dora Pinto Pretini e da professora Mara Cristina Tartaglia, Centro de Educação Infantil (CEI) do Parque Bristol, Secretaria Municipal de Educação com os Núcleos de Gestão da Academia Estudantil de Letras (AEL), e de Educação de Relação Étnico-Racial (NEER), o espaço Lélia Brano-Sindicato dos Bancários e participação num dos ensaios do bloco carnavalesco Ilú Oba de Min, também foram contemplados no programa de visitas da delegação angolana.

O intercâmbio permitiu fazer uma visita à memória histórica dos principais pontos de atracção turística da cidade, na qual os permutadores partilharam momentos únicos com a deslocação ao edifício Martinelli, Teatro Municipal, Estação da Luz, Pinacoteca, Parque Ibirapuera, Museu Afro-Brasil, 25 de Março, Praça das Artes, Catedral da Sé, Mercado Municipal e no Brás, onde existe a maior comunidade angolana a residir em São Paulo.

O intercâmbio

A ponte cultural e artística entre Angola e o Brasil tem sido fortificada devido à parceria entre as duas associações, de que resulta a vinda e ida de especialistas nos dois países. A última ligação aconteceu de Julho a Agosto, em Angola, quando 22 artistas brasileiros realizaram um ciclo de formação, acções sociais e actividades culturais nas províncias de Luanda, Bengo, Benguela e Huambo.

Para o presidente da Associação Globo Dikulo, Orlando Domingos, a parceria com o Colectivo Raízes tem sido muito frutífera. “Os artistas brasileiros deram uma ideia sobre como se pode analisar melhor uma sociedade em mudança, como a angolana, através das artes”, concluiu.